quarta-feira, novembro 30, 2016

ªSede



Godspeed, Rui:

"Dia 3 de Dezembro, às 17h00, abre ªSede. Um espaço na Rua de Santa Catarina, 787, no Porto, onde se pretende propor um conjunto de actividades artísticas e culturais, programadas por mim, com a cumplicidade inteligente da Carolina Lapa e do Luís Nobre (os dois Lina&Nando), também responsáveis pela imagem e comunicação.

Para assinalar a abertura de ªSede, propusemos ao José Cardoso a montagem de uma exposição com vários dos seus notáveis trabalhos fotográficos, a que demos o título de “Artes Plásticas”. A inauguração, que inclui vários inéditos, é às 17h00 e a entrada é livre.

Ainda em Dezembro, haverá uma jornada de Douda Correria, no dia 10, com a apresentação de “Lançamento”, o mais recente livro de Margarida Vale de Gato, que viaja até ao Porto na companhia de Nuno Moura, autor de "Clube dos Haxixins", e João Paulo Esteves da Silva, autor de "Tâmaras".

Por fim, no dia 17, recebemos D. Duarte, o senhor da Livraria Snob, para um venda de Natal, que inclui centenas de livros raros e seleccionados.

Contamos com todos.

ªSede é um espaço reabilitado e gentilmente cedido pela Reurban, do nosso Jorge Garcia Pereira."

sexta-feira, novembro 18, 2016

O Padre e o Brandão



O Padre da paróquia de Santa Marinha já era muito velho quando me baptizou com vinho-bento e continuou a ser muito velho quando fiz a primeira comunhão. Lembro-me bem dele e o hálito a vinho benzido que ele bufava através da rede de vime do confessionário quando me absolvia dos meus pecados de criança. Com o passar dos anos tornou-se cada vez mais impaciente e rabugento e cheguei a ouvi-lo a mastigar palavrões durante a missa quando deixava cair uma hóstia ou quando se esquecia da ladainha do Credo. O Brandão, amigo de copos do meu pai, não gostava nada do padre, nunca atinou com ele e sempre que ia confessar-se (a mãe de 87 anos obrigava-o), demorava duas, às vezes três horas, se estivesse inspirado, inventava pecados, narrava-os ao pormenor.

Uma vez disse ao meu pai que tinha confessado ao padre que recebia mulheres casadas em casa e que estas se ajoelhavam em círculo à sua volta e faziam-lhe coisas. Coisas. Segundo o Brandão, estas confissões faziam nascer grutinhas de suor na cara chupada do padre que saia disparado do confessionário, desesperado, e começava a partir jarras de flores e a mandar velas ao chão, partia tudo o que encontrava à frente, insultava-o com palavrões que faziam corar a Maria Madalena e tremer as flechas que trespassavam o São Sebastião, por onde passava o chão tremia. O padre estava a um passo de ficar louco e era isso que o Brandão mais desejava neste mundo e no outro. As beatas quase mortas que estavam a rezar o terço ou a limpar os nichos e os santinhos acendiam-se sozinhas, davam estalos com a boca e saíam da igreja a benzerem-se, muito chocadas com o comportamento alucinado do seu padre.

No dia seguinte, tudo voltaria ao normal.

quarta-feira, novembro 09, 2016


Trump eleito o 45º presidente dos EUA. Logo vou nadar.

segunda-feira, novembro 07, 2016

A Guerra nos Territórios Desconhecidos da Cabeça



Depois de um sábado em cheio passado no Porto, tinha sempre bastante dificuldade em adormecer. Todos os meus pensamentos que andavam espalhados e distraídos pelo meu corpo durante a semana, subiam-me agora à cabeça e lutavam entre si para ter o controlo sobre a minha mente. Uma vez, ao passar pela Loja de Cima, ouvi o Brandão a dizer que não deixava que os seus pensamentos durassem mais que um cigarro. Quem me dera ser capaz disso. Parece que estou a montar guarda a mim próprio. A noite cobria o Monte, olho por entre os furinhos dos estores. O Porto é uma ilha que brilha do outro lado do rio. A minha cabeça é uma fortaleza e os pensamentos são soldados inimigos que querem conquistá-la apenas porque sim. Os meus olhos são as seteiras, o meu nariz é um baluarte, o meu cérebro é um general desorientado e nervoso que não consegue dar ordens às suas tropas. O fosso é a minha garganta que sinto cada vez mais apertada, não serve de nada contra os meus pensamentos que avançam com escadotes e arietes. Muitos morrem ao tentar trepar a muralha, mas por cada pensamento morto, há mais dois ou três prontos para ocuparem o seu lugar. Entre os pensamentos, há recordações e medos infiltrados. São oficiais que se impõem pela sua presença entre os pensamentos rasos. Na maior parte do tempo, sei que estão lá, mas andam despercebidos, quase despreocupados, baixam os olhos quando, por um motivo qualquer, os encaro. Quando jogo a bola, eles não aparecem. Quando vou para o Quintal do Mota, eles não existem. Quando vou à Loja de Cima ou passo pela Viela dos Gatos, não dão sinais de vida. Mas quando vou para a cama, parece que já consigo ouvir o grande tumulto atrás da linha do horizonte, são eles a formarem-se.

O meu primeiro pensamento consciente durou-me mais que o cigarro do Brandão. O meu primeiro pensamento era um espião, um agente infiltrado que pelos vistos morava na minha cabeça desde que nasci, não sabia que a minha cabeça podia ter elementos tão estranhos. Senti-me muito confuso, foi como se a minha cabeça tivesse despertado de um coma induzido por mim mesmo; o general estava a dormir em tempo de paz e alguém o acordou a meio da noite: a guerra nos Territórios Desconhecidos da Cabeça tinha sido declarada. A noite vai ser longa. Quando por fim derrubam o grande portão de aço que é a minha boca, pilham e destruem tudo por onde passam. São os Vândalos, os Hunos e os Vikings reunidos num único grande e temível exército de que a irmã Alzira falou quando falou da presença dos Mouros (os Infiéis!) no nosso país. Não consigo dominá-los, metem-se pelas ruas e ruelas da minha cabeça, esquadrinham cada canto, cada esquina, viram tudo do avesso. Nem todos os pensamentos são desagradáveis e cruéis. Os bons e os maus assolam-me a cabeça com a mesma força. Ou melhor, neste caso, nem todas as recordações são incómodas.

sexta-feira, novembro 04, 2016

Bono diurético

Tenho um amigo que sente uma terrível compulsão para ir urinar sempre que ouve a voz do Bono/U2. Não tem a ver com um ódio de estimação, com traumas, nada disso, acho que é mesmo a cena dele. A minha também é esquisita. Mais lá para frente, eu conto-vos. Prometo que não vão ficar desiludidos.