sexta-feira, agosto 09, 2019

Vida

E quando damos por ela (adoro esta expressão, quem é "ela", será a própria vida?), estamos a viver. Mal ou bem, estamos a viver. É o grande denominador comum entre um caçador do Alaska, um puto rico de Denver, CL, uma freira de Madras ou os romenos mudos que pedem no largo da Sé do Porto. Todos eles vivem.
Tento aplicar esta diversidade de vida nas minhas leituras. A louca biografia do Slash, o Novo Testamento (o Antigo deixa-me um pouco agoniado) e os "Contos Reunidos" do Felisberto Hernandez. 
A vida é também isto: fim de tarde em família, um bebé adolescente (os ingleses têm a categoria de "toddler" para este tipo de criatura) a rasgar as melhores páginas do Livro do Desassossego enquanto ri como um diabrete e vê a "Patrulha Pata". O novo a destruir o velho, a vida a regenerar-se, um sinal do universo a dizer-me que o paradigma pessoano já viveu melhores dias. Talvez seja impressão minha, nunca fui grande fã do Pessoa. Naturalmente, o grande neurótico será sempre melhor que qualquer um de nós. Urge beber absinto em vez de gin xpto ou cerveja artesanal que custa os olhos de cara. Vamos todos beber absinto dentro ou fora dos carros enquanto esperamos nas longas filas da Galp.