Tive o encanto de conhecer ontem quatro pessoas. Graças ao meu novo métier, conheço muitas pessoas todos os dias, de todos os cantos do mundo.
Eram dois casais. Um casal jovem e outro mais velho. Muito mais velho - o senhor Eckart estava a celebrar o seu 81º aniversário. Fartou-se de receber chamadas durante todo o dia. O senhor Eckart era muito simpático, muito vigoroso, parecia ter menos vinte anos. O seu segredo? Ele e a mulher caminham cinco quilómetros todos os dias, andam muito de bicicleta e fazem sempre a saudação ao sol quando acordam. Para quem não sabe: a "saudação ao sol" é um asana/sequência de exercícios de ioga. O senhor Eckart é um apaixonado pela vida.
O casal mais jovem estava a percorrer o mundo. Ele era cozinheiro, já tinha trabalhado na Tailândia e Hong-Kong. Falava um Inglês temperado com sol e mediterrâneo. Por vezes desaparecia e surgia com uma SB ou uma Sagres na mão (estava claramente a marimbar-se para a nossa rivalidade norte-sul, para a nossa entediante guerra de secessão nas bancadas e fora delas). A companheira, uma moça franzina, sorria com os olhos e era a mais calada do grupo.
Quando perguntei de onde vinham, ocorreu-me imediatamente que iria ser um longo dia e que estavam reunidos os ingredientes para correr tudo mal.
Correria seguramente tudo mal se viajássemos setenta anos para trás e o ponto de encontro fosse algures na Alemanha. Ou simplesmente não correria.
O senhor Eckart e a mulher eram de Hamburgo.
O jovem casal vinha de Israel. Ele nasceu em Haifa e ela era russa. Ambos falavam hebraico.
De volta ao presente. Deram-se às mil maravilhas, foi um belo dia de trabalho e lazer. Os meus receios estereotipados caíram por terra. Não foram abertas feridas, a História do século XX ficou nos livros, o inconsciente colectivo não foi escavado.
Apenas um pormenor curioso: no final do dia, confessaram-se ateus. Todos os quatro (mais uma "estereotipada", na minha cabeça todos os israelitas são judeus). Abençoei-os na mesma e desejei-lhes uma vida longa e próspera.