terça-feira, setembro 27, 2011

O Génio da Lâmpada Eco

 
- Onde é que estou, meu Deus? O que me aconteceu?
Barcelo estava estendido no chão, agarrado ao lençol, ao lado da cama. À sua frente estava um homem enorme de pele azulada. O homem usava apenas um colete e calças largas. Tinha um carrapito e sobrancelhas grossas que lhe davam um ar ameaçador.
- Quem é você? O que faz no meu quarto? - perguntou Marcelo.
O estranho abanou com a cabeça, acusando sinais de desilusão ou talvez de alguma impaciência.
- Sou o Génio da Lâmpada, meu amo. Estou ao seu dispor. Concedo-lhe não um, não dois, mas três desejos. Não aceito desejos acumuláveis de outros génios, nem 3-desejos-em-1. Seja directo e preciso, e evite pedidos ambíguos. Estou às suas ordens, meu Amo.
Farcelo coçou o cocuruto e levantou-se. O Génio da Lâmpada era duas vezes maior do que ele.
- Não acredito em Génios, caro senhor. Acredito em trabalho duro, acredito no sacrífício de levantar cedo todos os dias e trabalhar até de madrugada. É nisto que acredito.
- Sou o Génio da Lâmpada Económica, meu Amo. Posso conceder-lhe três desejos, desde que não ultrapassem o plafond de três mil euros.
Tarcelo começou a fazer contas de cabeça, esboçou um sorriso na parede para o apagar logo de seguida.
- Muito bem! Vou formular o meu primeiro desejo. Quero que as vigas do meu tecto deixem de ter caruncho e quero-as envernizadas como as maçãs vermelhas do supermercado!
- Plim. Já está, meu Amo. Qual é o seu segundo desejo?
Zarcelo olhou para o tecto e sentiu um desejo enorme de trincar as vigas de madeira. Sentiu-se como daquela vez em que encontrou a sua carteira de pele que julgava perdida há muito.
- Desejo que as crianças não me atirem pedras nem berlindes no meu caminho de regresso a casa.
- Plim plim. Meu Amo. Como se trata de um desejo que não pode ser comprovado neste momento, peço ao meu Amo para acreditar na minha palavra de Génio. E qual é o seu último desejo, meu Amo?
Carcelo arrependeu-se mal acabou de pedir o desejo. Se pudesse, teria pedido ao Génio para lhe dar duas belas mulheres. A pele de uma das mulheres teria o doce aroma de cebola caramelizada e trataria da lida da casa. A outra irradiaria uma beleza pré-rafaelita e cozinharia iguarias para ele até ao fim da vida. Ambas adorariam jazz. Nem um nem outra seriam comunistas, e Sarcelo aceitaria pequenos ais, toleraria leves queixumes de emancipação, desde que cumprissem os seus deveres domésticos.
- O meu terceiro desejo...muito bem. Desejo que todos os meus livros sejam lidos por todos. E sempre que alguém sentir prazer ao ler determinada passagem, a sua cabeça deverá iluminar-se tal como um busca-polos quando é ligado a uma tomada com corrente alternada.
- Lamento Sire, mas nem eu tenho poderes para satisfazer o que me pede, nem o plafond acordado me permite concretizar esse desejo.
- Que dizes, Zoroastro? Diacho pró diacho!...Nesse caso, desejo saber qual foi o padrão que Joyce usou para escrever "Finnegans Wake".
- Plim plim plim.
O Génio elevou-se, deu duas voltas sobre si mesmo como fazem os cães antes de se deitarem e desapareceu sem deixar qualquer vestígio de pegada carbónica.

Darcelo levou as mãos à cabeça de tão pesada que estava. Sentia os olhos inchados e um prurido no nariz que lhe dava uma enorme vontade de o coçar. As mãos estavam manchadas com o sangue que escorria das orelhas. Começou a gemer e a ter convulsões horríveis. Não dizia coisa com coisa e nem Deus nem ninguém lhe puderam valer.