sexta-feira, outubro 15, 2010

O Tio Tula

"Numa sociedade plenamente justa e orçamental, os senhores proprietários de cafés com fotos aéreas dos respectivos cafés seriam todos presos. Sentiriam consternação e arrependimento daquelas aberrações penduradas e chorariam como marias madalenas sempre que fizessem mal o troco."
Fils de Mon Pére

Antes de ser chamado para o serviço militar, trabalhei durante dois anos para o meu tio Tula que tinha um bordel no meio do monte. Sempre que chegava uma rapariga nova à sua reputada casa, o tio Tula fechava os olhos e unia as mãos como quem recebe o corpo de Deus e depois sorria ou fazia uma expressão triste. Se a moça fosse prazenteira e não vestisse mal de cara, encaminhava-a para mim. Não apreciava particulamente as folgazonas que vinham a mascar pastilha elástica. Dava-lhes guia de marcha logo ali. Como sobrinho-afilhado favorito, eu tinha algumas regalias. Gozava de uma espécie de prima nocte para dar o meu veredicto ao meu tio na manhã seguinte. Arrependo-me muito desses anos, principalmente quando faço amor com a minha mulher. Lembro-me que, no pico da toda aquela luxúria bacoca, usava um metrónomo para marcar os tempos das noviças. A maioria era allegrettos, mas houve uma eslava que tinha cara de anjo e que me deixou danos permanentes. Prestissima.
Voltando ao tio Tula. Se a rapariga fosse pouco expedita e não servisse nem para mudar os lençóis, o meu tio pagava-lhe o bilhete de volta e acompanhava a moça à estação. Depois fazia de conta que era o Humphrey Bogart e dizia:
- He's looking at you, kid.
Creio que era a única frase que ele sabia dizer em inglês.