Os defensores da teoria da terra plana vêem Fernão de Magalhães como um anti-cristo. Ou simplesmente como um louco enganador.
A perspectiva das coisas é uma coisa estranha. Somos seres estranhos. Como é que um tipo nascido no meio da serra mete na cabeça que tem de provar à humanidade que a Terra é redonda, derrubando as teorias ptolomaicas, "aniquilando" dragões, leviatãs e outras criaturas hediondas que povoavam o mar?
"Não passarás as Colunas de Hércules", eis o 11.º mandamento dos pensadores do mundo antigo.
"Ai é, vou provar o contrário: eis-me quase circum-navegado", pontapeia Fernão M.
Quantas vezes fazemos circum-navegações à volta da nossa cabeça durante um dia? Não estou a plagiar Cortázar (como poderia!), mas quantas vezes o nosso ego nos prega partidas com medos e outros monstros durante um dia? Magalhães queria novas rotas de especiarias e prestígio (obviamente), mas o seu ego e o resto acabam por morrer às mãos de uma tribo local nas Filipinas. O primitivo mata o cristão. Assim reza a história. Naturalmente, o homem de Sabrosa permanece eterno.
Mas agora a pergunta que se impõe é:
O ego pode morrer depois de tantas e aturadas circum-navegações mentais para dar lugar a algo mais sublime, mais grandioso? A maya do ego pode ser rasgada?
Se me responderem que tudo isto faz parte da nossa experiência bípede e humana, digo-vos já que não irão ganhar o prémio para a resposta mais original.