sexta-feira, setembro 30, 2011

30 de Setembro - Dia da Tradução


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terça-feira, setembro 27, 2011

O Génio da Lâmpada Eco

 
- Onde é que estou, meu Deus? O que me aconteceu?
Barcelo estava estendido no chão, agarrado ao lençol, ao lado da cama. À sua frente estava um homem enorme de pele azulada. O homem usava apenas um colete e calças largas. Tinha um carrapito e sobrancelhas grossas que lhe davam um ar ameaçador.
- Quem é você? O que faz no meu quarto? - perguntou Marcelo.
O estranho abanou com a cabeça, acusando sinais de desilusão ou talvez de alguma impaciência.
- Sou o Génio da Lâmpada, meu amo. Estou ao seu dispor. Concedo-lhe não um, não dois, mas três desejos. Não aceito desejos acumuláveis de outros génios, nem 3-desejos-em-1. Seja directo e preciso, e evite pedidos ambíguos. Estou às suas ordens, meu Amo.
Farcelo coçou o cocuruto e levantou-se. O Génio da Lâmpada era duas vezes maior do que ele.
- Não acredito em Génios, caro senhor. Acredito em trabalho duro, acredito no sacrífício de levantar cedo todos os dias e trabalhar até de madrugada. É nisto que acredito.
- Sou o Génio da Lâmpada Económica, meu Amo. Posso conceder-lhe três desejos, desde que não ultrapassem o plafond de três mil euros.
Tarcelo começou a fazer contas de cabeça, esboçou um sorriso na parede para o apagar logo de seguida.
- Muito bem! Vou formular o meu primeiro desejo. Quero que as vigas do meu tecto deixem de ter caruncho e quero-as envernizadas como as maçãs vermelhas do supermercado!
- Plim. Já está, meu Amo. Qual é o seu segundo desejo?
Zarcelo olhou para o tecto e sentiu um desejo enorme de trincar as vigas de madeira. Sentiu-se como daquela vez em que encontrou a sua carteira de pele que julgava perdida há muito.
- Desejo que as crianças não me atirem pedras nem berlindes no meu caminho de regresso a casa.
- Plim plim. Meu Amo. Como se trata de um desejo que não pode ser comprovado neste momento, peço ao meu Amo para acreditar na minha palavra de Génio. E qual é o seu último desejo, meu Amo?
Carcelo arrependeu-se mal acabou de pedir o desejo. Se pudesse, teria pedido ao Génio para lhe dar duas belas mulheres. A pele de uma das mulheres teria o doce aroma de cebola caramelizada e trataria da lida da casa. A outra irradiaria uma beleza pré-rafaelita e cozinharia iguarias para ele até ao fim da vida. Ambas adorariam jazz. Nem um nem outra seriam comunistas, e Sarcelo aceitaria pequenos ais, toleraria leves queixumes de emancipação, desde que cumprissem os seus deveres domésticos.
- O meu terceiro desejo...muito bem. Desejo que todos os meus livros sejam lidos por todos. E sempre que alguém sentir prazer ao ler determinada passagem, a sua cabeça deverá iluminar-se tal como um busca-polos quando é ligado a uma tomada com corrente alternada.
- Lamento Sire, mas nem eu tenho poderes para satisfazer o que me pede, nem o plafond acordado me permite concretizar esse desejo.
- Que dizes, Zoroastro? Diacho pró diacho!...Nesse caso, desejo saber qual foi o padrão que Joyce usou para escrever "Finnegans Wake".
- Plim plim plim.
O Génio elevou-se, deu duas voltas sobre si mesmo como fazem os cães antes de se deitarem e desapareceu sem deixar qualquer vestígio de pegada carbónica.

Darcelo levou as mãos à cabeça de tão pesada que estava. Sentia os olhos inchados e um prurido no nariz que lhe dava uma enorme vontade de o coçar. As mãos estavam manchadas com o sangue que escorria das orelhas. Começou a gemer e a ter convulsões horríveis. Não dizia coisa com coisa e nem Deus nem ninguém lhe puderam valer.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Liam Brazier

Man Up

segunda-feira, setembro 19, 2011

O jogo

Sim, sou exuberante e espontâneo como um chimpazé que nunca foi baptizado nem crismado. Para celebrar o meu 49.º aniversário, resolvi comprar um apartamento num elegante e haussmaniano edifício na rua Jacques Cazotte com as poupanças de uma vida de borboleta. Convidei todos os meus amigos não declarados e todos os meus inimigos declarados. Estendi o convite à minha actual mulher que ainda se fez rogada por não a ter convidado primeiro. Tive de lhe prometer que lhe compraria um par de mitenes nos Campos Elíseos. Bom, adiante.  
Impus uma única condição que todos, sem excepção, deveriam respeitar: apenas poderiam entrar na minha nova casa se usassem peúgas e calzoncillos. Deste modo, todos estariam em pé de igualdade, por assim dizer. Chegaram todos à hora prevista (+ 1h GMT) e depois de trocarmos muitos elogios e selos raros (o Bauer ofereceu-me um incalculável selo da Namíbia com a efígie do Mr. T. da A-Team de 1985; em troca, dei-lhe o que ele tanto queria - um selo soviete de 50 kopecs com um Lenine jovem, ainda com cabelo), dirigimo-nos em fila indiana para a magnífica sala de estalar. Bebemos, fumámos puros jamaicanos, eu e os meus inimigos renovámos sagradas juras de animosidade. Propus um jogo. Cada um teria de ir à casa de ranho e cortar uma porção de pêlos púbicos. Os pêlos seriam queimados depois numa pequena pira dourada no centro da sala. Aquele que conseguisse fazer uma fogueira maior poderia ficar alojado um ano e um mês no meu apartamento. Bauer praguejou e foi-se embora. Esqueci-me que ele rapa os pêlos antes da chegada do Verão. Botello, que não conhecia Bauer, foi atrás dele. A maior labareda foi atribuída ao Gerlizten que, num acto de profunda comoção, atirou as peúgas e os calzoncillos pela janela fora, tapando-se logo com uma toalha de Vôtre-Dame. O meu amigo valenciano de longa data protestou - nunca me lembro do seu nome - alegando que os seus filiformes demoraram mais tempo a serem consumidos pelo fogo, infestando a casa com um forte cheiro a patatas bravas. Coube-me a mim, enquanto anfitrião e geriatra de renome, apurar o vencedor. Peguei na pira com as cinzas, dirigi-me à varanda e espalhei-as por Paris. Voltei para dentro, subi para cima da mesa, esbugalhei os olhos e ameacei quebrar a pira. O valenciano de cujo o nome não me lembro levantou-se e tentou impedir-me que cometesse tal acto:
- Dá-lhe a ele, dá-lhe a ele, por Dios! - gritou, a chorar.
Estava assim encontrado o nobre vencedor do jogo.