quinta-feira, dezembro 26, 2019

Loverboy

O vídeo foi filmado em Durdle Door, Inglaterra. 
Logo no início, Billy Ocean aparece pela primeira vez. Os efeitos da câmera deformam a imagem numa pirâmide e o universo aparece em segundo plano. 
O protagonista mascarado cavalga numa praia ao som da batida da música. Chegam a uma caverna de onde saem tubos prateados. Há uma festa com vários personagens estranhos, alienígenas. Música. Alguns personagens conversam, outros deambulam pelo bar. O herói observa uma "mulher" - bastante parecida com a Dark Crystal - que está sentada ao lado de outro personagem - que se assemelha bastante ao Beast Man dos Masters of the Universe. Talvez seja a personagem mais feia do vídeo. A "corte" do protagonista transforma-se num ritual de cio. Tensão no ar. Há um tiroteio com armas laser, o "vilão" é abatido e o protagonista/herói leva a mulher pela mão. Ambos fogem da caverna e cavalgam pelo areal fora.
O realizador deste vídeo incrível é o inglês Maurice Phillips (1948-2012).

sexta-feira, dezembro 20, 2019

Curtas & grossas: mais "greguerias"

- O meu sentido Aranha está desregulado há três anos. Parece que há uma ameaça de perigo eminente (em espanhol, "lucha o huida"), mas quando olho em redor, não há nenhum Dr. Octopus, nenhum Green Goblin, nenhum vilão, nada. Não há nada de realmente ameaçador.

- Faço backups (em espanhol, "copias de seguridad") de mim mesmo de meia hora em meia hora. Tenho medo de apagar sem querer a minha psique.


  - A senhora dos Roxette (antes de falecer) estava a dar-me formação de como conduzir um pesado. Não tirava os olhos dela, estava muito atento a tudo o que ela dizia e fazia. She's got the look. O veículo pesado era um daqueles camiões-cisterna com vinho do Porto. Só que em vez de transportar vinho, transportava leite. Sim, leite (em espanhol, "leche"). Todas as caves do vinho do Porto se tinham transformado em leitarias. Os turistas provavam cálices de leite vintage de 1971, 68, 63, etc. Havia fotos das melhores vacas dos melhores anos nas paredes das caves. Os telhados das "caves" eram de cor branca, as paredes eram de cor branca. Já ninguém se lembrava da Ferreirinha. A nova senhora do leite do Porto era agora a Marie Fredriksson, a vocalista dos Roxette.

- Preciso de uma aguça especial para afiar os meus sonhos e os meus pensamentos.

- Sempre que vou a casa de algum amigo que tem Budas espalhados por todos os cantos, penso em destruição. Apetece-me sempre escacar todos os quadros, todas as estátuas, todas os jardins zen com representações búdicas*.
*Sidarta, perdoa-me, mas tu sabes do que estou a falar.

- Pessoa é sobrevalorizado. Não estou a ser polémico. Estou a dizer o que me vai no coração. Foi o melhor poeta da minha adolescência e ser-lhe-ei sempre grato. Obrigado, ó Fernando.

- Todos nós temos ligação Bluetooth com o Divino. Alguns ainda não estão acoplados, mas todos nós temos essa funcionalidade básica. Eu descobri-o da pior forma e até me aleijei na cabeça.

- Os melhores jogadores de póquer que conheço trabalham nas repartições das finanças.

- Os comanches eram os vikings das Grandes Planícies. Destruíam tudo por onde passavam. Piores só mesmo os caras-pálidas, os cruzados do Oeste americano.



segunda-feira, novembro 25, 2019

The Housemartins - Build



"London 0 - Hull 4"

sexta-feira, novembro 08, 2019

Fernão de Magalhães

Os defensores da teoria da terra plana vêem Fernão de Magalhães como um anti-cristo. Ou simplesmente como um louco enganador. 
A perspectiva das coisas é uma coisa estranha. Somos seres estranhos. Como é que um tipo nascido no meio da serra mete na cabeça que tem de provar à humanidade que a Terra é redonda, derrubando as teorias ptolomaicas, "aniquilando" dragões, leviatãs e outras criaturas hediondas que povoavam o mar? 
"Não passarás as Colunas de Hércules", eis o 11.º mandamento dos pensadores do mundo antigo.
"Ai é, vou provar o contrário: eis-me quase circum-navegado", pontapeia Fernão M.

Quantas vezes fazemos circum-navegações à volta da nossa cabeça durante um dia? Não estou a plagiar Cortázar (como poderia!), mas quantas vezes o nosso ego nos prega partidas com medos e outros monstros durante um dia? Magalhães queria novas rotas de especiarias e prestígio (obviamente), mas o seu ego e o resto acabam por morrer às mãos de uma tribo local nas Filipinas. O primitivo mata o cristão. Assim reza a história. Naturalmente, o homem de Sabrosa permanece eterno.
Mas agora a pergunta que se impõe é:
O ego pode morrer depois de tantas e aturadas circum-navegações mentais para dar lugar a algo mais sublime, mais grandioso? A maya do ego pode ser rasgada?
Se me responderem que tudo isto faz parte da nossa experiência bípede e humana, digo-vos já que não irão ganhar o prémio para a resposta mais original.

segunda-feira, outubro 14, 2019

quinta-feira, outubro 03, 2019


quarta-feira, outubro 02, 2019

Mais um dia de trabalho

Tive o encanto de conhecer ontem quatro pessoas. Graças ao meu novo métier, conheço muitas pessoas todos os dias, de todos os cantos do mundo. 
Eram dois casais. Um casal jovem e outro mais velho. Muito mais velho - o senhor Eckart estava a celebrar o seu 81º aniversário. Fartou-se de receber chamadas durante todo o dia. O senhor Eckart era muito simpático, muito vigoroso, parecia ter menos vinte anos. O seu segredo? Ele e a mulher caminham cinco quilómetros todos os dias, andam muito de bicicleta e fazem sempre a saudação ao sol quando acordam. Para quem não sabe: a "saudação ao sol" é um asana/sequência de exercícios de ioga. O senhor Eckart é um apaixonado pela vida.
O casal mais jovem estava a percorrer o mundo. Ele era cozinheiro, já tinha trabalhado na Tailândia e Hong-Kong. Falava um Inglês temperado com sol e mediterrâneo. Por vezes desaparecia e surgia com uma SB ou uma Sagres na mão (estava claramente a marimbar-se para a nossa rivalidade norte-sul, para a nossa entediante guerra de secessão nas bancadas e fora delas). A companheira, uma moça franzina, sorria com os olhos e era a mais calada do grupo.

Quando perguntei de onde vinham, ocorreu-me imediatamente que iria ser um longo dia e que estavam reunidos os ingredientes para correr tudo mal.
Correria seguramente tudo mal se viajássemos setenta anos para trás e o ponto de encontro fosse algures na Alemanha. Ou simplesmente não correria
O senhor Eckart e a mulher eram de Hamburgo. 
O jovem casal vinha de Israel. Ele nasceu em Haifa e ela era russa. Ambos falavam hebraico.

De volta ao presente. Deram-se às mil maravilhas, foi um belo dia de trabalho e lazer. Os meus receios estereotipados caíram por terra. Não foram abertas feridas, a História do século XX ficou nos livros, o inconsciente colectivo não foi escavado.
Apenas um pormenor curioso: no final do dia, confessaram-se ateus. Todos os quatro (mais uma "estereotipada", na minha cabeça todos os israelitas são judeus). Abençoei-os na mesma e desejei-lhes uma vida longa e próspera.


quinta-feira, setembro 19, 2019

Purificação pelo fogo

Lembrei-me agora que se recolhêssemos todas as obras escritas para a gaveta, obteríamos uma bela e grandiosa fogueira. Ocorreu-me logo a seguir que se juntássemos todos os best-sellers do momento, tal empreitada daria uma belíssima e ainda mais grandiosa fogueira.

segunda-feira, setembro 09, 2019

O Senhor Colaço

Existe um painel de azulejos muito curioso na estação de São Bento, no Porto. 
É um painel pequeno, discreto, passa despercebido face à imponência dos outros painéis históricos.
Jorge Colaço, o grande criador dos azulejos, fez uma "espécie" de cartoon em que o engenheiro e o arquitecto da estação estão representados como duas velhas enquanto que o próprio Colaço representa-se como um músico galando as moças. 
A literatura também deveria ser assim. 
O autor não se leva muito a sério, faz pouco do politicamente correcto (fazer pouco é fazer muito, neste caso), tem uma visão irónica e bem humorada das coisas sem nunca perder a consciência do dramático. Nem sequer vou falar destas obras, porque tenho a certeza que vocês sabem quais são.
"Para triste já basta a vida", dizia-me uma senhora brasileira - brasileira, sim - que confessou não querer conhecer a Sé por dentro porque já sabia o que ia encontrar.

sábado, agosto 31, 2019

sexta-feira, agosto 09, 2019

Vida

E quando damos por ela (adoro esta expressão, quem é "ela", será a própria vida?), estamos a viver. Mal ou bem, estamos a viver. É o grande denominador comum entre um caçador do Alaska, um puto rico de Denver, CL, uma freira de Madras ou os romenos mudos que pedem no largo da Sé do Porto. Todos eles vivem.
Tento aplicar esta diversidade de vida nas minhas leituras. A louca biografia do Slash, o Novo Testamento (o Antigo deixa-me um pouco agoniado) e os "Contos Reunidos" do Felisberto Hernandez. 
A vida é também isto: fim de tarde em família, um bebé adolescente (os ingleses têm a categoria de "toddler" para este tipo de criatura) a rasgar as melhores páginas do Livro do Desassossego enquanto ri como um diabrete e vê a "Patrulha Pata". O novo a destruir o velho, a vida a regenerar-se, um sinal do universo a dizer-me que o paradigma pessoano já viveu melhores dias. Talvez seja impressão minha, nunca fui grande fã do Pessoa. Naturalmente, o grande neurótico será sempre melhor que qualquer um de nós. Urge beber absinto em vez de gin xpto ou cerveja artesanal que custa os olhos de cara. Vamos todos beber absinto dentro ou fora dos carros enquanto esperamos nas longas filas da Galp.

segunda-feira, julho 15, 2019


quinta-feira, julho 11, 2019

Cardo mariano

Este poema tem
um carácter
exclusivamente informativo:

deixei de acreditar
no "poder da poesia"
há bastante tempo.

O cardo mariano
é bom para todas
as maleitas da vesícula e do fígado:
cirrose, hepatite, etc.

Bêbedos do meu coração!
Tomai chá de cardo mariano
para curar as vossas ressacas.

Chá de alcachofra também serve
mas tem sabor a mijo
(nunca provei mijo
- uma forma de terapia -
mas deve ser parecido).

Já sabem: chá de cardo mariano*.
Garanto-vos que é melhor
do que "cholagute".


*Também é conhecido como
cardo-leiteiro,
cardo-santo ou
serralha-de-folha.

sexta-feira, julho 05, 2019

Little Nemo

Sim, o sonho foi mais ou menos assim.

terça-feira, julho 02, 2019

Sobreurbano

A tela das vistas da nova casa é preenchida por lotes com pequenos canaviais e arbustos. Alguns montes de terra escura revolvidos pelas escavadoras (muito modernas, nada retro) aguardam; camiões enormes a dizer "Transporte Excepcional" abanam a rua de meia em meia hora. Homens com coletes verdes entram e saem do novo estaleiro, mais um prédio na forja. Em segundo plano, estende-se um conhecido Pingo Doce - quando é a próxima promoção mesmo? Três nesgas de Atlântico lá ao longe completam esta provável "instalação" do Banksy. Tanto quanto sei, pode ser aquele "mano"/"filho" de boné a descer a rua de longboard ou o velho negro com as sacas cheias que pára de vez em quando para respirar.


sábado, junho 29, 2019


terça-feira, junho 25, 2019

Keith

Para atestar o post abaixo, aqui está um exemplo de um bom contador de histórias.

A propósito, "Life" é uma das melhores biografias que já li.

quarta-feira, junho 19, 2019

Contar histórias

Desceu em mim que precisamos de contar e escutar histórias. É uma necessidade básica que se encontra no fundo da pirâmide. Contar histórias é tão obrigatório quanto o sexo. Não estou a falar de "Alta Literatura", seja lá o que isso for. A pequena história que ouvimos paragem de autocarro ou no café que levamos para casa para recontar. Mais uma vez, regressamos à infância onde (é um local físico, sim) ouvíamos histórias para dormir. Contar histórias serve para unir. Os nossos antepassados que viviam em cavernas reuniam-se à volta da fogueira para contar histórias. Os laços eram reforçados, o grupo ficava mais coeso. Até o boato em ambientes corporativos serve para cimentar relações, fazer alianças.
No meu caso, conto histórias para acrescentar algo em mim e em alguém, para dar banhos de espuma ao meu Ego, para pavonear-me face ao leitor desconhecido. Talvez  funcione também para seduzir inconscientemente potenciais leitoras, para marcar território. 
Se estiver enganado, se estiver a dizer barbaridades, não me prestem atenção, mandem-me contar histórias para outro lado.
.

quarta-feira, junho 12, 2019

Os rosacrucianos e o meu gato

O "meu" gato (baptizei-o de Ozzy se querem mesmo saber) só entra no escritório quando estou a ler algo bom. E quando escrevo bom, refiro-me a Flannery O'Connor, Rabelais, Dickens (nem todos), Hrabal ou qualquer obra de Christian Rosenkreuz. Folheava ontem as "Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreuz" (apenas porque gosto de ler sobre rituais de iniciação) e o gato senta-se no meu colo quase a pedir-me para ler em voz alta. Os rosacrucianos acreditam na reencarnação, talvez o gato esteja muito interessado em saber mais sobre a temática. Uma outra obra que aborda a reencarnação é "A Bela Adormecida" de Perrault que, como é sabido, não escreveu as fábulas ao acaso. Nem os Grimm. Nem o La Fontaine. Muito menos o Carroll.
O Ozzy senta-se sobre a "A Bela Adormecida" e usa-o como um pequeno tapete de ritual onde parece meditar sobre a condição humana (até, naturalmente, escutar o ruído característico do saco da ração a ser aberto).

quinta-feira, junho 06, 2019

Em mudanças. Volto já.

quinta-feira, maio 23, 2019

quinta-feira, maio 02, 2019

sexta-feira, abril 26, 2019

"O Dicionário Kazar"

À espera


Ontem, fui o jovem Aldo no golfo da costa de Sirtes.
Hoje, sou ainda o tenente Giovanni Drogo na fortaleza Bastiani, à entrada do deserto dos tártaros.
Amanhã, serei também o tio Pepin na cidade onde o tempo parou.

quarta-feira, abril 24, 2019

Malabarismo

Tem dias que dou por mim a fazer malabarismo com três bolas.
Já as baptizei: uma chama-se Clarisse L., a outra é a Teresa de Lisieux e a terceira é a Raquel Welch (anos 60, naturalmente). As mulheres e o que elas representam - sempre.
Quando deixo cair uma delas, a minha psique racha um pouco e apanha alguma estática, desligo-me do mundo por uns momentos. Fico paralisado.
E a minha pergunta é muito simples: que força é esta que me faz pegar nas bolas (ou nas tochas, se for menos ambíguo para alguns de vós), sabendo que, mais cedo ou mais tarde, vou deixar cair uma delas? Que fascínio é este?

terça-feira, abril 09, 2019

"Perks"

Um dos muitos prazeres que tenho no meu actual trabalho é poder ir ao wc e verter águas no lavatório "zen" estilizado enquanto recito Fernando Pessoa, o nosso genial poeta e o mais cromo dos gajos. Deixo a porta entreaberta atrás de mim para aumentar o risco de ser caço. É claro que lavo tudo com Cif e faço cho-ku-rei para limpar as baixas energias antes de sair. A minha cara de pau fica completa quando volto para o meu lugar e pergunto ao meu colega da frente se já foi ver o filme "Snu".
Giorgio Manganelli e Alda Merini

terça-feira, abril 02, 2019

sexta-feira, março 29, 2019

Do Medo

O Medo não passa de um rinoceronte que viveu durante muito tempo numa gaiola do Aki. Acreditava - apostava até o seu chifre - que estava bem onde estava, apesar de se sentir algo desconfortável de longe a longe. Um casal de periquitos, a Dúvida e a Cisma, visitaram-no pela primeira vez e - espantem-se! - reclamaram aquele espaço como seu. O rinoceronte ficou muito, muito assustado, só conseguia respirar dentro daquela gaiola pequena, impensável pôr sequer uma pata fora da sua gaiola. E depois? Depois foi o cabo dos trabalhos.

segunda-feira, março 25, 2019

Jonas e eu

O AT diz que uma baleia engoliu Jonas durante uma tempestade. Jonas pediu ajuda a Deus durante os três dias que passou dentro da baleia. Acabou por ser regurgitado para as costas de Nínive, cidade assíria e inimiga dos judeus.
No meu caso, sinto que engulo uma baleia durante as tempestades e que a baleia sobe para a minha cabeça em vez de descer para a minha barriga. Digam-me: como é que eu posso regurgitar uma baleia da minha cabeça de uma vez só? Pergunto isto porque tenho-o feito aos poucos e o "grande peixe" parece não acabar.

quarta-feira, março 20, 2019

Karl Nicholason 

domingo, março 10, 2019

Isabel

A mãe da minha amiga chama-se Isabel. O seu pai chama-se Isabel. A Isabel (nome da minha amiga) tem duas irmãs chamadas Isabel, duas primas que se chamam Isabel, dois primos que se chamam Isabel e uma tia e um tio que também se chamam Isabel.

O tio e a tia de seu nome Isabel já tiveram alguns amigos chamados Sr. e Sra. Isabel, que tinham uma menina chamada Isabel e um menino chamado Isabel. A menina tinha bonecas, três bonecas, chamadas, respectivamente, Isabel, Isabel e Isabel.

A família da minha amiga adora um Deus chamado Isabel.

quinta-feira, março 07, 2019

segunda-feira, fevereiro 25, 2019

A noite escura - apontamento 34



Quando despedimos o Ego e sus muchachos (ilusões, fantasmas, pensamentos, crenças, fantasias, dúvidas, etc.), eles estrebucham um pouco, fazem um pequeno escândalo, mas lá se vão embora. Fazemos isto centenas, milhares de vezes.

No entanto, eles acabam por voltar no dia seguinte para nova inserção no mercado de trabalho da Mente. Tensão, nervosismo, ansiedade, bzzzz, mau ambiente na sala. Só que, desta vez, o senhor Ego está ligeiramente mais débil por tentar demasiadas vezes assumir o controlo das operações; a verdade é que já não temos muita paciência para as suas veleidades e flutuações de humor. O grande mentiroso é exposto.

Vamos deixá-lo sentar-se naquela cadeirinha de vime, o senhor Ego está a falar sozinho novamente, não tarda nada está a ressonar.

Ou então, talvez...talvez, vamos dar-lhe toda a nossa atenção. Vamos sentarmo-nos à sua frente e escutar o que tem para dizer, sem meias doses, sem desvios, sem contemplações, por mais aterrador que isto possa parecer.

"Ok, dá o teu melhor, diz o que tens a dizer, estou aqui para ti."

 O melodrama do nosso relacionamento com o Ego poderá transformar-se numa comédia.

sexta-feira, fevereiro 22, 2019

A arte enquanto salva-vidas. Bill Murray raramente desilude.

E o quadro é este.

quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Vídeos pedidos

Para a P.


terça-feira, fevereiro 05, 2019































Tratem-me por Ismael. Há alguns anos – não interessa quando – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira e, sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a  navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de  afugentar o tédio e de normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre que a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e, principalmente, quando a neurastia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar os chapéus de todos os transeuntes que encontro na rua – percebo então que chegou a  altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível.(...)

"Moby Dick", Herman Melville

quinta-feira, janeiro 31, 2019

Dia

Trabalho num escritório. Introduzo dados num programa de computador durante todo o dia. Às vezes, vou ao WC. Faço duas pausas de 15 minutos, uma de manhã, outra à tarde. Assino um livro de ponto no final do dia.
É isto. Acho que não me esqueci de nada.

quarta-feira, janeiro 30, 2019

Noite escura da alma - nota VII

Todas as armadilhas nos nossos caminhos, todos os grandes atrasos ou recuos, todas as deambulações fora da pista, tudo isto não é o que parece ser. Quero dizer que tudo o que parece ser um erro tremendo não é um erro tremendo, tudo o que parece erro não é erro; é, antes de mais, tudo o que tem de ser feito. O que parece ser um passo em falso não é mais do que o próximo passo.

No jardim

Sentei-me no meu banco do jardim favorito. As três árvores que estavam atrás de mim deixaram de falar. Interrompi-lhes a conversa. Fecho os olhos (não consigo fechar os ouvidos e seria ridículo tapar as orelhas). Cruzo os braços, uma motorizada desce a rua aos tropeções. O silêncio aproxima-se devagar. Não está ninguém no jardim àquela hora. Começo a escutar os primeiros murmúrios feitos pelas folhas. É quase sempre assim.
"Costas direitas" diz a mais entroncada, um velho carvalho.
"Como nós", acrescenta a bétula.
"Pés como raízes até tocares nas nossas raízes".
"Deixa cair as folhas secas".
Vejo clarões verdes com os olhos ainda fechados. Fico assim durante algum tempo.
Quando me levanto, olho para elas. 
À medida que me afasto, retomam a conversa que estavam a ter antes de eu chegar. Uma conversa naturalmente séria, em tom grave, fora do meu alcance.
 

quinta-feira, janeiro 24, 2019

Ainda a noite escura da alma

Aquele que procura irá deixar de ser o barro para ser o oleiro que molda esse mesmo barro.
Se, por um mero acaso, conseguir ser barro e oleiro, algo de muito extraordinário ocorre.

Lao-Tse e Confúcio sorriem.

segunda-feira, janeiro 21, 2019

Noite escura da alma, outro apontamento

Quando despertas, não podes voltar a dormir.

Noite escura da alma, um apontamento

Somos grãos de areia - nisto creio estarmos de acordo. Somos enrolados pelo mar, como diz a música, e depois esperamos ao sol. Esperamos que Ele, com a sua máquina de detectar metais, passe por cima de nós. Se escondermos algo precioso, Ele poderá parar e escavar. Somos então revolvidos, abanados, atirados para o ar. Ele acredita que vale a pena. Mas a praia é imensa e somos muitos.
Não há outro remédio senão aguardar um pouco.

sexta-feira, janeiro 18, 2019

Ana Sender, ilustração baseada na história tradicional russa "O Lobo"


sábado, janeiro 12, 2019


quinta-feira, janeiro 03, 2019


(clicar para ampliar)

Da pintora chinesa Leng Jun (冷军)