sábado, dezembro 22, 2018

Jingle de Natal

Até sabermos quem somos de verdade, todo o conhecimento que adquirimos, tudo o que aprendemos, é pura ignorância acumulada.

quarta-feira, dezembro 19, 2018

Beijo

Vou contar-vos o meu proto-sonho de hoje. 
Vocês não tem nada melhor para fazer e eu também não. Vamos a isso.

Jon Bon Jovi e aquele pessimista romeno, o Cioran, estavam em cima de um muro de pedra a contemplar o pôr-do-sol.
Bon Jovi começou a cantar "Living on a Prayer" ao ouvido de Cioran que tentava encontrar um sorriso sob os destroços daquela sua expressão de betão.
"És o último dos dandies", disse Cioran.
"Cresceste em mim. Semeaste a semente de mostarda do teu amor no meu coração e nunca mais fui o mesmo", desabafou JBJ.
Abraçaram-se e beijaram-se como só dois homens intensos e apaixonados se podem beijar.

terça-feira, dezembro 18, 2018

quarta-feira, dezembro 05, 2018


quinta-feira, novembro 29, 2018




Este tema tem o alto patrocínio da Maçonaria. Tenho quase, quase a certeza. A letra não engana.

sexta-feira, novembro 23, 2018

Em algumas peças de bordado, o lado que fica escondido é bastante diferente do lado que fica visível. Na frente, tudo é simétrico, colorido, bonito. Atrás, nem sempre é assim.
A minha professora de Têxteis dizia-nos que o lado tapado, a parte escondida da peça, deveria ficar o mais semelhante possível ao lado exposto, à parte para decoração.
Todos temos um elemento de duplicidade. O tempo acentua essa duplicidade até ficar insuportável.
Nem tudo é suposto estar na frente.
A uma determinada altura, vemo-nos obrigados a virar o lindo pano bordado e ver o que temos oculto, a parte menos bonita. Creio que aprendemos sempre algo com as pontas de fio soltas, com o "feio". Julgo que, deste modo, ficamos finalmente conscientes da peça toda. Poderá levar algum tempo, no entanto.

quarta-feira, novembro 21, 2018

O primeiro pensamento que me caiu em cima hoje de manhã ao acordar:

"Vais ligar ao Manuel Luís Goucha. Vais elogiar-lhe as fatiotas e propor-lhe redigir a biografia em jeito de ghost writer. Vais encontrar-te com ele numa grande estação ferroviária (ia usar o galicismo "gare" mas arrependi-me), tomar um capucino e pedir-lhe para falar sobre a sua vida antes da Cristina."

E é assim que se começa o dia.

sábado, novembro 03, 2018

quinta-feira, novembro 01, 2018

Mamoudou, o mauritano


Ando arredado deste blogue porque estou a atafulhar a minha cabeça com números e lentes.
As minhas desculpas ao meu único e estimado leitor que me segue da Mauritânia.
Mamoudou, o mauritano, vive numa aldeia a norte do intrigante "olho de África".
Confessou-me que gosta muito de Barry White e Sade (a cantora) e que se orgulha do seu passado de Atlante. O seu sonho é conhecer o Algarve de sotavento e barlavento e passar um mês num resort de "papo para o ar". Lê avidamente J. L. Borges e dispensa Pessoa porque acha-o muito chato e "previsível".
Mamoudou, o mauritano, pediu-me para escrever este pequeno texto para o único leitor deste blogue.
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terça-feira, outubro 23, 2018

Armistício

Hoje sonhei com o Marechal Foch.
Estava na sala de espera de uma destas modernas clínicas dentárias. Foch chegou, tirou as medidas à sala e olhou para mim durante uns bons dois minutos. Depois, sentou-se a meu lado (a sala estava praticamente vazia) e perguntou-me que horas eram.
- São três e vinte, meu General, disse-lhe.
Foch ainda não tinha sido distinguido com o posto de marechal.
- Está na hora, meu rapaz.

Sim, o momento chegou. Estou pronto para assinar o Armistício com a minha mente.

sábado, outubro 13, 2018

terça-feira, outubro 09, 2018

Colóquio

Acho que foi o G. Grass que disse "eu não sou fiel mas sou dedicado".
Pois bem, eu sou dedicado aos meus humores, aos meus fígados. Durante algum tempo, abafava-os numa bacia escura, metálica, mas essa bacia começou a transbordar. Verpiss dich Freud! Arschloch! 
De qualquer maneira, quero pensar que respeito agora esse lastro de "muddy waters" e ponho-o ao sol a corar. Não, já não barro esse pastoso lastro cinzento com geleia de optimismo ou condescendência para depois se transformar numa coisa intragável e falsa. O pequeno budinha risonho (que não é o verdadeiro Buda , mas não me apetece explicar isso agora) ri-se ainda com mais vontade, mesmo à minha frente.

Outra coisa. O Marx (vou dizê-lo com todos os dentes e próteses, com quase toda a certeza do mundo) e o Lenine eram meninos de coro quando comparados com o Lutero. Pensem.



segunda-feira, outubro 01, 2018

Restos de verão

Na esplanada "Escobar" todos os clientes são especiais.
Mãe e filha estão sentadas duas mesas à minha frente. A filha tenta explicar como funciona o novo smartphone da mãe. Começa todas as explicações com um "Oh mãe" impaciente, mas a mãe tolera-a. A filha tem pernas macias, robustas de ginásio, mas não muito trabalhadas, um celulite residual baila perto das nádegas quando cruza e descruza as pernas. Viajo para longe.
A mãe cinquentona desafia-me com um olhar seco e verde. Não querendo ser vulgar, vê-se que a senhora ainda tem gasolina no depósito para gastar. Não sei se me reprova ou se tem ciúmes. O meu ego incha e vai molhar os pezinhos no mar.
A água está gelada, chega o namorado da filha. Cumprimenta-as. A mãe olha agora para mim com algum gozo enquanto parece desfrutar daquele falso ménage.
Peço mais um fino e um pratinho de tremoços. Finjo ignorá-las e volto ao que não estava a fazer.

Despedida do verão

terça-feira, setembro 25, 2018

"Ah"

Informo-vos que gostaria de estar - neste momento e no momento a seguir - na Bahia Drake, Costa Rica, a beber água de coco enquanto folheava languidamente um livro sobre cultura pré-colombiana.
À falta de melhor, comprei um Jeff Abbott usado, "Colisão", e apostei no território nacional. Dois euros e meio (o livro apenas, viagem e estadia não incluídas).
O livro tinha vários sublinhados e algumas notas na margem a classificar de "giro" e alguns "ah" em certas passagens.
O leitor/antigo dono deste livro deixou de fazer isto ao fim da terceira ou quarta página, talvez porque já não achasse "giro" ou talvez porque tornou-se absurdo sublinhar todas as passagens e avaliá-las com um "ah".
Acho que me enquadro nesse tipo de leitor, o leitor "ah".

segunda-feira, setembro 24, 2018



terça-feira, setembro 11, 2018

Pequeno "cair da ficha"

Realizei-me agora da bipolaridade dos meus últimos textos. Descansem, estou em crer que sou apenas um simples e inofensivo neurótico à procura de algo. Tenho a dizer a meu favor que sou incrivelmente bem-parecido e que funciono bem a quase todos os níveis.
Não, não me considero narcisista (se bem que um narcisista poderia dizer isto), sou antes um grande empata. Empato-me a mim mesmo na maioria das vezes e tenho isso bem presente. Acho que faz parte do meu charme.

Revista Maria

Revista Maria,

Às vezes vou à biblioteca da minha cidade e sou crivado com olhares por parte de uma funcionária quarentona que é muito voluptuosa, muito atraente. Eu devolvo-lhe o olhar mas como sou muito tímido, disfarço folheando um livro qualquer do José Maria Tallon ou "A Bíblia da Menopausa".
Ora isto está cheio de universárias muito bonitas mas que não me interessam minimamente.
Os meus amigos gozam comigo quando lhes contam, não me compreendem.
Serei normal? O que posso fazer para combater a minha timidez? Não sei mais o que fazer.

Obrigado.

sexta-feira, setembro 07, 2018

Dores de parto

Experimentamos plenas dores de parto, estamos todos a renascer, todos os dias. Uns são mais sensíveis, sentem mais do que outros, o que é normal. Mais dor, mais vale de lágrimas, mais sofrimento*.
Vivemos numa espécie de Idade Média da Mente (ofuscados ou seduzidos pela ilusão da Tecnologia) em que tudo é permitido, o logro, a ilusão, a imbecilidade, o ruído, a distracção ("tracção para diversos lados", descentrar, falta de atenção). A Verdade (Deus, se quiserem) está nas pequenas coisas como diria a indiana Arundhati Roy.
No entanto - e trago esta certeza comigo como uma segunda pele - acredito num novo Renascimento.

* Curioso que quando vamos a um médico - por qualquer motivo - ele não pergunta "Como pensa?"; pergunta antes "Como se sente?".

segunda-feira, setembro 03, 2018

Rapidinha

Ora aqui segue uma história que creio que nunca foi contada.

Um homem vem à varanda e apoia-se no seu tapete que está a arejar. Acende um cigarro e olha para um céu cinzento, triste, muito contemplativo. O que estará ele a pensar? Mora no 4ª andar e a sua varanda-cubículo é a única do prédio que não tem marquise.
A vizinha do 3º aparece na terceira passa do vizinho de cima. Começa a estender a roupa, fá-lo com uma ligeireza que irrita um pouco. Deve ter uns cinquenta anos e usa uma blusa com um decote ousado.
O homem desce o olhar a pique e vê as raízes brancas do cabelo pintado da mulher. Estou  convencido que consegue ver mais coisas.
Ela não se dá conta daquela presença superior. Suspira, acabou de estender a última peça de roupa e fecha a janela da marquise com alguma violência.
O homem fuma a última passa e vai para dentro.
O cinzento do céu prolonga-se para tarde fora.

quarta-feira, agosto 29, 2018

Paciência

O ideal seria isto:
os meus pensamentos têm sempre via verde. Todos eles. Os legais e os ilegais. Não há controlo alfandegário. Não há muros de Berlim, texmex, etc. Olho para eles, aceno, sorrio se estiver bem disposto, etc. Porque se reagir ao seu tráfego, eles criam laços, há uma identificação e eles encostam-se a mim, à minha permeabilidade e não avançam. Ficam para jantar.
Mesmo aqueles que querem voltar para trás, vindos não sei de onde, porque simplesmente gostaram da decoração, do recheio da minha linda cabeça. Não, meus amigos, têm se seguir caminho. Acabaram-se os caramelos, as caracoletas.

Paciência. Sim, muita paciência.

quinta-feira, agosto 23, 2018

O Tao Torturado de Tom Ford

Estava aqui a pensar. O que é que o Tom Ford não sabe fazer?


So who is the real Tom Ford? He's a modernist who speaks with nostalgia about the past. A radical who considers himself old-fashioned ("Loyalty is very important to me"). An insomniac who drinks multiple cups of coffee a day ("I completely rely on sleeping pills and tranquilizers to go to sleep"). A recovering alcoholic who sees a therapist once a week ("It used to be two or three times a week"). And an A-lister who critiques the very lifestyle that has made him rich (though never the people who live it, paying $200 for his sunglasses or $3,000-plus for his suits).

terça-feira, agosto 21, 2018

quarta-feira, agosto 08, 2018

Santo Inácio de Loyola

domingo, agosto 05, 2018

Três rapidinhas


1. A canícula impede-me de escrever coisas interessantes. Sou muito sensível ao calor térmico. Quase, quase que ia escrever "calor humano" mas o meu poderoso gene dostoevskiano filtrou tal coisa.
O suor generoso escorre-me de forma ininterrupta pelos braços e nascem-me membranas interdigitais feitas de suor seco. Sou um pato-homem. Tenho muita, mas mesmo muita dificuldade em escrever. Esperem aí. Um pato não, um cisne porque sou um gajo bonito. Estou a fazer este post com a ponta do meu bico-nariz. Obrigado Gogol.


2. A minha mente fervilha de obscenidades. A irmã da minha sogra é freira e anula de uma forma muito dócil, muito subtil os pensamentos daninhos. A sua candura ataca e cauteriza os meus delírios persecutórios. É uma curadora. A senhora veio passar uns dias cá a casa. Sinto-me de certa forma alivado e nem sequer me toquei ou fui tocado. Tenho um farol de Luz debaixo do meu tecto. Não, não estou a brincar.


3. Acredito piamente (tem de ser sempre piamente, senão o verbo acreditar perde força) no Karma e na Roda de Samsara. Para obter redenção,  tenho de perdoar. Custa para carago. Uma travessia no deserto. Falsos oásis, tenho de continuar. Dois anos disto. Basicamente, tenho de perdoar o mal que fiz noutras vidas e perdoar o que essa malta me está a fazer (só para terem uma ideia, não sei o que os obsessores fizeram ao meu corta-unhas e nunca tenho papel higiénico disponível quando faço o que ninguém pode fazer por mim). Sobretudo, tenho de me perdoar a mim mesmo. Vejo daqui os vossos esgares e sorrisos trocistas. Mas sei que há uma pequena parte que se sente solidária comigo porque já passou pelo mesmo. Freud, às vezes, não explica.




quinta-feira, julho 26, 2018

terça-feira, julho 24, 2018

Teorema

A minha questão do momento é esta:
Se um chimpazé pode escrever aleatoriamente toda a obra do Shakespeare por um infinito período de tempo, porque é que não hei-de conseguir?

Já não digo Shakespeare, contentava-me com um Verne, um Machado, um Millerzinho, um Forster, um Saroyan. Oh, mas, esperem, o que vem a ser isto, um esquadrão de Ninfas e Ninfetas a vir na minha direcção?
Até digo mais: dêem-me a ilha do Pessegueiro por tempo ilimitado e eu escreverei coisas melhores do que Louys, Bataille, Hilda Hilst (Sade não, é imbatível, intransponível). 

Tudo isto é ficção como é óbvio.

quinta-feira, julho 12, 2018

"Luta de galos" de Jean-Léon Gérôme

segunda-feira, julho 09, 2018

Série "Ex-votos mexicanos"

























Agradeço à Virgem de Guadalupe por me salvar da morte e enviar-me uma sereia para me ajudar, ela tirou-me da água e arrastou-me para a praia.
Armando Soto Garcia. Veracruz, 23 de junho de 1963.

terça-feira, julho 03, 2018

Telefonia

- Meu caro. A melhor imagem que lhe posso dar para a maleita que padeço é a seguinte. Imagine um rádio muito antigo numa sala bafienta com móveis de carvalho, pesados, maciços. Flores de plástico numa jarra, cacos. Um cinzeiro de alabrasto, uma pequena estatueta de Fátima vigia uma estatueta de um cavalheiro do século dezoito a fazer a corte a uma dama do século dezoito. Esse tipo de coisas. Mas o rádio é bonito, é uma...
- ...telefonia?
- Sim, uma telefonia. Estou a tentar sintonizar uma estação, mas só apanho estática, ruído. O rádio é muito antigo, não ajuda. A minha cabeça só consegue ouvir ruído e algumas vozes e músicas abafadas, "lá ao longe". Até que finalmente consigo sintonizar uma estação, mas talvez por escutar tanto ruído durante tanto tempo, não me soa bem. E volto a procurar. Mais ruído, mais estática, estou hipnotizado. Rodo o botão para a esquerda e para a direita,  já estou em modo automático, procuro a melhor estação com a sintonização mais fina, mais distinta. Mas sei que, na verdade, não interessa. Caí na malha do ruído. O ruído torna-se confortável para os meus ouvidos. Está-me a seguir?
- Sim. Porque não compra um rádio novo?
- Porque gosto mais deste.

segunda-feira, julho 02, 2018

quinta-feira, junho 28, 2018


Efeito Dunning-Kruger

Se me permitem, vou agora colocar a minha capa de super-herói e combater esta gente que procria como coelhos. Nos trabalhos, nas repartições, nas paragens do autocarro, na fila para o pão.

"O que é aquilo no céu? É uma pássara, um avião?"
"Não! É o Super-Consciente".
"..."
"..."
"Mais um. Tem a mania."

quinta-feira, junho 21, 2018


O que aconteceria se o Dee Dee Ramone encontrasse o Lao-Tse?
Quem iluminaria quem? Quem apagaria quem? Qual é o nível de consciência de cada um?
"Pet Cemetery" foi escrito por Dee Dee Ramone na cave do Stephen King em apenas uma hora. Uma hora!

Só estou a dizer, passo o americanismo.

quarta-feira, junho 20, 2018

segunda-feira, junho 18, 2018

Oh sim, a minha mente é a de um macaco, sempre a saltar de ramo em ramo, a trepar novas e velhas árvores. E ao dizer a minha mente, no fundo quero dizer a vossa mente. Somos todos filhos da mãe, da mesma mãe que viveu há milhões de anos. Ou seja, incestamos todos os dias.
Quero descer da árvore e sentar-me como o Sidarta e observar tudo pela primeira vez. Como um gato.
Alguém disse que todos os gatos são mestres zen.

segunda-feira, junho 11, 2018

Um bom nome para uma oficina

"Auto Sabotagem"

C/ check-up gratuito.
Georgia O’Keeffe

quarta-feira, junho 06, 2018

A mosca


Na minha segunda visita à ala psiquiátrica, reparei num novo paciente que foi colocado em reclusão. Aparentemente, o homem demonstrara comportamentos profusamente psicóticos após a sua admissão e encontrava-se num estado mental bastante desorganizado, desordenado.

Quando me aproximei do quarto, a primeira coisa que notei foram os seus olhos. Estavam vidrados, tinha dificuldade em fixar o olhar e acompanhar objectos em movimento lento. Usava um chapéu de papel que tinha feito a partir de um jornal e segurava um pedaço de papel com a mão esquerda. Estava alheio à minha presença, embora estivesse a poucos metros dele e o quarto tivesse uma grande janela de vidro.

Quando recuei alguns metros e comecei a concentrar-me no espaço à volta, reparei naquilo que pareciam ser manchas incomuns de cor castanha espalhadas pela parede branca atrás dele e no chão.
Comecei a examinar o quarto. Não demorou muito até perceber que as manchas castanhas nas paredes e no chão eram as suas fezes. Com base nos padrões na parede (splash art) parecia que estava a atirá-las pelo quarto e na sua cama. Todo o quarto estava cheio de fezes e o paciente brincava com o chapéu de papel e com a revista.

O paciente não parecia muito incomodado. Na verdade, não estava presente. Estava ostensivamente psicótico e de acordo com aquilo que via, o indivíduo não sabia onde estava nem o que estava a fazer.

Virei-me e olhei para a equipa de enfermagem no aquário (uma sala de vidro no meio da enfermaria onde os funcionários observavam os pacientes e faziam o seu trabalho). Pareciam concentrados no seu trabalho e a cena que acabara de testemunhar parecia ser uma novidade para eles. O pessoal de limpeza estava a caminho.

Fiquei algo desencantada e vi-me forçada a voar dali para fora para encontrar alimento noutro espaço daquela unidade. Como é aquele ditado? Quando a esmola é grande...



sexta-feira, junho 01, 2018

sexta-feira, maio 18, 2018

"Great Expectorations"





















Não engula, cuspa.

quarta-feira, maio 16, 2018

A mente é um cemitério. A mente é ficção científica.
Pensa naquilo que já morreu no tempo e cria algo que ainda não existe.

quinta-feira, maio 03, 2018

Ex votos mexicanos - II






















"Certa noite, marcianos aterraram na minha quinta e entraram no meu quarto pela janela. Agradeço a N. S. de  Zapopan por não terem levado nem a mim nem ao meu cão que não acordou, apenas pegaram num dos meus chinelos."

terça-feira, maio 01, 2018

Por falar no diabo





Fod@-s&, estou apaixonado outra vez. Não tenho emenda.

segunda-feira, abril 30, 2018

Ex votos mexicanos - I



















"Na maioria das vezes, o meu marido é um homem muito chato, mas agradeço à Virgem de Guadalupe porque, de vez em quando, ele transforma-se num diabo vermelho e, durante algumas horas, o tédio pára e essas horas mais do que compensam todos os dias chatos e rotineiros."

segunda-feira, abril 16, 2018

Kureha Rokuro

terça-feira, abril 10, 2018

Frases úteis em várias línguas eslavas

Ucraniano    Моє судно на повітряній подушці наповнене вуграми
(Moje sudno na povitrianij podušci napovnene vuhrami

Eslovaco     Moje vznášadlo je plné úhorov
 
Esloveno     Moje vozilo na zračni blazini je polno jegulj

Sérvio Мој ховеркрафт је пун јегуља
(Moj hoverkraft je pun jegulja)

Russo    Моё судно на воздушной подушке полно угрей
(Moë sudno na vozdušnoj poduške polno ugrej)

Croata   Moja je lebdjelica puna jegulja
 
Checo   Moje vznášedlo je plné úhořů

quinta-feira, abril 05, 2018

No fundo, no fundo, somos todos Transformers: "more than meets the eye".

terça-feira, abril 03, 2018

Descida

Desci a rua Mousinho da Silveira que não estava calcetada, ainda era em terra batida. Havia néons e leds nas fachadas e nas montras das lojas. Uma contradição tecnológica que era aceitável na minha cabeça. O meu cabelo estava do tamanho do cabelo do Carpinteiro, entrei na primeiro salão que encontrei. A dona tinha um bronze de solário, a boca era ampla e dardejava um olhar de matrona romana. Lavou-me o cabelo mas não
quis cortá-lo. Levou-me para a pequena sala de depilação nas traseiras e tirou-me as calças. Depois tirou as suas de lycra rosa. Um fio branco, arqueado, contínuo contornava-lhe a cintura. A barriga não era escandalosa, aliás despertou-me ainda mais a libido. Fez-me aquilo que tinha de fazer, senti-me bloqueado no início com o Alain Delon desbotado na parede a olhar para nós, mas depois conseguir dar andamento à coisa. A boca da senhora era um aspirador industrial e olhava constantemente para mim, de baixo para cima, como nos filmes HC. Fin.
- E o cabelo?
- Não to corto, é um crime cortar essa cabeleira à Sansão.
Despediu-se com um beijo molhado no rosto e mordeu-me a orelha.
Meti pela rua São João onde estavam velhotas em todas as portas. Eram todas amarelas como as fachadas dos prédios a caírem de podre. Umas estavam com as mãos a segurarem os grandes queixos, outras observavam simplesmente quem passava.
Não entrei no túnel da Ribeira. Algo ou alguém não me deixou entrar. não sei dizer-vos o que era. A rua dos Mercadores não existia. Descobri um caminho de lama que seguia em paralelo com a parede em abóbada do túnel. Um regato feito pela chuva dividia o caminho. Uma enorme poça mais à frente. Os grossos salpicos do salto cagaram-me as calças. A Ponte. O Douro era igual ao Douro que todos nós conhecemos.

terça-feira, março 27, 2018

segunda-feira, março 26, 2018

quarta-feira, março 14, 2018

Seiichi Hayashi, de"Gold Pollen" (1971)


quarta-feira, março 07, 2018

O Cicerone do Amor e a Bombeira



O meu Cicerone do Amor diz-me para eu me sentar aqui, no quinto degrau destas escadas apertadas e escuras que vão dar ao Caminho das Garrafas. As escadas fazem um L e cheiram a mijo neste canto, daqui eles não nos conseguem ver, estão no fundo das escadas e demasiado entretidos um com outro para se darem conta que está alguém a espiá-los.

O meu Cicerone do Amor é a minha cara chapada, tem gestos rápidos como eu, arranca as sobrancelhas quando está nervoso, mas agora parece estar muito sereno, já deve ter feito isto muitas vezes. Aconselha-me a ficar ali agachado e quietinho para aprender como se faz, aponta o dedo para o casal de namorados. Aquelas escadas apertadas e escuras são agora uma sala de aula da qual eu sou o único aluno. Chamo-o de Cicerone do Amor porque é exactamente isso que ele é, está a mostrar-me os desconhecidos territórios do amor, e não me parece que aquilo que estão a fazer seja pecado como dizia o seu padre que se foi embora, estão apenas a explorar-se um ou outro, asfixiam-se com as línguas, mas não se vêem, trocam carícias, as barrigas palpitantes tocam-se, ela trinca-lhe na orelha e calha de fixar os seus olhos negros em mim.

Fico paralisado, sinto o meu segundo coração a bater na garganta, não tenho tempo para me transformar num pardal ou num gato, mas a moça não se assusta, não se retrai, é muito melosa, continua a fazer aquilo, sorri com os olhos para mim, fecha-os devagar e continua a lamber o rapazola que está de costas para mim. Desce um degrau para lhe dar mais jeito, a cabeça da moça afunda-se aos poucos e agora só o vejo a ele. O Ccerone do Amor receia que o rapazola se vire a qualquer momento, se o marmanjo se aperceber que estamos a dar uma de mirones, faz-nos uma cruz na testa, acaba connosco.

O meu Cicerone do Amor tem um cordel atado a um dedo, a outra ponta está em casa, diz que é para não se perder no labirinto do Monte, agarra-me no braço e faz-me sinal para irmos embora, diz que por hoje já vi o suficiente, subimos as escadas de pedra. Ouço o rapazola a gemer e depois a dizer "continua, continua, és linda", ela suspira e diz "amo-te tanto", e já não ouço mais nada. 

As escadas acabaram e já estou cá em cima, na Viela dos Gatos, o meu Cicerone do Amor desaparece, une-se a mim, não tem poderes para estar ali, naquele quelho, onde ainda moram meia dúzia de velhos e um pelotão de gatos, ele só aparece quando há jovens casais por perto, a consumirem-se pela paixão, agasalhados pelo entardecer na viela e nas escadas.

A viela cheira a pessoas velhas e a mijo de gato. O meu Cicerone do Amor passa a vida a dizer-me que os velhos parecem-se todos uns com os outros. A Bombeira vive sozinha. Passo pela porta da casa dela, é conhecida como Bombeira, porque o falecido marido era bombeiro. 

Digo "boa noite", ela responde com a sua voz rouca, "olá menino", tem os braços brancos e sinaleiros apoiados numa porta pequena, está calor, ela segura com a mão esquerda um espelho oval, a moldura dourada tem uma grinalda de rosas, e na outra mão, tem um cigarro enfiado entre o indicador e o dedo do meio que têm uma cor âmbar. Ela esconde-o, mas já não vai a tempo, já o vi, acelero o passo e escondo-me mais à frente, atrás de três degraus que dão acesso à porta da cozinha da casa do Caça-Balões. A luz do candeeiro em frente à casa da Bombeira desfalece um pouco antes do fim da Viela, ela já não me consegue ver. Não há ninguém cá fora àquela hora, ouço o tinir dos talheres nos pratos e o mastigar de bocas abertas, alguém desata aos berros do outro lado do Monte, é hora do jantar, um cheiro a peixe frito que vem da cozinha da Martinha castiga-me o nariz.

A Bombeira deve ter uns sessenta e tal anos, ela suga o cigarro e solta uma enorme fumaça que quase parte o espelho, consigo ver as suas mãos azuis, as peles do antebraço esquerdo abanam-se sempre que ela dá uma passa, ela põe o espelho num ângulo que me permite ver a sua cara. Esfrego bem os olhos, dormi mal a noite passada, arregalo-os bem, tento furar a penumbra da Viela. A Bombeira parece-me agora dez anos mais nova, quer dizer, não sei como é que ela era há dez anos, eu ainda era um bebé ranhoso, mas sei que é o rosto dela que aparece naquele lindo espelho oval, com menos rugas, menos cansado e mais luminoso, e então ela chupa outra vez o cigarro e torna a apreciar-se, o espelho devolve uma mulher na casa dos quarenta, a beleza de uma mulher madura e segura espalha-se naquele espelho generoso, as pequeninas peles ao dependuro são ainda muito aceitáveis, o cabelo fica mais forte, ela sorri e olha para cima, para as estrelas como que a agradecer-lhes por aquele momento. Mais outra passa demorada, esta valeu por duas, da sua boca sai um fio de fumo que não tem fim, a dona Bombeira é agora a menina Bombeira de vinte aninhos, “um docinho”, como diriam os homens da Loja de Cima. O falecido senhor Bombeiro tinha olho, ele sabia o que estava a fazer na altura. 

Não estou sozinho. Não é que o Cicerone do Amor apeou-se de mim e está agora de cócoras ao meu lado, com cara de idiota, ainda mais excitado do que eu. O meu cicerone do Amor gosta de pensar em voz alta, mas tem de pensar baixinho para a senhora não o ouvir, e em que é que ele está a pensar? Pensa na quantidade de mulheres capazes de matar outras mulheres para terem um espelho assim, um espelho que lhes subtraísse alguns anos, ou então, à falta de melhor, um homem-espelho que lhes mentisse, que lhes dissesse todos os dias que continuam a serem tão belas como no dia em que as conheceram. O espectáculo está prestes a acabar, a dona Bombeira atira a beata para o fundo das escadas, cola o espelho ao nível dos olhos, começa a tirar pêlos das sobrancelhas com uma pinça, usa a luz do lampião, e depois afasta-o e baixa-o lentamente até à pescoço engelhado, olha-se pela última vez, o espelho treme, o rosto viajou para a frente quarenta anos, voltou a ser o que era, cheio de rugas e manchas de velhice, mas ela não deixa de sorrir, só que é um sorriso diferente. Ainda teve tempo para cortar as unhas antes de ir para dentro, tic tic tic, um belo unheiro vai nascer ali entre os grumos do chão de cimento, há vários arbustos destes espalhados pelo Monte.

Por uma razão qualquer (deve ser a minha velha paixão por barcos), a Bombeira faz-me lembrar uma velha âncora a ser puxada para dentro do casco de um navio, ouço-a a trancar a porta, ouço-a a pigarrear durante algum tempo. Encosto-me à parede enrugada da cozinha da Martinha, tinta tartaruga, apoio o braço num dos degraus, não me apetece ir já para casa, deixo-me estar sentado até que a minha mãe me chame para jantar, o olho esquerdo começa-me a tremer, esfrego-o e fico com comichão. Só nesse momento é que me dou conta que o meu Cicerone do Amor não voltou a unir-se a mim, é um tipo muito caprichoso, mas sei que ele vai voltar.

sábado, fevereiro 24, 2018

sexta-feira, fevereiro 16, 2018

Síndrome da Página em Branco

Capítulo I



















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terça-feira, fevereiro 06, 2018

domingo, fevereiro 04, 2018

O Monte Atos



























O Monte Atos. A montanha é a ponte que pode unir a Terra e o Céu. Ao contemplarmos o seu cume do sopé, desejamos subir até ele, desejamos fazer essa travessia vertical, porque achamos que iremos estar mais perto da Eternidade. E quando o homem atinge por fim o cume, a divindade revela-se ao homem. Abraão levou o seu filho Isaque ao Monte Moriá para ser sacrificado. No último momento, um anjo aparece e impede que o pai mate o filho: Abraão passou no teste de Fé. Foi também no pico do Monte Sinai que Moisés recebeu as Tábuas da Lei com os Dez Mandamentos escritos pelo dedo do próprio Deus; Jesus subiu várias vezes ao Monte das Oliveiras para orar e pregar levando consigo os apóstolos; e finalmente "carregando Ele mesmo a sua cruz, saiu para o assim chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota."; a Santíssima Trindade é representada, muitas vezes, sob a forma de triângulo equilátero que lembra a forma de uma montanha. O Monte Olimpo, ali "ao lado", trono dos titãs e dos deuses do panteão grego. O Monte Kailash nos Himalaias onde mora Shiva e onde as pedras rezam. Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas. O Monte Atos e os seus imponentes mosteiros, os seus anacoretas que vivem isolados do mundo para estarem mais próximos de Deus.

O misterioso Monte Atos, a "Montanha Santa", ou ainda o "Jardim dos Virgens", onde está vedada a entrada a qualquer representante do sexo feminino, seja mulher, cadela, gata, égua, capivara, etc.* Esta lei é o avanton e diz que a Montanha Sagrada de terra não pode ser profanada com a presença do género feminino: "que o seu acasalamento não forneça um espectáculo bizarro para as almas que detestam todas as formas de indecência". 

* Não, leitora, não estou a espicaçá-la, o meu bolbo raquidiano é frágil, não dá para mais, apenas controla o momento em que devo mastigar e o momento em que devo chorar e agora sei que não me apetece chorar, porque não quero que me chame de misógino. Amo todas as mulheres deste mundo.

Porcos


















No "meu tempo de mortal", propus uma solução para acabar com a fome em França, chamaram-me de louco. Não quero que me chamem de louco outra vez. Nunca ninguém me chamou de louco na cara, mas eu sabia o que diziam nas minhas costas. Foi poucos anos antes de "morrer". 

A partir dos 35 anos, tive de fazer de conta que estava a envelhecer. As pessoas desconfiam se não mostrarmos sinais de velhice. As pessoas são muito desconfiadas. Para acabar com a fome em França naquela altura, sugeri a criação maciça de porcos. A solução estava no porco. O porco é um animal que tem uma enorme fecundidade, tal como os coelhos. Inspirei-me em parte no "Liber Abaci" do grande Fibonacci. Mas o coelho é um animal de pequeno porte, não resolveria os problemas de quase vinte milhões de franceses no século XVII. Quando me retirei quase à força da minha vida profissional, resolvi escrever as minhas "memórias" e estudar a res publica. Um desses estudos foi consagrado ao porco. 

O porco é um animal grande e extremamente fecundo. Uma única porca pode gerar ao longo de dez gerações — graças às porcas descendentes — mais de seis milhões de porcos. Suponhamos que uma porca no segundo ano de vida tem um parto de 6 leitões, 3 machos e 3 fêmeas. Para chegar a este número impressionante, não preciso dos machos — ficam então as 3 fêmeas. No terceiro ano que corresponde à segunda geração, a porca-mãe tem 2 partos e cada uma das 3 filhas da primeira geração têm 3 leitões. Total: 5 partos compostos cada um por três fêmeas, perfazendo um total de 15 fêmeas. No quarto ano, a porca mãe — já avó — tem 2 partos. As 3 filhas da primeira geração têm dois partos cada uma, o que vem a ser 6 por cada filha; as filhas da segunda geração têm cada uma ninhada, 15. Total: 23 partos, o que dá uma média de 3 fêmeas por cada ninhada, somando um total de 69 fêmeas. Continuando com este cálculo, vamos admitir que, no sétimo ano, a porca mãe deixa de ser fértil. No oitavo ano, vamos excluir a produção das 3 primeiras filhas da porca mãe. No nono ano, suprime-se do número das fecundas as 69 bisnetas, descendentes de 3ª geração. No décimo primeiro ano, que corresponde à 10ª geração, saem 321 tetranetas. O resultado das 10 gerações é de 1 072 473 partos que, à média de 3 fêmeas cada um, totalizam na décima geração 3 217 419 fêmeas. Não vamos considerar os machos, embora suponho que sejam tantos como as fêmeas. Todos os partos foram calculados igualmente em 6 leitões cada um (machos e fêmeas), quando, em condições normais, são mais numerosos. A produção de uma só porca ao fim de dez gerações, dar-nos-ia 6 434 838 bacorinhos, não incluindo 434 838 por doenças, acidentes e obteremos um total de 6 milhões de porcos.

sexta-feira, fevereiro 02, 2018

Amo a Maja





Tenho de fazer mais cardio:

sexta-feira, janeiro 26, 2018

quinta-feira, janeiro 25, 2018

O caminho mais seguro para chegar ao verdadeiro futuro é ir na direcção em que o nosso medo cresce. E assim regressamos a casa.

terça-feira, janeiro 23, 2018

Às vezes gostava de ter um Adblock Plus para certo tipo de mensagens que o meu ego produz.
(Se colocasse a frase anterior em verso, daria um belo poema).

quarta-feira, janeiro 17, 2018

Não tenho bem a certeza, mas acho que estou a atravessar o Rubicão.

terça-feira, janeiro 09, 2018

quinta-feira, janeiro 04, 2018