Subjectivo
Recordo-me bem da sra. Violante. Ela servia o melhor café da cidade. Era muito obsequiosa e usava catogan que lhe dava um ar mais novo. Isto a propósito de quê? Na semana passada, encontrei o sr. Urso que me disse ao ouvido que a sra. Violante tinha sido miss Suíça e que fora destronada porque foi apanhada na cama com a dama de honor num quarto do Ritz. O sr. Urso toca lira e orgulha-se de ser o cliente mais antigo do café-boutique onde ainda trabalha a sra. Violante. Não sei em que hei-de acreditar. Fala-se muito dos outros nesta cidade. Como se não bastasse, os colarinhos engomados do sr. Urso não me saem da cabeça. Como é que ele consegue?
Informativo
A sra. Violante é empregada de mesa no Grand Café. O sr. Urso conhece a sra. Violante. De acordo com as últimas declarações do sr. Urso, a sra Violante foi miss Suíça em 1947. O Sr. Urso toca lira nos tempos livres e frequenta o Grand Café desde 1951, o que o torna no terceiro cliente mais antigo deste famoso estabelecimento até à data.
Em duplicado
Recordo-me e lembro-me perfeitamente bem da sra. dona Violante. O melhor e o mais saboroso café da cidade e da urbe é servido e trazido pela sra. dona Violante. Ela, a senhora, era sempre e todos os dias muito amável e obsequiosa e usava e trazia um carrapito e um catogan que lhe dava e lhe conferia um ar mais jovem, mais novo. Na anterior e passada semana, deparei-me e encontrei o sr. dom Urso que me cochichou e segredou que a sra. Violante tinha ganho e vencido o concurso de miss Suíça Helvécia e que fora destituída e exonorada por ter sido apanhada e surpreendida na cama e no leito com a dama de honor e de honra num aposento e quarto do Ritz. As golas e os colarinhos engomados e com goma do sr. dom Urso intrigam-me e atiçam-me a curiosidade.
Litote
Ainda não me esqueci da sra. Violante. O café menos mau da cidade era servido por ela de uma forma muito pouco rude. A sra. Violante não dispensa o seu catogan que lhe dá um ar menos velho. Sem ser nesta semana, na outra, não evitei dar de caras com o sr. Urso que não se fez rogado e disse-me que a sra. Violante não perdeu o concurso de Miss Suíça quando resolveu concorrer. Não se coibiu de dizer ainda que ela não chegou a terminar o seu reinado, pois não conseguiu escapar a um episódio menos feliz que se passou no Ritz. Não consigo deixar de ficar deslumbrado com os colarinhos nada displicentes do sr. Urso.
Assombro
Ah a sra. Violante! Meu Deus, o café incrível que ela fazia e servia! Que maravilha de café! Já para não falar da sua simpatia! E o que dizer daquele catogan que a fazia mais menina e moça! E adivinhem lá quem é que encontrei a passear na baixa faz hoje uma semana?! Nada mais nada menos do que o sr. Urso! Que figura é este homem! Ah vocês nem imaginam o que me contou! Disse-me ao ouvido de que sra Violante já foi miss! Miss, vejam lá isto! E sabem o que ele me disse mais? Que ela foi apanhada na cama com outra mulher que era nem mais nem mais do que...a sua dama de honor! Quem diria hein? E logo no Ritz! No Ritz, senhores! Ah com o disse-que-disse que há nesta cidade já não sei em quem acreditar! Ah mas o homem sabe aprumar-se! Aqueles colarinhos! Oh minha santa Eufémia, aqueles colarinhos!
Mots-valise
A sra. Violantada de mesa no Grandcafe. Usa catoganha simpatias. O sr Ursobretudo conhecestima a sra. Violantada de mesa. Dacordo com o sr. Ursobretudo, a sra Violantada foi missuíça quandovem. O Sr. Ursobretudo toclira e frequenta e um o Grandcafe, sendo um dos clientigos. Usa colarigomados.
Profecia
O dia em que se servirá um café mais saboroso do que aquele que a sra. Violante serve está próximo! Nesse dia, a sra. Violante deixará de usar catogan, rapará o cabelo e jamais sairá de casa. Haverá tumultos, as pessoas sairão às ruas, cabeças de inocentes irão rolar.
Não é tudo. Irás encontrar um homem que já não vês há muito, muito tempo. Esse homem irá trazer vestido um enorme sobretudo feito de pele de urso pardo e irá contar-te um segredo terrível que não poderás partilhar com ninguém, ou a mais terrível das tragédias abater-se-á sobre ti e sobre aqueles que amas.
Revista feminina
Violant tinha agora consciência do seu valor. Sentia as suas reservas de auto-estima a voltarem ao normal. Sabia que o Grand Café gravitava em torno de si e que o dono, esse chauvinista, precisava dela. De vez em quando, o seu ex vinha ao café com a conquista do mês para a provocar. Violante desprezava-o com todas as forças do seu ser. Não era tanto pela figura que ele fazia, mas por ter sido parva ao ponto de se ter casado com aquele homem. Ah Violant, Violant...
Na semana passada, encontrei o misterioso Monsieur U a deambular pelos Champs Elysées. Que flaneur me saiu este Monsieur U! Monsieur U trabalha num gabinete de arquitectura paisagística para os lados de La Défense e costumo encontrá-lo às sextas, no Grand Cafe, a beber o seu daiquiri. Cumprimentou-me efusivamente, mais do que o nosso grau de intimidade podia permitir, agarrou-me no braço e disse-me que tinha algo para me contar sobre a nossa querida Violant.
(continua no próximo número da Cosmopolitan)