quinta-feira, junho 17, 2021

Paradoxo de Salomão

 De vez em quando, acabo por conhecer pessoas que sofrem deste mal, o Paradoxo de Salomão.

São pessoas que são muito sábias e muito pragmáticas a dar conselhos, mas que não aplicam esses mesmos conselhos na sua vida, no seu dia-a-dia. Tal como o rei Salomão, ao que parece. Não é bem o tradicional "olha para que eu digo, não olhes para o que eu faço", mas quase. Digamos que é um upgrade.

E quase - quase - poderia jurar que me incluo nesse tipo de pessoas.



Chuva

Finalmente, chuva! Il pleut!

Chuva para um Verão que se adivinha tórrido e caliente como uma paixão de Verão*.

*A partir desta frase, é fácil adivinhar que ando a ler muita literatura light , livros escolhidos aleatoriamente da prateleira do Pingo Doce para não "pensar muito".

Mas, sinto muito, é verdade.


quinta-feira, janeiro 28, 2021

Godzilla, Joyce e vinhaça.

Já não venho aqui desde o ano passado. E não senti falta para ser honesto.

Como podem constatar, Portugal é um enorme complexo hospitalar. Os prédios onde vivemos são blocos, as casas são salas de espera. Ninguém convida ninguém. As nossas sombras querem sair à rua e não podem. A minha faceta adolescente aguarda por uma Godzilla que irá emergir a qualquer momento do oceano e arrasar tudo de vez. Ou então o súbito aparecimento nos céus de um esquadrão de ovnis de Arcturo ou das Plêiades. Ou menos as notícias mudavam. Mas não. Hospitais. A.V.. Ambulâncias. UCIs sobrelotadas, Boavista em último. Só tragédias.

Kafka, Tzara, Joyce, Cendrars, não tenho paciência, tudo para canto. É o mais triste filme de Fellini. As ruas são um baile de máscaras azuis, um cortejo solitário. Mas o que é isto? Um mega-teste à Humanidade? Um gigantesco exercício estóico? A Grande Depressão parte II? Durante semanas alimento-me apenas de iogurtes magros, arroz no forno e rodelas de banana com manteiga dos Açores. E álcool, claro; garrafas, pipas e mais pipas de vinho, "ambi pur" com fragrância do tal vinho da Lixa por toda a casa.

sábado, novembro 14, 2020

Princesa chinesa

Uma princesa chinesa

caminha entre nós. 

Não olhem, 

não ouçam, 

a profecia

ou a memória. 

Ela caminha erecta, 

de estatura matinal, 

carregando um jarro de escuridão

na sua cabeça. 

Fiquem quietos, 

não se mexam, 

o jarro está cheio

do orvalho dos seus olhos. 

Ela carrega-o erecto

nestes tempos inconstantes. 

O seu equilíbrio

é espantoso, 

não a assustem, 

tenham compaixão por ela, 

para vós próprios, 

cada gota

o nosso resgate. 

A princesa caminha

em segurança,

com coragem. 

Ela já está à porta, 

à espera

de subir as escadas.


quarta-feira, outubro 14, 2020

A escada em caracol

O que é que faz aquele homem de Deus subir a mesma escada em caracol uma, duas, três vezes por dia? Não há nada lá em cima, não há vistas grandiosas, não há nada que o surpreenda, não tem nenhum objecto que precise - porque é que ele continua a subir e a descer a estreita escada como um maníaco?!
Talvez seja um simples exercício de meditação. Talvez seja um acto compulsivo que não consegue resistir, um ritual, uma superstição. Talvez até seja um exercício cardio, quem sabe? E olhem só para aquelas manápulas. Parecem pequenos baldes de retro-escavadoras!
Nada disto faz muito sentido. Que homem tão estranho.

segunda-feira, outubro 05, 2020

Once

quarta-feira, setembro 23, 2020

Jardim do Éden

Sinto esta absoluta necessidade de ser convidado para algo. Sinto esta absoluta necessidade de embarcar num navio a vapor e contornar a costa das Sirtes e do Alto Volta. A minha Olivetti Lettera não sabe escrever romances grossos e maçudos - uma grande vantagem nos dias que correm. A minha Olivetti Lettera no centro do meu café para-burlesco. Quero abrir um Cabaret Voltaire, servir cocktails sofisticados e dançar ao som do "rock and roll". Fumo, fumo, muito fumo. Quadros de Georgia O'Keeffe e de Mary Cassat espalhados pelas paredes. Pinturas medíocres dos Alpes. Absinto e jóias baratas, cartas de tarot gastas, espreguiçadeiras de veludo manchadas. Pequenos labirintos para os WCs. Proibida a entrada a faquires menores de idade e a certos jesuítas. As palavras fazem ricochete na minha Olivetti Lettera - sejam bem-vindos ao "Jardim do Éden"!


quinta-feira, setembro 03, 2020

"Mountolive", Lawrence Durrell