quarta-feira, dezembro 29, 2010

Bar de hotel

O bar do hotel era conhecido por ser um local de primeiros encontros. Não era nada de extraordinário, tinha aquilo que um bar de hotel era suposto ter. Os primeiros clientes começavam a chegar ao fim da tarde. Se a coisa corresse bem, o casal não precisava de procurar muito para passar a noite.
Reservei duas noites no hotel. Ontem foi véspera de Natal e passei-o sozinho no meu quarto Executive a ver canais para adultos. Aborreci-me de tanta carne e de tantos gemidos e comecei a fazer zapping. Parei num canal chinês e descobri que o mandarim tem um efeito relaxante em mim, principalmente quando é falado por mulheres pivot de pele reluzente. A minha mulher trabalha numa seguradora e deixou-me no último Verão. Levou o nosso filho com ela e está a viver em casa dos pais.

Hoje é a minha última noite. Para ser honesto, estou a gostar de estar sentado ao balcão deste bar, enquanto me vejo ao espelho a beber Jim Beam. O barman ainda não pegou ao serviço, quem me serviu foi um dos recepcionistas que está agora a atender um casal de idosos. O velhote parece-se um pouco com o Burt Lancaster nos últimos anos. É aquele tipo de pessoas que inclina o queixo para a frente e olha por debaixo dos óculos quando escuta alguém.
Quando cheguei, estava apenas um tipo no balcão. Andava na casa dos quarenta, usava blazer e calças de bombazine verdes e estava a beber uma água com gás. Não tenho paciência para meter conversa com estranhos, mas era Natal, estava cheio de fé e boa vontade nos homens e apetecia-me tagarelar um pouco. O sujeito pareceu-me inofensivo.
- Mais um Natal que passou, estamos quase no ano novo - disse estupidamente.
Ele virou a cabeça e sorriu.
- É verdade, o tempo voa. Quando damos por ela, já estamos ali como o casal de jovens que chegou agora.
Foi a minha vez de retribuir o sorriso.
- O importante é viver um dia de cada vez, não é assim? - eu estava verdadeiramente inspirado.
O sujeito estendeu o braço e ajeitou o banco.
- Chamo-me Orlando, muito gosto.
- Óscar C*. Os nossos nomes começam por "O". Não é muito comum.
Ele voltou a sorrir e acabou a água.
- Reparei que anda a água com gás, abusou das iguarias ontem à noite?
- Nem por isso. Estou um pouco nervoso. Estou à espera de uma pessoa.
- Ah, ok. Não...
O Blackberry que estava em cima do balcão começou a vibrar e apareceu "Julia" no ecrã azul.
- Com licença.
Ele pegou no pda e dirigiu-se para o lobby. Atendeu em voz baixa.
Comecei a tremer e bebi num trago o uísque que ainda tinha no copo. Não perdeu tempo a miserável, já anda à caça. Passei a mão pelo cabelo e corri para a casa de banho. Como é que é possível? Ela também conhece o hotel. De repente, tudo ficou vermelho, a roupa começou a fazer-me comichão. Dei o pontapé da praxe numa das portas do WC. Deveria ter subido para o meu quarto, que idiota. Olhei-me ao espelho e molhei a cara. Inspirei fundo. Isto é um sinal. É a prenda do menino Jesus, foste um bom rapaz ao longo do ano e agora aqui tens a tua recompensa. Tu mereceste. Resolvi sair e enfrentar aquilo, não podia ficar ali a vida toda, afinal até poderia ser outra Júlia, há muitas Júlias neste mundo. Abri a porta.

Ela estava de costas. O tipo desviou o olhar e acenei-lhe cordialmente com a cabeça. Dirigi-me para o elevador e premi no 5. Enquanto esperava, olhei para trás. Não era ela.
Entrei no elevador e deixei sair um traque de alívio ao som do Jingle Bells.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Um cântico de Natal para vocês.
(com a participação do próprio J.C., Chris Robinson, lá no meio)

sexta-feira, dezembro 17, 2010

segunda-feira, dezembro 13, 2010

O galo e a mulher


Ilustração de Miguel Moreira

A uma certa mulher do Vale das Vadias meteu-se-lhe-me-lhan-te ideia na cabeça que nada nem ninguém (nem mesmo o Primeiro-Ministro dissuasor da vizinha Crimeia) conseguia demovê-la-tu das suas graníticas ideias. A senhora

[Cai neve. Lá fora, dois homens de mãos nos bolsos dão pontapés nos bicos das botas para aquecerem os pés.]

que já tinha uma idadezinha desejou ter mais filho. Lembrou-se então que já não podia perfilhar, mas lembrou-se logo a seguir que quando era mais nova teve uma crise aguda de amenorreia e que a sua falecida mãe que se chamava Deusatenha lhe deu

[Neve. Homens nos bolsos dão botas para aquecerem os pés.]


arroz de cabidela durante uma semana e uma hora. Graças a este regime absolutista, ficou curada e teve uma carrada de filhos. Sorriu com a lembrança e resolveu seguir o conselho da sua mãe. No sábado, levantou-se de manhãzinha cedo e foi ao mercado comprar um galo. Aproveitou e comprou também um livrinho muito usado do Ambrósio Birça para ler antes de ir para a cama. Quando chegou a casa, instalou o galo bem

[Dois homens dão pontapés nos bicos.]

instalado na velha capoeira e esfregou as mãos não-de-contente, mas porque nevava e estava um frio de rachar a julgar pelos homens de mãos nos bolsos. Todos os dias a mulher dava milho ao galo. Um dia lembrou-se que seria bom ter leite nas mamas para amamentar o filho
que vinha a caminho. Antes de ler Ambrósio Birça, começou a dar leite de cabra ao galo, todas as noites. O galo cresceu, cresceu, cresceu até não caber mais na capoeira. A mulher apegou-se ao galozão e deixou de ter coragem para o matar. Encolheu os ombros e disse:

[Bicos]

- O filho terá de ficar para outra altura.

domingo, dezembro 12, 2010

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Violante (exercícios de estilo queneanos)

Subjectivo
Recordo-me bem da sra. Violante. Ela servia o melhor café da cidade. Era muito obsequiosa e usava catogan que lhe dava um ar mais novo. Isto a propósito de quê? Na semana passada, encontrei o sr. Urso que me disse ao ouvido que a sra. Violante tinha sido miss Suíça e que fora destronada porque foi apanhada na cama com a dama de honor num quarto do Ritz. O sr. Urso toca lira e orgulha-se de ser o cliente mais antigo do café-boutique onde ainda trabalha a sra. Violante. Não sei em que hei-de acreditar. Fala-se muito dos outros nesta cidade. Como se não bastasse, os colarinhos engomados do sr. Urso não me saem da cabeça. Como é que ele consegue?

Informativo
A sra. Violante é empregada de mesa no Grand Café. O sr. Urso conhece a sra. Violante. De acordo com as últimas declarações do sr. Urso, a sra Violante foi miss Suíça em 1947. O Sr. Urso toca lira nos tempos livres e frequenta o Grand Café desde 1951, o que o torna no terceiro cliente mais antigo deste famoso estabelecimento até à data.

Em duplicado
Recordo-me e lembro-me perfeitamente bem da sra. dona Violante. O melhor e o mais saboroso café da cidade e da urbe é servido e trazido pela sra. dona Violante. Ela, a senhora, era sempre e todos os dias muito amável e obsequiosa e usava e trazia um carrapito e um catogan que lhe dava e lhe conferia um ar mais jovem, mais novo. Na anterior e passada semana, deparei-me e encontrei o sr. dom Urso que me cochichou e segredou que a sra. Violante tinha ganho e vencido o concurso de miss Suíça Helvécia e que fora destituída e exonorada por ter sido apanhada e surpreendida na cama e no leito com a dama de honor e de honra num aposento e quarto do Ritz. As golas e os colarinhos engomados e com goma do sr. dom Urso intrigam-me e atiçam-me a curiosidade.

Litote
Ainda não me esqueci da sra. Violante. O café menos mau da cidade era servido por ela de uma forma muito pouco rude. A sra. Violante não dispensa o seu catogan que lhe dá um ar menos velho. Sem ser nesta semana, na outra, não evitei dar de caras com o sr. Urso que não se fez rogado e disse-me que a sra. Violante não perdeu o concurso de Miss Suíça quando resolveu concorrer. Não se coibiu de dizer ainda que ela não chegou a terminar o seu reinado, pois não conseguiu escapar a um episódio menos feliz que se passou no Ritz. Não consigo deixar de ficar deslumbrado com os colarinhos nada displicentes do sr. Urso.

Assombro
Ah a sra. Violante! Meu Deus, o café incrível que ela fazia e servia! Que maravilha de café! Já para não falar da sua simpatia! E o que dizer daquele catogan que a fazia mais menina e moça! E adivinhem lá quem é que encontrei a passear na baixa faz hoje uma semana?! Nada mais nada menos do que o sr. Urso! Que figura é este homem! Ah vocês nem imaginam o que me contou! Disse-me ao ouvido de que sra Violante já foi miss! Miss, vejam lá isto! E sabem o que ele me disse mais? Que ela foi apanhada na cama com outra mulher que era nem mais nem mais do que...a sua dama de honor! Quem diria hein? E logo no Ritz! No Ritz, senhores! Ah com o disse-que-disse que há nesta cidade já não sei em quem acreditar! Ah mas o homem sabe aprumar-se! Aqueles colarinhos! Oh minha santa Eufémia, aqueles colarinhos!

Mots-valise
A sra. Violantada de mesa no Grandcafe. Usa catoganha simpatias. O sr Ursobretudo conhecestima a sra. Violantada de mesa. Dacordo com o sr. Ursobretudo, a sra Violantada foi missuíça quandovem. O Sr. Ursobretudo toclira e frequenta e um o Grandcafe, sendo um dos clientigos. Usa colarigomados.

Profecia
O dia em que se servirá um café mais saboroso do que aquele que a sra. Violante serve está próximo! Nesse dia, a sra. Violante deixará de usar catogan, rapará o cabelo e jamais sairá de casa. Haverá tumultos, as pessoas sairão às ruas, cabeças de inocentes irão rolar.
Não é tudo. Irás encontrar um homem que já não vês há muito, muito tempo. Esse homem irá trazer vestido um enorme sobretudo feito de pele de urso pardo e irá contar-te um segredo terrível que não poderás partilhar com ninguém, ou a mais terrível das tragédias abater-se-á sobre ti e sobre aqueles que amas.

Revista feminina
Violant tinha agora consciência do seu valor. Sentia as suas reservas de auto-estima a voltarem ao normal. Sabia que o Grand Café gravitava em torno de si e que o dono, esse chauvinista, precisava dela. De vez em quando, o seu ex vinha ao café com a conquista do mês para a provocar. Violante desprezava-o com todas as forças do seu ser. Não era tanto pela figura que ele fazia, mas por ter sido parva ao ponto de se ter casado com aquele homem. Ah Violant, Violant...
Na semana passada, encontrei o misterioso Monsieur U a deambular pelos Champs Elysées. Que flaneur me saiu este Monsieur U! Monsieur U trabalha num gabinete de arquitectura paisagística para os lados de La Défense e costumo encontrá-lo às sextas, no Grand Cafe, a beber o seu daiquiri. Cumprimentou-me efusivamente, mais do que o nosso grau de intimidade podia permitir, agarrou-me no braço e disse-me que tinha algo para me contar sobre a nossa querida Violant.
(continua no próximo número da Cosmopolitan
)


segunda-feira, dezembro 06, 2010

quinta-feira, novembro 25, 2010

A um passo do reconhecimento internacional

Conseguir inserir aqui um snippet de um fantrágico tradutor automático (ver em baixo).
Convertam qualquer texto em inglês. Já em russo parece-me bem.

quarta-feira, novembro 24, 2010



Com a participação do ilustrador do Des Petits Morts (ver acima) e subsecretário da Subcomissão para a Forma, a Graça e a Cócega do Ilustre Colégio de Patafísica do Porto, Miguel Moreira.
Vasolina

segunda-feira, novembro 22, 2010

A festa de aniversário

Selawsky não era um homem muito palatável, mas ainda assim conseguiu reunir vários amigos no seu aniversário.
- Daria tudo para não ser como tu, Selawsky - disse Ymmij enquanto lambia a colher do seu cappucino.
Selwasky levantou-se e estaladou Ymmij. O lábio inferior do turco começou a tremer, mas conseguiu conter lágrimas.
- Daria tudo para não cheirar como tu,
Selawsky - disse Constantino o Bravo, amigo de infância do nosso aniversariante.
Selwasky aproximou-se de Constantino o Bravo e esbofeteou-o. Constantino começou a tremer, mas também não chorou.
- Daria tudo para não bater como tu,
Selwaskov, bates como uma menina - disse o russo a que todos chamavam de Deus-filho.
Selwasky arrastou a cadeira para junto de Deus-filho e bateu-lhe na moleirinha. Deus-filho riu-se e ofereceu-lhe a outra moleirinha.
- Daria tudo para não viver no antro em que tu vives Selawsky - disse-lhe Jewel, ex-namorada e a única mulher presente no evento.
Desta vez, o parabenizante não ergueu um dedo, mas apontou com o indicador e o anelar para o peito de Jewel que desatou a chorar. Jewel era muito sensível no que toca a/quando se toca* no seu
peito .
Um manto de silêncio sepulcral abateu-se sobre a sala, interrompido aqui e ali pelo som agnóstico de uma retro-escavadora que vinha do fundo da rua.
Subitamente, Selwasky bateu palmas duas vezes e todos os que se encontravam na sala se transformaram em Selwasky's. Depois todos lhe cantaram os Parabéns a uma só voz e tudo acabou bem.

*riscar o que não interessa.

Mo Maketh

sexta-feira, novembro 19, 2010

A Força é forte em ti, John Milton

Darth Vader resolveu fazer uma escapadinha de fim-de-semana nos Alpes, cortesia dos seus oficiais superiores.
- Está lá, recepção? Daqui quarto 877 [respiração pesada, arrastada, asmática].
- Bom dia sr. Dr... Darth Vader, em que posso ser-lhe útil?
- Solicitei hoje de manhã o serviço de pequeno-almoço no quarto e trouxeram-me o pequeno-almoço continental [respiração pesada, arrastada,
asmática].
- Estou a ver sr. Dr.. Estava tudo do seu agrado?
- Não, não estava. Pedi o pequeno-almoço universal e não o continental [respiração pesada, arrastada, asmática]. Pensava que tinha deixado isso bem claro.
- Oh, com certeza sr. Dr.. Irei tratar disso pessoalmente. Lamentamos imenso o transtorno causado.
- [respiração pesada, arrastada,
asmática] Com que estou a falar?
- Chamo-me John Milton, sr. Dr., ao seu dispor.
- [respiração pesada, arrastada,
asmática] A Força é forte em ti, John Milton.
- ...o sr. Dr. deseja mais alguma coisa?
- Não, é tudo por agora [respiração pesada, arrastada,
asmática].
Darth Vader pousou sobre a cama o "O Arranca Corações" ao lado do tabuleiro do pequeno-almoço e olhou através da janela para o eterno e majestoso Monte Branco.

quinta-feira, novembro 18, 2010

O homem do tempo

O meu colega de trabalho é de Aragão e disse-me hoje que em cada província de Espanha os homens do tempo da TV têm honras de chefe de estado. São uma espécie de gurus que pouco ou nada têm a ver com a ciência. Diz ele que uma vez, a meio da década de 80, todos os homens aragoneses saíram à rua aperaltados e a cheirar a Old Spice. O homem do tempo dessa altura (Ibón Bastrillas, creio ser o seu nome) tinha colocado uma daqueles placas aderentes com o sol mesmo em cima dos Pirenéus e previu temperaturas superiores a 30ºC nessa região. No dia seguinte, o céu ficou carregado com nuvens nas terras altas, e as temperaturas estiveram negativas. O que o boletim meteorológico de Bastrillas queria realmente dizer era que haveria boas probabilidades de conhecer mulheres bonitas nesse dia. Noutra ocasião, o homem do tempo tapou Saragoça com a placa que tinha a célebre efígie de Hitchcock. Nos dois dias que se seguiram, a cidade foi invadida por grandes bandos de corvos e gaivotas e ninguém ousou pôr os pés na rua.

terça-feira, novembro 16, 2010

quinta-feira, novembro 11, 2010

ALL OR NOTHING
OR ALL
OR NOTHING
ORAL
OR?

quarta-feira, novembro 03, 2010

quinta-feira, outubro 28, 2010

Rock n roll can rescue the world

O viúvo

Vivo sozinho e ainda sinto falta da minha mulher. Faz hoje um ano que ela morreu. Hoje vou dormir melhor, estou exausto. Consegui trazer para casa o banco de jardim onde costumávamos namorar. O filho do meu vizinho de baixo ajudou-me a trazê-lo ontem de madrugada. Apesar de todo aquele metal na cara e de cheirar mal, não é mau rapaz. Ele e o pai estão sempre aos berros um com o outro.
Foi neste banco que pedi a minha mulher em casamento. Os meus dois filhos visitam-me de longe a longe, porque não têm paciência para os meus queixumes de velho. Que surpresa, não? Sabemos que estamos velhos quando todos os meses parecem Novembro e quando não controlamos o nosso esfíncter em locais públicos.
Eu cresci para a minha mulher e a minha mulher cresceu para mim. E isso é amor, seus bastardozinhos. Pus o banco no meio da sala de estar, ao lado da cadeira de cabeleireiro onde ela passou quase um quarto da sua vida. Ela era muita vaidosa e ciumenta. É provável que se tenha queixado de mim nesta cadeira. Gostava muito dela. Dois meses depois da sua morte, comprei a cadeira ao salão que ela frequentou durante vinte e um anos. Veio com um daqueles vaporizadores de cabelo que apareceram nos anos sessenta e, apesar de eu ter a cabeça grande, consigo metê-la lá dentro enquanto vejo televisão à noite. Há noites em que adormeço sentado na cadeira e acordo de madrugada com o vidro embaciado. Às vezes, acordo com uma erecção (é verdade, seus bastardozinhos, não tenho porque mentir) e fico acordado a pensar nela até o sol nascer.

Nosferatu



Max Schreck a descansar entre "takes" e a assustar todos no estúdio de rodagem de Nosferatu, A Symphony of Horror, 1922, dir.
F.W. Murnau. (via)

Durante as filmagens de Nosferatu, Scherck nunca "saía" da pele do seu personagem, mesmo quando as câmaras não estavam a gravar, e tanto o elenco como a equipa de filmagem nunca viram o actor sem a respectiva maquilhagem e guarda-roupa. Embora esta abordagem envolvente face ao papel seja agora muito comum, não era normal na época, e a sua aparência e comportamento deram origem a rumores de que Schreck era realmente um vampiro.
Se esta foto constituir uma boa prova do comportamento de Schreck em torno de Nosferatu, a cautela da equipa de filmagem parece-nos compreensível.

domingo, outubro 24, 2010

Srilanka

Quando andava no liceu,
tive um cão a que dei
o nome de "Srilanka" -
o cão esticava as orelhas
e rodava a cabeça
sempre que o pivot do telejornal
dizia "Tigres Tamil".
Como era um cão não fazia
muito sentido chamar-lhe
"Tigretamil".

Pouco antes de morrer,
Srilanka apanhou o
meu aparelho dos dentes
em cima da borda da banheira
e pôs-se a lamber
os restos do jantar.
A minha mãe, furiosa,
gritou comigo e
perguntou depois ao meu pai
onde é que se deve pôr
um aparelho dos dentes
com restos de comida,
se no amarelo ou no lixo
orgânico.

quinta-feira, outubro 21, 2010

segunda-feira, outubro 18, 2010


sexta-feira, outubro 15, 2010

O Tio Tula

"Numa sociedade plenamente justa e orçamental, os senhores proprietários de cafés com fotos aéreas dos respectivos cafés seriam todos presos. Sentiriam consternação e arrependimento daquelas aberrações penduradas e chorariam como marias madalenas sempre que fizessem mal o troco."
Fils de Mon Pére

Antes de ser chamado para o serviço militar, trabalhei durante dois anos para o meu tio Tula que tinha um bordel no meio do monte. Sempre que chegava uma rapariga nova à sua reputada casa, o tio Tula fechava os olhos e unia as mãos como quem recebe o corpo de Deus e depois sorria ou fazia uma expressão triste. Se a moça fosse prazenteira e não vestisse mal de cara, encaminhava-a para mim. Não apreciava particulamente as folgazonas que vinham a mascar pastilha elástica. Dava-lhes guia de marcha logo ali. Como sobrinho-afilhado favorito, eu tinha algumas regalias. Gozava de uma espécie de prima nocte para dar o meu veredicto ao meu tio na manhã seguinte. Arrependo-me muito desses anos, principalmente quando faço amor com a minha mulher. Lembro-me que, no pico da toda aquela luxúria bacoca, usava um metrónomo para marcar os tempos das noviças. A maioria era allegrettos, mas houve uma eslava que tinha cara de anjo e que me deixou danos permanentes. Prestissima.
Voltando ao tio Tula. Se a rapariga fosse pouco expedita e não servisse nem para mudar os lençóis, o meu tio pagava-lhe o bilhete de volta e acompanhava a moça à estação. Depois fazia de conta que era o Humphrey Bogart e dizia:
- He's looking at you, kid.
Creio que era a única frase que ele sabia dizer em inglês.

segunda-feira, setembro 27, 2010

Congradulações

Caro Bruce,

Serve a presente para te avisar que não vou colocar os pés na tua festa.
Gostaria que as coisas corressem de outra forma. Enquanto não me deixares ter um papel mais activo na nossa dupla de combate ao crime, recuso-me a participar nestes teus eventos da socialite de Gotham.
Chega de mascaradas. O meu estágio já acabou há muito e já não sou um puto.
Deveria ter aceite a proposta do Clark.
E a partir de agora, o meu nome será The Hawk. Não quero mais ser conhecido como Robin*, é ridículo, eu sei e tu sabes disso.

Feliz aniversário e bem-aventurados aqueles que não usam máscara, pois deles...blabla.

The Hawk


*Nota do tradutor: "Pintarroxo".
Música de Elevador

quinta-feira, setembro 23, 2010

quarta-feira, setembro 22, 2010

Toc toc

Gavrilo tira o pequeno baralho do bolso do casaco e pousa-o em cima da pequena mesa retráctil. Ajeita o colarinho ao espelho e lembra-se de pôr a cabeça de fora do seu compartimento. Vê duas adolescentes a falar alto com os telemóveis nas mãos no fundo da carruagem. Uma delas faz-lhe lembrar a sua sobrinha que o escolhera para ensaiar as primeiras seduções. Fecha a porta do compartimento, senta-se e tira os sapatos. Enquanto baralha, repara que a mesa está coberta com vários riscos que rasuram uma frase. Parece-lhe russo, mas não tem a certeza. O comboio começa a andar e uma das miúdas passa pelo compartimento, olhando de lado para Gravilo que abana a cabeça e sorri para a janela, continuando a baralhar. Alguns segundos depois, a porta do compartimento é aberta por um homem que o cumprimenta:
-
Dobri den.
Gravilo calça de imediato os sapatos e diz "Hello". O homem faz sinal com a cabeça para trás e aparece uma mulher. O homem olha para o bilhete que tem na mão para confirmar os lugares. A mulher tem cabelo curto e olheiras carregadas como as actrizes dos filmes mudos. Traz umas
leggins pretas e um casaco de couro vermelho. "What a woman", pensa Gravilo.
O homem é calvo, os olhos são dois pequenos pontos azuis encovados na cara. Parece não saber o que fazer com as enormes mãos. Não trazem bagagem e sentam-se imediatamente. Gravilo recolhe as cartas sem que nenhum dos dois desvie o olhar dele por um segundo. Gravilo fica pouco à vontade e faz um sorriso amarelo. Sem desviar a cabeça, o homem olha de esguelha para a mesa riscada e arregala os dois pontinhos azuis encovados na cara. Toca no braço da mulher e aponta para as palavras gravadas. A mulher sorri por uns instantes e os dois começam a falar.
- Toc toc.
- Toc toc.
- Toc toc.
-Toc toc.

-
Toc toc to you too, you weirdos - diz Gravilo em voz baixa antes de pôr os auriculares do iPod e encostar a cabeça.
O homem levanta-se abruptamente e abandona o compartimento. A mulher fecha as cortinas e começa a bater com um maço de tabaco na palma da mão. Gravilo diz-lhe que não pode fumar ali e aponta para o pictograma. A mulher põe delicadamente a mão na perna de Gravilo e diz num inglês perfeito:
- Toc toc to me, will you baby?

sexta-feira, agosto 27, 2010

terça-feira, agosto 24, 2010

Uma História de Amor

Bongosto, Tenco, Paoli e Mina viveram sob mesmo tecto cheio de térmitas durante três meses. Eram os únicos hóspedes da segunda pensão mais antiga da cidade que pertencia a Dona Bonagura. Dona Bonagura era uma enxuta viúva perto dos cinquenta que, tal como muitas viúvas, adormecia no sofá em frente à TV. Quando chegava dos seus afazeres diários, Bongosto gostava de passar pela sala de estar e era seu hábito admirar o rosto sereno daquela mulher, como um seminarista que contempla a sua primeira óstia enquanto recalca o prazer solitário da noite anterior.

Dona Bonagura tinha queixo duplo à Kirk Douglas, e Bongusto sentia-se atraído por queixos duplos desde que viu Spartakus pela primeira vez. Wunderburg era também grande admirador de queixos duplos. Wunderburg estava em negócios na cidade, e o queixo duplo de Dona Bonagura acertou-lhe em cheio quando passeava pelo mercado à hora do almoço. Perguntou quem era aquela formidável mulher e tentou inúmeras vezes reservar um quarto na pensão, mas Bonagura não gostava de tedeschis (embora Wunderburg fosse suíço*), porque os achava muito porcos e dizia-lhe sempre que estava tudo cheio sem sequer olhar para ele.

Na última semana da sua estadia, Bongusto apressava-se para chegar à pensão mais cedo. Como seria de esperar, Dona Bonagura estava a dormir com a boca aberta em frente à soporífica televisão. Talvez por serem os seus últimos dias naquela casa, Bongusto encheu-se de coragem e deu três passos ao de leve, sentando-se numa das duas poltronas desbotadas. Pegou no telecomando e reduziu o volume, dando início à sua secreta adoração daquele queixo, belo e inviolável como uma flor de cerejeira. Mina, a estudante universária, estava no andar de cima, a arrumar e a cantarolar uma velha canção napolitana que a sua avó lhe ensinara. Ultimamente era tudo o que lhe passava pela cabeça desde que acabara com o namorado** que se apaixonara por uma mulher mais velha***.

Bongusto, esse, imaculava a figura adormecida de velha matrona e há muito que desejava tocar no queixo duplo. Sonhava acordado com passeios de mão dada com o queixo duplo e a respectiva dona, ladeados por florzinhas do campo, premiados com o chilrear das avezinhas, só os três e mais ninguém...

De repente, a porta de entrada é escancarada, e é Tenco que chega, rindo-se para Paoli que vem atrás de si. O espanta-espíritos faz acordar dona Bonagura que se desencosta como uma mola e, atarantada, deixa escapar um franco e generoso "pum" que se encontrava inocentemente preso desde a hora do almoço. Bongusto congela o gesto e fica a olhar para a mulher que, por sua vez, retribuí o olhar ainda meio sonolenta. Os dois ficam uma eternidade assim, até que Bangusto pergunta finalmente:
- A senhora dupla quer casar comigo?

* Wunderburg era tão suíço que apenas usava sabonetes de pH neutro.
** A senhora não tinha queixo duplo, mas nascera com um archote entre as pernas.
*** Primeiro e único indício do desfecho da história.

quarta-feira, agosto 11, 2010

Ontem, a preto e branco
Hoje, a cores

quinta-feira, agosto 05, 2010

No tempo em que os animais falavam

- Desculpem interromper, criaturas criadas por Deus meu pai, mas...saberão dizer-me porque é que ninguém gosta de mim? - perguntou Jesus às criaturas de Deus seu pai.
- Ainda bem que me fazes essa pergunta - disse a formiga.
- Posso responder eu? - perguntou a cigarra.
- Sim, se souberes a resposta - respondeu a formiga.
- Como assim, "se souber a resposta"?! - perguntou a cigarra.
- Passas o dia a cantar, não podes saber a resposta a uma pergunta tão difícil - respondeu a formiga.
- E tu que passas o dia de um lado para o outro, já nem sequer tens tempo para pensar? - respondeu a cigarra.
A formiga não teve tempo para responder. Jesus misericordioso abre o guarda-sol que traz sempre consigo*, pisa as duas criaturas e abandona o local. Mais adiante, encontra a lebre e a tartaruga em cima de uma linha de partida.
- Criaturas de Deus meu pai, desculpem interromper, mas poderão dizer-me porque é que ninguém gosta de mim? - perguntou novamente Jesus.
- Aindabemquemefazessapergunta - disse a lebre.
- Posso...responder...eu? - perguntou a tartaruga.

* Jesus abria o guarda-sol quando não queria que Deus Pai visse algo que talvez não fosse muito do seu agrado.

Novo quadro pró gabinete


sábado, julho 24, 2010

quinta-feira, julho 22, 2010

Se, se...

- Se D. Dafoe vivesse nos dias de hoje, seria argumentista da série "Lost".
- Se Baudelaire vivesse nos dias de hoje, dedicaria as Flores do Mal aos "Bleus" e escreveria o Smog de Paris.
- Se Poe vivesse nos dias de hoje, seria argumentista de "True Blood".
- Se Proust vivesse nos dias de hoje, mandaria isolar o seu quarto em lã de rocha (e não em cortiça).
- Se Kafka vivesse nos dias de hoje, trabalharia numa seguradora na mesma, mas ganharia mais e mandaria o Max Brod dar uma curva.
- Se Louÿs vivesse nos dias de hoje, passaria o dia a descarregar filmes românticos da Internet.
- Se Pessoa vivesse nos dias de hoje, teria um heterónimo hip hop: MC PES. É provável que regressasse à África do Sul.
- Se Breton vivesse nos dias de hoje, dedicaria o "O Amor Louco" à Margarida Rebelo Pinto, musa e principal impulsionadora do Neo-Surrealismo em Portugal.
- Se todos estes escritores vivessem nos dias de hoje, teriam todos um IPod ou uma Wii.

terça-feira, julho 20, 2010


Fallen Bierstadt, Valerie Hegarty, 2007

O violador de poetas menores

Um título como este pode ser tremendamente auspicioso e despertar a curiosidade de alguns que querem cair no engodo de uma boa história. Por outro lado, também pode defraudar as expectativas desses corajosos à medida que vão progredindo (ou recuando, se a história valer realmente a pena) na sua leitura. O tombo para o autor será então maior. Declino já essa responsabilidade e desengano o leitor nesta rampa de lançamento onde quase tudo se decide. Não estou à altura (ou profundidade) de um título tão promissor. O público dispersa-se agora, restando apenas alguns resistentes conhecidos que cruzam os braços e que, à falta de melhor, resolvem ficar. Mas as coisas são como são e, como de outro modo não podem ser, devemos apreciá-las tal como nos são oferecidas:

o realizador Guido Anselmi acreditava que, após a sua morte, iria encarnar numa mulher de barriga de aluguer. Resolveu aprender tudo o que havia para aprender sobre mulheres e maternidade, e abandonou temporariamente os filmes. Apercebeu-se depois que estava enganado e que o seu inconsciente estava a dizer-lhe que deveria deixar italianíssimos descendentes neste mundo. Deixou de vez a sétima arte e, ao som de Verdi, fez furiosamente filhos até morrer, e agora toda a Itália está-lhe grata por isso. Vamos todos acreditar que foi exactamente isso o que aconteceu e afastar a ideia repleta de fel de que a musa apresentara a carta de demissão e que Guido já não poderia mais encenar paraísos e infernos como Dante(s).

domingo, julho 18, 2010


terça-feira, julho 13, 2010

Å



Vivo em Å há duas semanas. Ainda não apanhei um dia de sol desde que cheguei, tem trovejado todas as noites e adormeço quase sempre ao som do múrmurio da chuva. Durante o dia, o ar está sempre coberto por uma névoa espessa que contrasta com as casas vermelhas sobre estacas que se estendem ao longo da costa.
Vim para aqui porque conheci uma mulher pela internet. A nossa relação virtual evoluiu ao ponto de ela confessar que gostava de ser açoitada. Creio ter-lhe dito que dar-lhe-ia açoites de bom grado se isso lhe dava prazer. Como é normal neste tipo de relações, não medi as palavras. Disse-lhe ainda que estava desempregado. Nessa mesma noite, convidou-me para ir viver com ela. Não hesitei. A minha mãe deu-me a sua bênção com a lágrima da praxe, e apanhei o primeiro avião para Oslo dois dias depois.
Ela era inevitavelmente loura e possuía um olhar meigo, sereno. Quando começámos a falar através do "chat", disse-me que tinha ficado viúva há um ano e que o marido tinha trabalhado numa plataforma do Mar do Norte. Quando cheguei, lembro-me de lhe ter perguntado a causa de morte do marido. Ela esquivou-se e levou-me para o quarto. Na nossa primeira noite, pediu-me constantemente para ser insultada sempre que lhe batia com o cinto de pele de baleia. O meu léxico norueguês era muito limitado e então ofendia-a na minha língua. O efeito foi ainda melhor do que o desejado. As suas nádegas brancas ficaram zebradas de vermelho, ela dava o corpo ao manifesto.
A minha companheira trabalha num mercado local. Passei os primeiros dias a deambular pela pequena vila. Os locais não me cumprimentam. Achei que talvez fosse a minha má pronúncia ou uma questão de temperamento, ou talvez até uma demonstração contida de xenofobia paroquial. Bom, os grunhidos nocturnos da minha companheira devem chegar à Irlanda, pode ser isso também. No entanto, senti pouco depois que era "outra coisa". O olhar deles dizia-me algo diferente.

Ontem à noite, enquanto punha a mesa, ela pediu-me para pôr mais um prato.
- Convidaste alguém para jantar? - perguntei.
Não respondeu. Levou a colher de pau à minha boca e perguntou-me a sorrir se o ensopado de peixe estava a meu gosto.
Sentei-me e, enquanto abria uma garrafa de vinho tinto do Chile, a campaínha tocou.
Tirou o avental, pousou a mão em cima do meu ombro e voltou a sorrir. Apalpou o penteado e lá foi abrir a porta. Uma voz masculina. Pareceu-me ouvir a troca de um beijo, seguido de um pequeno grito. Quando me virei, a minha "mulher" estava de braço dado com um homem alto e magro, com um sorriso idiota estampado na cara vermelha.
- Ålberto, apresento-te Knut, o meu marido. Knut, este é o nosso Ålberto.

segunda-feira, julho 12, 2010

Começa-me ou eu nunca mais começo.

Após um cataclismo nuclear, apenas irão sobreviver duas coisas:
baratas e o Keith Richards

sexta-feira, julho 09, 2010

POR FAVOR TENTA NÃO FAZER FIGURA DE URSO

Na noite de 6 de Julho de 1984, The Jacksons reuniram-se e deram início a uma digressão de 55 datas pelos EUA e Canadá. Antes do primeiro espectáculo da "Victory Tour", o seguinte telegrama de "Boa Sorte" foi enviado a Michael Jackson pelo seu amigo, Marlon Brando.



Transcrição

CARO MICHAEL

PENSEI EM TI ESTA NOITE POR FAVOR TENTA NÃO FAZER FIGURA DE URSO E PELO AMOR DE DEUS NÃO CAIAS NO FOSSO DA ORQUESTRA.

MARLON

terça-feira, julho 06, 2010


domingo, julho 04, 2010

O meu país

Sou emigrante e estou casado com o meu trabalho há já alguns anos. Foi uma boda muito bonita e alegre, todos os meus amigos e família me deram apoio e desejaram-me boa sorte. O meu pai deu-me uma picareta que, por sua vez, foi-lhe oferecida pelo seu pai. A minha lua de mel foi na China, numa gigantesca fábrica de componentes eléctricos. Ah, os chineses amam verdadeiramente o seu trabalho.
Para poder casar com o meu trabalho, o amor da minha vida, tive de abandonar o meu país. De onde eu venho, apenas os mais velhos têm autorização para poder casar com o seu trabalho. Mas a maioria não cumpre os seus votos matrimoniais, e alguns até
fazem o trabalho dos outros.
Antes de chegarem a velhos, todos os adultos celibatários dedicam-se à representação. O meu país é o maior exportador de actores e cabotinos do mundo. Por outro lado, importamos um grande volume de marionetas e fantoches por ano. São muito apreciados no meu país.
Todas as crianças do meu país são deficientes mentais até aos dez anos. Servem apenas para barrar o pão com manteiga dos adultos. Algumas berram e outras querem ser engolidoras de fogo ou cavaleiros, mas ninguém lhes dá importância. Depois dessa idade, são iniciados nas artes cénicas e os melhores dos melhores podem chegar ao governo.
Deixem-me falar das casas do meu país. As casas são térreas e têm um pequeno jardim. Não temos o costume desagradável de ficar à janela e ver quem passa. Os transeuntes são cativados pelas janelas mais bonitas e olham para dentro das casas.
Um dia hei-de regressar ao meu país na minha ambulância de luxo e construir uma casa tão grande em que todos vão querer olhar para dentro dela.

terça-feira, junho 29, 2010

I kissed a grill



segunda-feira, junho 28, 2010

A Star is Porn

Nunca leias
um poema com
um título de qualidade

duvidosa em Inglês,
que tenha mais
do que 5 (cinco)
versos e que termine
em reticências.
Lembra-te! Ezra
Pound não dorme...

quarta-feira, junho 23, 2010

Totally slashed.
Agora sim, já posso ser cremado.

sexta-feira, junho 18, 2010

alien vs winnie the pooh


(recente aquisição num alfa-rabista de sci-fi e bd com A/C e MB)

quinta-feira, junho 17, 2010

Os malefícios do tabaco


Deixem-me contar uma
pequena história sobre
Duncan Macleod, o Imortal.

Sou um watcher, um olheiro,
por assim dizer, e observo
este escocês há algum tempo.

Poucos mortais saberão que
Duncan Macleod do clã Macleod,

o Imortal,
esteve em Lisboa há muitos anos.
Ontem, Duncan resolveu fazer um seguro de vida,
"Há muitas cabeças a rolar
hoje em dia, nunca se sabe", pensou.
No campo "Profissão" do formulário
escreveu "Calceteiro reformado ao
serviço de Sua Majestade El-rei D. José".
O funcionário dos seguros não aceitou
e pediu a Duncan para se retirar.
O Imortal cortou-lhe a cabeça logo ali
e todos à sua volta fugiram horrorizados.
Um fluxo incrível de energia
foi transferido do corpo decapitado
do funcionário para a boca escancarada de Duncan.
Pela primeira vez, D. não sentiu
a presença de outro Imortal.
"Estarei a perder as minhas faculdades?",
perguntou a si mesmo.

Losing Your Face


Ben Woodward

domingo, junho 06, 2010

0:50

Two Headed Cow

sábado, junho 05, 2010

Serralves non stop


Dan Monick

terça-feira, junho 01, 2010

Funambolismo

I
Prometeu roça novamente as costas num dos dois pilares de madeira. Coça a barriga da perna e olha lá para fora. Finge que vai para dentro mas volta ao balcão. Aproxima-se furtivamente do empregado e cheira-o. Bate no peito durante alguns segundos. Prometeu ainda é o macho alfa da drogaria.

II
- Queria 1300 metros de arame, por favor - disse Orestes.
Orestes não pode dizer o número 1299. Segundo o seu médico de família, o incrível registo fonético deste número pode causar uma rápida deterioração do tecto da boca e ruir. Se proferir o número a seguir ao 1300, as glândulas salivares iniciam a produção de um ácido muito corrosivo e Orestes morre.
- Para quando é que precisa do arame? - pergunta Prometeu.
- Para amanhã - responde Orestes.

III
Antes de sair, Orestes beija a mulher na testa e afaga-lhe o peito. Está a fazer isto por ela. É de madrugada. Amarra uma ponta de arame à torneira da cozinha. A tarefa poderia ser mais simples se o Trópico de Capricórnio não passasse a meio do caminho para o escritório.

IV
Prometeu enfia a chave na fechadura corroída. Depois de entrar na loja, põe o boneco insuflável de uma conhecida marca de ferramentas cá fora. Enquanto dá à manivela para abrir o toldo, olha para o fundo da rua e vê algumas pessoas a olharem para o céu. O trânsito não avança.

V
São 8:25h. Orestes sente-se cansado mas sabe que vai conseguir. As pessoas começam a bater palmas lá em baixo. Pela primeira vez nos últimos dois anos, Orestes vai chegar a horas ao emprego.

quinta-feira, maio 27, 2010

quarta-feira, maio 26, 2010

Polígrafo

Em 1957, Brother Antoninus (William Everson) comprou um polígrafo usado num flea market em São Francisco. De acordo com a sua biografia autorizada, o poeta de Sacramento recorria ao polígrafo antes de "consolidar" a versão final dos poemas. Se o detector de mentiras acusasse algo durante o seu recital inflamado, Antoninus queimava os seus versos para depois reescrever e medir novamente a veracidade do texto. Brother Antoninus, admirador confesso de Walt Whitman e da homeopatia, viria a destruir o polígrafo quando experimentou ler "Leaves of Grass" para um grupo de beatniks. A máquina assinalou vinte e quatro irrefutáveis registos ao longo do depoimento lírico dedicado a Whitman.

segunda-feira, maio 17, 2010

quarta-feira, maio 12, 2010



"Cavalo larval"


Codex Seraphinianus de Luigi Serafini

terça-feira, maio 11, 2010

E depois do adeus

Todos os ocidentais dispostos
a serem salvos sabem que
a Mulher-Maravilha
tinha um cão fraldiqueiro e
não gostava de ficar longe dele
por muito tempo.
Certa vez a Mulher-Maravilha
salvou um grupo de Obsessivos do Adeus
Anónimos de morte decerta. Quando
chegou a casa o cão fraldiqueiro
já lá não estava porque tinha
fugido com o cio (mas isto
a Mulher-Maravilha não sabia,
apesar dos seus super-poderes).

Há quem diga que a Mulher-Maravillha
se sentiu muito angustiada e
processou os O.A.A. pelo
desaparecimento do cão fraldiqueiro.
Há quem diga que foram
os próprios O.A.A. que roubaram
a mascote da Mulher-Maravilha
só para lhe dizerem adeus depois.
Há ainda quem
não diga nada, porque
amam a heroína mais do que
tudo na vida.

sexta-feira, maio 07, 2010

Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead



Publicado pela primeira vez em 1915, durante a I Grande Guerra, o Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas foi durante trinta anos difundido a médicos de todo o mundo em folhas de carbono ou fotocópias. O trabalho do Dr. Lambshead inspirou génios clínicos de todo o mundo, e Portugal não foi excepção, encontrando no Dr. Anófeles Calamar Trindade e no seu Compêndio Médico de Doenças Notáveis e Invulgares uma referência incontornável.

Pela primeira vez, as descobertas de jovens médicos portugueses são apresentadas num volume único e insubstituível, onde se juntam ao trabalho de colegas norte-americanos e britânicos de grande reputação como o Dr. Alan Moore, Dr. Neil Gaiman, etc.

A antologia Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas irá ser publicada pela editora
Saída de Emergência a 21 de Maio e terá um PVP de 18.80 Euros.

terça-feira, maio 04, 2010

Tarde quente

Antes de se ir embora,
o velhote das castanhas
congeladas assadas tem o hábito
de sacudir o seu enorme guarda-sol
para cima dos transeuntes.
Dois pobres alemães
que por ali passeavam
entraram no hotel da baixa
como dois rabanetes de mão dada.

quinta-feira, abril 29, 2010

A última noite do rei


David Teniers le Jeune

Chamou virtuosos músicos de alaúde, de viola, de saltério. Não chamou o monge que largava um bafo pestilento dentro do confessionário. Chamou o barqueiro que lhe oferecia sempre uma laranja para não enjoar durante a travessia do rio. Chamou os três criados franceses que tinham chegado há dois dias e, que apesar do seu ar eternamente fatigado, ainda cheiravam a perfume. Mandou chamar o habilidoso carpinteiro sem a sua serra. Não chamou a rainha desta vez, nem as duquesas, suas irmãs. Mandou espalhar morangos, frutos silvestres e nozes pelos seus aposentos, e vinho, muito vinho. Mandou chamar um artíficie que morava no limite das suas terras e que dizia estar a construir uma "barca voadora". Não chamou os ministros, essas aves de rapina agoirentas, nem o médico, pois a sua presença agravaria ainda mais a sua doença. Chamou o secretário da Fazenda que era magro como um osso e que errava sempre nas contas do reino mas sempre com uma diferença exacta do valor correcto. Chamou o velho cozinheiro que, apesar de sujo e grosseiro, cozinhara sempre deliciosas iguarias. Encheu o quarto com pavões, garças e papagaios. Pagou a peso de ouro por uma grande tartaruga cuja carapaça parecia retratar o rosto de Cristo. Ordenou a presença dos arqueiros com as suas enormes flechas e do seu leal Cavaleiro Branco que conhecia muito bem os aposentos reais. Infantaria não, cheiravam muito mal dos pés. Todos teriam travesseiros de seda e colchões de penas de grandes poetas para sonhar os mesmos sonhos do seu rei.
Comício memorável do Primeiro de Maio

quarta-feira, abril 21, 2010

terça-feira, abril 20, 2010

Bartebly, a ninfetazinha

E se o Sr. Bartebly fosse uma ninfetazinha que foi trazida do campo para um bordel na grande cidade?
No início, a madame andava encantada com a miúda que era a grande novidade da casa. Até lhe deixava ir à Ópera com o deputado e tudo! Mas Bartebly, a ninfetazinha, começou a agir de forma estranha. Quando um cliente lhe pediu para lhe morder o rabo, a ninfetazinha respondeu:
- I would prefer not to.
O cliente bateu com a porta, e Bartebly desejou ser feia pela primeira vez. Nada disto aconteceu na história original, mas um magnífico génio formou-se a partir da vela da mesinha, concedendo dois desejos e meio a Bartebly. A ninfetazinha respondeu:
- I would prefer not to.

quinta-feira, abril 15, 2010

Para a P.:
"100 Days, 100 Nights"

sexta-feira, abril 09, 2010

quarta-feira, abril 07, 2010

Errata - "Greve"

O Pedro e o Lobo errou.
A greve geral de 1974 não foi em Hildesheim, mas em Hamburgo.
Agradecemos a compreensão do leitor.

Greve


A greve geral de voyeurs hanseáticos, em Julho de 1974, provocou um forte sentimento de solidariedade por parte da população de Hildesheim. Novos e velhos, solteiros e viúvos, todos se uniram para apoiar os desfavorecidos mirones. Celsius Rothaupt, líder provisório da manifestação voyeur e presidente da associação dos arrendatários de casas em enxaimel, viria a espalhar migalhas pelas calçadas, pedindo às pessoas para porem uma migalha na boca da pessoa ao lado para depois a engolir com visível satisfação. Os voyeurs sentiram-se ressarcidos e a manif terminou pacificamente. As libélulas hanseáticas, conhecido símbolo dos voyeurs, voltaram a cruzar os céus de Hildesheim!

terça-feira, abril 06, 2010

Tenho algo para vos contar



tenho algo para vos
contar que decerto
irão achar interessante:
Ragde Ecir Sworrub avatsog
ed radna un alep asac e iof
rop asuac ossid euq uevloser
revercse Nazrat.

terça-feira, março 30, 2010

Godzilla decide atacar Lisboa

Godzilla decide atacar Lisboa
menina e moça, menina.
Ao preparar-se para arrasar
a ponte com a cauda, vê o
Cristo-Rei com o canto do olho
- Hoder ¿Quién es usted?*
O Cristo-Rei nada responde.
- ¡Te voy a aplastarte, tío!
O Cristo-Rei continua com os braços
afastados e não abre a boca.
Nisto, o anjo Moroni desce dos céus
com uma veste laranja transparente e
segreda algo ao ouvido de Godzilla.
Godzilla acena com a cabeça
e volta para onde veio.
Os cães ladraram muito,
as gaivotas e os pardais ficaram mudos.
A boa gente de Lisboa encolheu
os ombros e voltou
ao que não estava a fazer.

*Godzilla pensa que o Cristo-Rei fala castelhano.

quarta-feira, março 24, 2010

terça-feira, março 23, 2010

O homem do talho

soube no outro dia
que o homem do talho
tem ascendente em Peixes -
um tipo sensível e insondável
portanto
o homem do talho
teve um cão que morreu
há um ano
nos dias de pouca
clientela
ele deita-se em cima
da casota vazia
nas traseiras do talho
e fica a olhar
para as nuvens
que lhe fazem lembrar
grandes costoletas de algodão

sexta-feira, março 19, 2010

O ataque

O capitão chamou de imediato os seus homens e disse-lhes para não mexerem uma palha. Os homens pousaram as medas saqueadas que traziam à cabeça. Sentaram-se no chão vermelho, começaram a bater palmas e a gargalharem como gárgulas engaioladas. Foi tudo muito rápido, para não dizer célere. O alcaide interino sabia-se cercado e não deu tempo ao capitão para agir como um conquistador standard que arromba, saqueia, viola e destrói. A mansão era grandiosa e foi construída com pequenos blocos azuis e amarelos que encaixavam entre si e dó, tal como um puzzle. O capitão não consegue dar com a porta. Os homens contorcem-se. Os prisioneiros fogem. Alguns homens fogem com os prisioneiros de mão dada. Eis então que o alcaiade interino aparece na balaustrada banhada pelo sol. Traz o queixo de bócio perfeitamente virado para o capitão e deseja entregar-lhe a sua magnífica espada. O capitão não aceita a arma do inimigo e começa a andar em círculos, a abanar a cabeça para cima e para baixo como se fosse um pombo com cio.

domingo, março 14, 2010

sexta-feira, março 12, 2010

Car'Óscar,

Se Deus Nosso Senhor quiser, amanhã irei estar outra vez com o tal senhor alambicado que te falei. O tal de ascendência setentrional e de orientação claramente uranista que já te tinha falado no penúltimo telex que te enviei. Conheci-o na estação de xxxxx há uma semana enquanto esperava pelo metro e começámos a falar da imunidade meteorológica que se faz sentir debaixo da terra. Ambos achámos uma infâmia e uma deslealdade para quem anda lá em cima sujeito ao granizo e a sei lá o que mais. Uma coisa leva a outra e fizemos uma bid: se eu conseguisse dar-lhe vinte e duas indicações diferentes (mas exactas) para estação central a partir desta estação, ele pagar-me-ia uma tour naqueles autocarros turísticos de dois andares. Ele aceitou e eu também. Ambos salivámos de extrema satisfação.

Fora isso, não tenho mais nada de excitante a contar-te.

Envia-me o orçamento para as tintas acetinadas o mais rapidamente possível.

Abraço fraterno,
PaMa

PS: Ontem a minha mulher deu à luz gémeos falsos. Já chamam os dois por mim.
Flat Dual Jets

quarta-feira, março 10, 2010


Miguel Moreira

quinta-feira, março 04, 2010

O Bode

O Bode saiu do casting com um riso de satisfação de chifre a chifre. Foi um dos seleccionados para ser transeunte na baixa ao fim-de-semana. Este trabalho não era para qualquer besta. Viu leões e leopardos a chorarem como pequenos crocodilos por não terem sido escolhidos. Mas a sorte sorriu-lhe e ele retribuiu. No fundo, o Bode sabia o que valia. Antes de regressar à quinta, entrou no café e pagou uma rodada de simbalinos com cheirinho. Que patas largas! As cabras deram pinotes e as ovelhas baliram de prazer.
"Não é caso para tanto", disse um rematado jumento no fundo do balcão. Todos se calaram.
"Quem é aquele animal?" , perguntou o Bode ao empre-gado.
O empre-gado encolheu os ombros e balbuciou que era mais um burro que por ali parava.

quarta-feira, março 03, 2010

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

O tão aguardado nascimento de uma brilhante ideia*

* de parto natural e sem parteira

Welcome/Bem-vindo

Well, come
Back
Poço, volta
para
Trás
Well, come
Back,
Bem, volta
para
Trás
Welcome,
Back
Bem-vindas,
Costas
We'll come
Back
Nós
voltaremos
Well, cum
Back
Bem, sémen
Atrás
Welcome,
['bäk in blak]
Bem-vindo,
Bach in Black

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Energias renováveis

O gestor era muito paciente . Sempre que acabava de me explicar o funcionamento de uma máquina, punha as mãos nas abas da casaca e sorria de satisfação. Chegámos finalmente à unidade soluçadeira.
- E aqueles homens ali, o que estão a fazer? - perguntei.
- São a nossa força motriz por assim dizer. Mão-de-obra qualificada - respondi.
- Mas...parecem bêbados!?
- Sim, o vinho doce é excelente para produzir soluços de boa qualidade.
Naquele momento, a porta atrás de nós abriu-se e entrou um homem encorpado. Saudou o gestor e lançou-me um olhar meio desconfiado. O homem cheirava a aveia. Dirigiu-se para o anexo envidraçado no fundo do sector.
- É o sr. Mateus, o supervisor. Já está connosco...vai fazer quinze anos em Abril - informou-me.
- E porque é que usa tamancos amarelos?
- O amarelo é a cor mais forte que existe. Distingue-se ao longe. Os táxis americanos são amarelos. Dado o estado ébrio dos trabalhadores, todos os supervisores usam amarelo para que os homens possam distingui-los. Quanto aos tamancos, são de madeira holandesa que é o melhor material anti-soluços. Os holandeses não soluçam como sabe.
- Sim, é verdade.
- O Mateus coordena o fluxo e a intensidade dos diferentes soluços. E dá formação também. Ao fim de cinco, seis anos consecutivos de soluços, o ser humano deixa de produzir soluços. É um trabalho de desgaste rápido.
-- E o que acontece a esses homens? São dispensados?
-- Não senhor. São transferidos para outra secção. Há quatro anos, mandámos vir uma arrotadeira de Milão, uma Octava 9010, e, neste momento, podemos dizer que temos tido uma boa receptividade num mercado que não era o nosso.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Preciso de uns óculos de sol baratuchos.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Efeito Bruckner

ela enfeia-se sempre
depois do almoço
rega as plantas da
sua secretária que
murcham com tanta
feiura profissional

ela drena toda a sua
beleza para os dossiers
que têm de analisar
para que o director
tenha a papinha feita

o colega da contabilidade
pisca-lhe o olho às 15:01
ela finge
que não vê e é quase
sugada pelo ralo USB do
seu portátil de 3GB de RAM

o colega da contabilidade
enfia a BIC em cima da orelha e
vai ao WC às 15:12
o colega da contabilidade é muito
talentoso e assobia Bruckner
enquanto verte águas

ela ouve a virtuosa melodia
que vem do WC, entra
no WC com um H na porta e
dá uma grande
dentada na nádega do
colega de contabilidade

"Ai" grita o colega.
Às 15:16
ela fica bonita
outra vez.

anos 80: não esquecer


tiananmen: não esquecer


11 Set: não esquecer


terça-feira, fevereiro 09, 2010

Meu filho



[clicar para melhor enxargamento]

segunda-feira, fevereiro 08, 2010



Dürer

Twitter de Deus Pai


# MEUS FILHOS, Eva é agora estilista de haute couture. Adão é o top model masculino mais bem pago do Éden. Onde é que isto vai parar, meu Eu?
11:27 AM Oct 1st, ???? from web

# MEUS FILHOS, hoje é um dia triste para todos nós. Mandei um anjo lenhador cortar a árvore do conhecimento. Mas o mal já está feito. Eva pagará pelo que fez em suaves prestações mensais. Adão pagará por tabela.
11:10 AM Aug 31st, ???? from web

# MEUS FILHOS, a Serpente fugiu da jaula. Oferece-se a vida eterna a quem a achar.
9:41 AM Aug 19th, ???? from web

# MEUS FILHOS, hoje determinei que é proibido fumar dentro do Éden. Quem quiser fumar, que fume lá fora.
1:39 PM Aug 16th, ???? from web

# MEUS FILHOS, Adão e Eva não fazem outra coisa. Hoje criei algo muito útil para aqueles dois. Chamar-se-à...Edenex. Não, esperem, melhor ainda: Kleenex.
1:32 PM Aug 14th, ???? from web

# MEUS FILHOS, ontem apresentei Eva - a minha mais bela criação até à data - a Adão. Adão correu de alegria pelo Éden, parecia um tolinho.
10:07 AM Aug 01th,???? from web

# MEUS FILHOS, apre, o que é demais é moléstia! Vou tirar-lhe uma costela. Depois explico. Adão queria que eu lhe tirasse a próstata também. Homem doido.
9:41 AM Aug 03rd, ???? from web

# MEUS FILHOS, sou um deus muito ocupado, perdoem-me a minha ausência. Hoje apanhei o Adão a brincar com a mão.
11:10 AM May 31st, ???? from web

# MEUS FILHOS, já passou algum tempo desde que a última vez que nos vimos. Adão está um homenzinho e já chama por mim.
11:27 AM Jan 15th, ano ???? from web

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Al & Orson

- Hey Orson, and how are you today? Are you feeling Welles? Do you need a Kane?
- You're such a Pyscho. Heya...wait a minute! Is this cock yours, Hitch?
- I Confess: I'm the Man Who Knew Too Much.
- And All I want is that Lady from Shanghai.
- Who? That one standing in The Rear Window?
- No, no, the brunette down on the street. She's Hayworth a $1,000,000!
- I can't look. I have Vertigo.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Gatos de Chescire



O meu gato descende da nobre linhagem dos Gatos de Chescire. Confirmei as minhas suspeitas ontem. Mandei colocar um olho mágico na porta de entrada que me permite ver de fora para dentro. Assim que me vê sair, o gato senta-se em cima da poltrona e ri-se desalmadamente. Quando rodo a chave para entrar, volta ao normal e olha-me meio desconfiado. Às vezes, desaparece por quatro, cinco dias, uma semana até.

sábado, janeiro 23, 2010

Oito Mortes das Cinco Prás Oito

O trapezista profissional Augusto Chang morreu
atropelado quando passeava no seu dia de folga.

O alpinista Rocheforte morreu afogado quando
nadava no ribeiro da sua aldeia.

O advogado do Ministério Público Herb Anário
foi esfaqueado dezasseis vezes num clube privado.

O contrabandista Constantino Barrabás morreu de intoxicação
alimentar por causa de um chocolate comprado no Comércio Justo.

O cordoeiro Sócio Argentino tentou enforcar-se com
um dos seus artigos. A corda rebentou e o Sócio deu um tiro na cabeça.

O assassino Armando de Jesus morreu de velhice na prisão.

O sapateiro Félix Courato foi assassinado no seu leito conjugal pela
sua mulher. Morreu descalço.

O carcereiro Josué Guilherme morreu de prisão de ventre.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Grimm


Betrugs Lexikon, Werner Klemke

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Conferência de Ialta


- Use the Force, Staline!

Mestre

mestre,
o homem que se
chama Carmen
disse-me há tempos
que podemos achar
marsupoetas
em pneus recauchutados onde
se plantaram cactos.
Faz-se um buraco no cacto
e bebe-se o primeiro trago

de água que sai de dentro.
Cospe-se o resto
e onde
esse resto cair estará um
marsupoeta com
uma lira made in china.

- Isso são histórias! - respondeu-me o mestre.

quinta-feira, janeiro 07, 2010


domingo, janeiro 03, 2010

O electrocista

Bang! Bang!
Era ele. O amigo do meu amigo já me tinha alertado que ele fazia-se anunciar com dois tiros. A casa não tinha luz, não podia tocar à campainha e, em vez de nós, o homem tinha laços muito delicados nos dedos, logo não bateu à porta com medo de os estragar. Exigia sempre um tapete vermelho com pequenos raios bordados que o deveria levar sem demoras ao quadro eléctrico. Como o meu quadro fica no hall de entrada, tive de me remediar com um capacho chinês, espero que a criatura não se importe.
Abri a porta.
- Saia por favor - ordenou.
- Com certeza.
Sua Volticidade não gosta que os clientes estejam por perto quando está a trabalhar. Tem a fama e o proveito de ser o melhor técnico sindicalizado do distrito e nunca deixa os seus débitos em mãos alheias.
- Deve ser apenas um fusível fundido, se quiser... - disse-lhe já cá fora.
Grande slam na minha cara.
O amigo do meu amigo que também é membro da poderosa Guilda dos Electrocistas avisou-me do modus operandi do sujeito. Assim, ontem à noite, coloquei a minha poltrona no jardim da frente para me sentir mais confortável. Enquanto esperava, pus-me a adivinhar as músicas que os transeuntes trauteavam de cabeça. De seis, só acertei em duas, o que não é nada mau, mas também não é nada bom. Sig Sig Sputnik e Tom Jones. Achamos que é algo que só acontece aos outros, mas, quando menos se espera, acontece também à gente. Quando dei por mim, estava agarrado a um jingle idiota que tenho vergonha de reproduzir aqui. A minha vizinha da frente parece que adivinhou, pois começou também a trauteá-lo de cabeça. Acenou-me com um ancinho na mão e disse-me algo em rodapé sobre leite derramado.
- Já está, chefe. Venha cá ver isto - disse o electrocista atrás de mim.
O fio fogo do fogão tinha entrado em curto-circuito com o fio água, e o fio ar estava bastante calcinado como era de prever. O fio terra foi o único que se aproveitou.