terça-feira, fevereiro 05, 2019































Tratem-me por Ismael. Há alguns anos – não interessa quando – achando-me com pouco ou nenhum dinheiro na carteira e, sem qualquer interesse particular que me prendesse à terra firme, apeteceu-me voltar a  navegar e tornar a ver o mundo das águas. É uma maneira que eu tenho de  afugentar o tédio e de normalizar a circulação. Sempre que sinto um sabor a fel na boca; sempre que a minha alma se transforma num Novembro brumoso e húmido; sempre que dou por mim a parar diante de agências funerárias e a marchar na esteira dos funerais que cruzam o meu caminho; e, principalmente, quando a neurastia se apodera de mim de tal modo que preciso de todo o meu bom senso para não começar a arrancar os chapéus de todos os transeuntes que encontro na rua – percebo então que chegou a  altura de voltar para o mar, tão cedo quanto possível.(...)

"Moby Dick", Herman Melville