O gestor era muito paciente . Sempre que acabava de me explicar o funcionamento de uma máquina, punha as mãos nas abas da casaca e sorria de satisfação. Chegámos finalmente à unidade soluçadeira.
- E aqueles homens ali, o que estão a fazer? - perguntei.
- São a nossa força motriz por assim dizer. Mão-de-obra qualificada - respondi.
- Mas...parecem bêbados!?
- Sim, o vinho doce é excelente para produzir soluços de boa qualidade.
Naquele momento, a porta atrás de nós abriu-se e entrou um homem encorpado. Saudou o gestor e lançou-me um olhar meio desconfiado. O homem cheirava a aveia. Dirigiu-se para o anexo envidraçado no fundo do sector.
- É o sr. Mateus, o supervisor. Já está connosco...vai fazer quinze anos em Abril - informou-me.
- E porque é que usa tamancos amarelos?
- O amarelo é a cor mais forte que existe. Distingue-se ao longe. Os táxis americanos são amarelos. Dado o estado ébrio dos trabalhadores, todos os supervisores usam amarelo para que os homens possam distingui-los. Quanto aos tamancos, são de madeira holandesa que é o melhor material anti-soluços. Os holandeses não soluçam como sabe.
- Sim, é verdade.
- O Mateus coordena o fluxo e a intensidade dos diferentes soluços. E dá formação também. Ao fim de cinco, seis anos consecutivos de soluços, o ser humano deixa de produzir soluços. É um trabalho de desgaste rápido.
-- E o que acontece a esses homens? São dispensados?
-- Não senhor. São transferidos para outra secção. Há quatro anos, mandámos vir uma arrotadeira de Milão, uma Octava 9010, e, neste momento, podemos dizer que temos tido uma boa receptividade num mercado que não era o nosso.