quinta-feira, janeiro 31, 2013


quarta-feira, janeiro 23, 2013

As chaves

- Deus, perdi as chaves.
Deus estava na cozinha a tirar as tripas dos camarões.
- Que chaves Pedro?
- As chaves, meu Deus.
- Ah, as chaves - disse Deus distraído - meu Eu, as chaves! - exclamou, caindo em Si.
- ...
- Vai ali ao armário do contador de luz. Tem lá umas chaves que dizem "Paradiso". Pedi a um cubano para as fazer.
- Não sei mesmo onde pus as minhas. Obrigado, meu Deus.
São Pedro sai.
Deus pára por uns instantes e limpa as mãos translúcidas. Põe a mãos na cintura e suspira, olhando para o tecto húmido da cozinha.
"Felizmente não há muita gente à espera", pensa.
E continua a tirar as tripas aos camarões.

quinta-feira, janeiro 17, 2013

terça-feira, janeiro 15, 2013

Ah e convém não esquecer que









O hibisco não é um animal
O lingote não é um animal
O mascarpone não é um animal
O elymus repens não é um animal
A gangrena não é um animal
O centella asiática não é um animal
O chocalho não é um animal
O cepo não é um animal
O cepilho não é um animal
O oxímaro não é um animal
O saco não é um animal
O ossículo não é um animal
O montículo não é um animal
A agora não é um animal
O xadrez não é um animal
O násio não é um animal
O oleado não é um animal
A amanita phalloides não é um animal
O centiare não é um animal
O sabir não é um animal
O acanto não é um animal
A pelúcia não é um animal
A cambota não é um animal
O garimpeiro não é um animal
O estojo não é um animal
A sidra não é um animal
etc.

quinta-feira, janeiro 10, 2013

Pequeno entremez

Acordei no chão novamente. Eu precisava de algo para comer.
Então desci à rua e fui à Churrasqueira do Silva.
"O que vai ser?" perguntou o Silva, mostrando um sorriso irónico.
"O costume", disse.
O Silva coçou a cabeça e perguntou-me:
"O que é o costume?"
O costume era meio frango com piri-piri à parte com batatas fritas e uma Coca-Cola pequena.
O Silva sabia perfeitamente o que era "o costume".
Eu ia lá todos os dias, durante quatro anos.
Então comecei a perceber: o homem atrás do balcão não era o Silva, mas sim O IM-POS-TOR.

A história repete-se mais ou menos

Outubro de 1837:
- Bom, o que interessa é que daqui a dez dias sai mais um número dos Cadernos de Pickwick, graças a Deus - suspirou certo padre desconsolado, depois de prestar conforto espiritual a um enfermo.

Janeiro de 2013:
- Bom, o que interessa é que daqui a dois dias o Pedro Amaral e o Rui M. Amaral vão ler histórias de três linhas do Félix Fénéon no Gato Vadio, graças a Deus - suspira o bispo do Porto, depois de ter terminado os Cadernos Póstumos do Clube Pickwick e de ter prestado conforto espiritual a um boavisteiro.

domingo, janeiro 06, 2013

Félix Fénéon no Gato Vadio, 12/01 às 17h


Félix Fénéon, 1894














O ex-negociante Fred. Desechel (rue d'Alésia, Paris)
matou-se no bosque de Clamart. 
Motivo: doía-lhe o estômago.

Apostara beber de enfiada quinze absintos,

comendo um quilo de vaca. Ao nono, 
Téophile Papin, de Ivry, caiu redondo.

Louis Lamarre não tinha nem emprego, 

nem casa, mas alguns tostões. Comprou, num merceeiro
de Saint-Denis, um litro de petróleo, que bebeu.



No próximo sábado, o Rui Manuel Amaral e eu vamos ler estas e outras "Notícias de três linhas" de Félix Fénéon (1861/1944) no Gato Vadio, Porto. Tradução a cargo de Manuel Resende.