segunda-feira, dezembro 28, 2009
O morto e o corcel
Comprou algodão doce para os dois e passou o cheque em nome do senhor Barbe-à-Papa. Assim que terminou, deu umas palmadas de satisfação no dorso do corcel. De repente, ficou muito pálido e apercebeu-se que tinha cometido um erro terrível.
quarta-feira, dezembro 23, 2009
Sugestão de Natal
Depois da abençoada consoada, leia e reencaminhe o ebook gourmet Des Petits Morts aos seus familiares, estranhos, amigos e inimigos!
Vai ver que não se arrependerá!
(bom, mesmo que se arrependa, o e-coiso é totalmente gratuito, por isso).
terça-feira, dezembro 22, 2009
Fábula do Novíssimo Testamento
"Deixo toda a minha fortuna nas mãos de Deus."
O homem morre no dia a seguir. Duas semanas depois, entra em Cena-a-Nova um sobrinho-neto emigrante que se chama João Filho de Deus e reclama a fortuna do seu querido tio-avó. O velho advogado, crédulo e impotente, entrega a fortuna ao herdeiro que apareceu Nãosesabemuitobemd'ond, Macedónia, terra de cavaleiros.
Mas Deus morre no dia a seguir, não deixando testamento, nem sequer parentes colaterais de 4º grau.
Face a isto, a terrível e tentacular máquina diabólica do Estado entra em Cena-a-Nova, apropria-se da vasta herança e, naturalmente, dá graças a Deus.
quarta-feira, dezembro 16, 2009
domingo, dezembro 13, 2009
O herói do Achille Lauro - II
"Avanti", ordenou-me uma voz rouca.
Klinghoffer era americano, mas, como ja referi, passara uma grande temporada em Itália, pelo que não deixava de falar num italiano com sotaque e esforçava-se por falar português.
Leon estava junto à janela a olhar para a pequena praça. Tinha a pele macilenta, o queixo cheio de pregas e a cara estava coberta com aqueles típicos sinais de velhice. Apesar de estar entrevado numa cadeira de rodas, o velho judeu tinha um ar autoritário, napoleónico.
"Como se chama esta piazza?", perguntou, parecendo não demonstrar muito interesse pela resposta.
"Praça D. Filipa de Vilhena", respondi.
"Ah si. Uma vez estive com uma puttana que se chamava Fillipa. Era la cosa piú bella, anche molto molto putana questa donna."
Sem olhar para mim, dirigiu-se vigorosamente para o minibar e perguntou-me se queria tomar algo.
"Sim, uísque com uma pedra, por favor", respondi, avançando um passo.
Como estava distraído a olhar para o magnífico tecto da suite, não reparei que já estava com o meu copo erguido há algum tempo. Foi quando lançou o seu olhar sobre mim.
"Antes de brindarmos, queria fazer-lhe um pedido."
Apontou a mão que segurava o seu copo para uma poltrona verde.
"Queria que publicasse no seu Pierino e il lupo, é assim que chama, vero? Allora, queria que publicasse que acredito que o Bom Ladrão nunca foi uno ladrone, mas sim o maior pederasta da Galileia no tempo de Cristo e que, na sua última hora, seduziu o Senhor. Quem me provar inequivocamente o contrário, ofereço a generosa quantia de cincuenta mille dollari à questa persona."
Se dúvidas houvesse quanto ao avançado estado da doença de Klinghoffer, caíram completamente por terra com esta proposta irrecusável.
sexta-feira, dezembro 04, 2009
O herói do Achille Lauro
sexta-feira, novembro 20, 2009
quarta-feira, novembro 18, 2009
Jan de Vliegher
Todas as vezes que dou de caras com uma mulher feia ou mal amanhada, a minha vida prolonga-se mais meia hora. Não há uma maneira fácil de explicar isto, mas também não vou fazer qualquer espécie de esforço, porque só tenho um pulmão o que faz de mim um gastrópode. Olhei para o céu e Deus pediu-me então para vos contar esta história.
De tudo aquilo que já se escreveu sobre portas, chaves, fechaduras, trincos e ferrolhos, nada se compara à história que irei contar de seguida. No sul de França, depois da segunda grande guerra, havia um vendedor ambulante que viajava muito e que vendia de tudo um pouco. O seu negócio corria de vento em popa. O vendedor alimentava duas grandes paixões: manteiga do Jura e peixes. Esqueçamos a manteiga.
Sempre que ficava hospedado num hotel ou numa pensão, o vendedor enchia a banheira (ou o lavatório) e punha um ou dois peixes apenas para os contemplar. Os peixes eram a sua grande alegria e levava-os para todo o lado. Uma noite, porém, estava quase a pregar o olho quando ouviu uns gemidos abafados que pareciam vir da casa de banho.
- Será o meu pobre peixe? - perguntou a si mesmo.
Abriu então a porta para trás e...os gemidos pararam. Não só deixou a porta escancarada toda a noite, como tirou o trinco da casa de banho para que o hóspede seguinte não trancasse o seu próprio peixe. Mas não ficou por aqui - o nosso protagonista é vendedor ambulante, não se esqueçam. Não descansou enquanto não retirou todas as chaves, arrombou todas as fechaduras, trincos e ferrolhos de todas as casas de banho de hotéis e pensões de França (excepto Córsega, Bélgica e territórios ultramarinos franceses). Foi preso em Periguex e condenado cinco anos. Entre as várias manchetes que encheram as primeiras páginas sobre este caso, seleccionei esta para mim, mas que posso partilhar convosco:
"Polícias mergulhadores apanham o larápio das fechaduras."
terça-feira, novembro 17, 2009
segunda-feira, novembro 16, 2009
quinta-feira, novembro 05, 2009
Curiosidades - Heróis Marvel
Gambit já arrecadou mais de 10 milhões de Euros no 40º Word Series of Poker.
O velho Capitão América (na verdade, detém o posto de Brigadeiro-General aposentado) sofre de artrose e tem dois ordenanças ao seu serviço que o transportam sobre o seu escudo.
Em 2008, Ciclope destruiu quatro clínicas de oftalmologia e oito ópticas no estado de Nova Iorque. O antigo líder dos X-Men sofre de astigmatismo.
O Surfista Prateado foi eliminado na segunda bateria de long board na última prova do Campeonato Mundial de Surf. Galactus riu-se tanto do infortúnio do seu antigo arauto que provocou alguns buracos negros.
Punho de Ferro é realizador e actor veterano de filmes para adultos.
Wolverine sofre de micose profunda nas unhas. É cliente regular de esteticistas e dermatologistas.
Paulo Portas*, actual líder do grupo de mutantes CDS-PP, não gasta dinheiro em alimentação, uma vez que possui super-poderes cósmicos sobre feirantes e reformados.
* Embora Paulo Portas não seja considerado um herói Marvel, é actualmente o meu herói favorito - fica aqui a ressalva/declaração de interesses.
quarta-feira, outubro 28, 2009
Os espantalhos de Chiloé
terça-feira, outubro 27, 2009
sexta-feira, outubro 23, 2009
Histórias russas
Mais info sobre isto & novos horários da linha TGV do Douro, aqui.
sexta-feira, outubro 16, 2009
Greguerias*
- O bidê é o parente atacarrado e tarado da banheira.
- Os quadros que tapam os cofres na parede são sempre medíocres.
- O coelho é um predador sexual.
- Os pilotos estão sempre em greve porque têm medo que lhes nasçam penas.
- A tartaruga das Galápagos é o T5 das tartarugas.
- Jesus Cristo tinha doze guarda-costas e esqueceu-se de pagar a um deles.
- Os minibares dos hotéis deveriam ter minibarmen. Mais emprego.
- Os suicidas que se lançam à frente do comboio gostam de ler nas entrelinhas.
- Pré-requisito para ser velho: queixar-se de tudo e de todos.
* Esta lenga-lenga é minha e não do seu Ramon. Apenas pedi emprestado o rótulo literário e ele disse que sim, que podia ser.
segunda-feira, outubro 12, 2009
Três de uma só vez
Esse infeliz de Arras passava os dias a folhear revistas de homens e mulheres peladonas (Pt Br) e de tanto olhar e tocar apanhou um pé-de-atleta que se espalhou pelo corpo todo. Quem mo disse foi a senhora dona Cândida que parece estar a sempre a par da desgraça alheia.
O sargento-artilheiro valão matou uma companhia inteira só nessa noite. Foi condecorado com várias medalhas. Era cego de nascença mas nem por isso deixava de olhar olhos nos olhos. O seu velho comandante - que também via mal - chamou-o para ler Montaigne e Rabelais, pois o sargento sabia as obras de trás para a frente. Assim mesmo, de trás para a frente.
A nova majorette causou uma viva impressão ao moço do tambor que pegou nela com um braço enquanto tocava com o outro. O rapazola do bombo ficou pasmado com a perícia do moço do tambor e lançou-os ao ar sem nunca deixar de bater nas peles. O chefe da orquestra era o homem mais forte da vila e arremessou-os a todos aos céus. Os homens dos andores que vinham atrás pousaram os santos e levaram a pequena fanfarra aos ombros até ao adro. Foram todos picados por mosquitos, mas ninguém desafinou.
sexta-feira, outubro 09, 2009
Space Oddity
...7 6 5 4 3 2 1 Lift off!
Já está. Meio ano e tal de exploração espacial e de alunagens, e fiquei sem sobrancelhas como o senhor da canção.
quarta-feira, outubro 07, 2009
O casamento tardio
- Boa noite! Aqui estamos conforme o combinado - disse o noivo.
- Boa noite, o combinado era às 19h, não realizo cerimónias depois da hora do jantar - disse-lhe irritado - Toda a gente sabe que dá azar.
- Por favor, temos os nossos convidados à nossa espera - pediu a noiva, carregando nos s e abrindo as vogais.
- A senhora é checa, não é? E aposto que é de Ústí nad Labem, não?
- Sim! Como é q...
- Entrem lá que está a fazer corrente de ar.
Os noivos sorriram e entraram para a sala.
- Aguardem só um momento, volto já - informei-os.
Fui buscar um jarro de água de quente e uma toalha à casa-de-banho, e voltei para junto dos clientes.
- A menina das alianças? - perguntei.
- Já está a dormir...a minha irmã não deixou - respondeu o noivo.
- Hmmm...o senhor é francês? Da Normandia, certo?
- Não, sou de uma aldeia de Ribeira de Pena, mas já vivo há quatro anos na cidade - e sorriu, exibindo uns magníficos dentes.
- E nunca esteve em França? - tornei a perguntar, não me dando por vencido.
- Nunca!
Verti a água a fumegar na bacia, sentei-me na poltrona e comecei a tactear a água com o pé esquerdo que é o mais calejado.
- Ora muito bem, vamos a isto.
terça-feira, setembro 29, 2009
quinta-feira, setembro 24, 2009
terça-feira, setembro 15, 2009
Kit de montagem "Faça a sua própria história"
Compre já o nosso Kit de montagem "Faça a Sua Própria História" e habilite-se a ganhar um fantástico brinde!
O Kit é fornecido com o seguinte material:
- Numeração árabe para as horas/dias (0,1,2,3,4,5,6,7,8,9).
- Numeração romana para os capítulos (I,II,III,IV,V,VI,VII,VIII,IX,X).
- Amostra de águas lodosas de um pântano para matar o único herdeiro das terras abastadas.
- Um apito que imita na perfeição a voz de Pushkin sempre que este fazia amor.
- Seis miniaturas de potros brancos (Atenção: são à escala de 1/6000, são efectivamente muito pequenos).
- Um cantil e um ancinho.
- Uma camponesa insuflável.
- Um botão prateado para fazer de Lua e um botão amarelo para fazer de Sol.
- Um módulo lunar para orbitar à volta da Lua ou à volta da camponesa.
- Uma fotografia raríssima de Rimbaud e Verlaine de mãos dadas em Londres.
- Pontos finais, pontos de exclamação, hífens, notas de rodapés, a exclusiva palavra "etc." (de uma só utilização), etc.
Se ligar já para o nosso número, habilita-se a aguardar uns memoráveis dez minutos e a ganhar figuras de estilo fantásticas para dar um maior peso literário à sua história!
Não perca tempo! Ligue já, ligue agora!
sexta-feira, setembro 11, 2009
A rotina dá-te asas (mais cedo ou mais tarde)
Clap clap clap. Grande obação.
segunda-feira, setembro 07, 2009
sexta-feira, setembro 04, 2009
Onde está o Wally
quinta-feira, agosto 27, 2009
Gerard
Gerard pousou a corneta sobre a escrivaninha, abriu a gaveta e pegou numa folha amachucada. A folha dizia para Gerard pedir educadamente à senhora nua que estava estendida no sofá do gabinete para se retirar. No verso da folha, dizia ainda para tirar da segunda gaveta um revólver, uma caneta e duas folhas. Dizia ainda para queimar a folha antes de abrir a gaveta seguinte. Gerard queimou a folha no cinzeiro e a mulher saiu. Abriu a segunda gaveta e retirou os objectos. Uma das folhas estava em branco e outra tinha uma mancha de texto. Dizia para carregar o revólver com as balas que estavam numa terceira gaveta da escrivaninha e para escrever o seguinte texto na folha que estava em branco:
"Caro _____
PF peça à senhora presente na sala para se retirar. Vire a folha e continue a ler.
(...)
Abra a segunda gaveta da escrivaninha; retire o revólver, a caneta e duas folhas; leia com atenção o que está escrito na folha escrita."
Dizia também para colocar a folha que acabara de redigir na primeira gaveta. Gerard abriu a terceira gaveta, retirou as balas e carregou o revólver. Gerard reparou que havia ainda uma factura da luz no fundo da gaveta. Gerard levou as mãos à cabeça e saiu disparado pela porta fora com o revólver na mão. Gerard era um homem terrivelmente distraído. Quem acha que percebe alguma coisa de literatura, sabe como esta história irá acabar.
quinta-feira, agosto 20, 2009
O homem-cacto
- O senhor disse mesmo aquilo que eu acabei de ouvir? - perguntou o guarda.
- Disse sim. Faça o que lhe compete. Prenda-me. - respondeu o homem-cacto.
O homem-cacto trazia uma mochila e aguardava do lado de fora da portaria. Olhava à sua volta, fascinado. Ninguém estava no átrio do presídio aquela hora. Fechou os olhos e inspirou fundo. Sorriu. O guarda prisional media-o de cima a baixo enquanto marcava a extensão do director. Algumas horas antes, tinha ido à igreja mais próxima da sua casa para se confessar ao pároco. O homem-cacto vivia sozinho na rua da Escola Politécnica, no nº 89, não era de esquerda nem de direita e desdenhava o centro. Gostava de touradas de morte, embora não suportasse ver sangue. Ia almoçar com o seu velho pai uma vez por semana, a sua mãe morrera no parto. Era apreciador de cognac e não era muito bom com contas. Aliás, agora que falo nisso, começou a desenvolver um ódio de estimação pelo merceeiro da rua quando se apercebeu tardiamente que este o andava a enganar. E depois foi o senhor do banco, o seu amigo de infância, o seu sobrinho que tinha quase a sua idade, o IRS, o homem da bomba. E foi assim que tudo começou. Os jornais viriam a chamá-lo de homem-cacto, pois para além de ser intocável, raptava as suas vítimas e deixava-as morrer de sede no meio da tórrida planície. Muitas pessoas enganaram o homem-cacto desde que este ganhou o seu primeiro ordenado. Até que chegou a uma altura em que não era necessário vingar-se de mais ninguém. A sua última vítima, o garçon arrogante que o enganara anos a fio no troco, ainda estava a agoniar com a língua de fora e iria morrer em poucas horas.
Ali na prisão, não havia muitas contas a fazer.
sexta-feira, agosto 07, 2009
A marca do camaleão
quinta-feira, agosto 06, 2009
segunda-feira, agosto 03, 2009
O prosador venenoso
quinta-feira, julho 30, 2009
A ida da Lua ao Homem
gostava de fazer parte
das expedições do luar
semear a luz da incerteza
no Senhor Pragmático,
no alfa inabalável
e engasgar-lhe o pensamento
se algum dia morrer
gostava de fazer parte
das expedições do luar
serpentear à volta das
meninas cheias de insónia
que se tocam
sob os lençóis
depois de saborearem o
pau-de-canela do café
se algum dia morrer
gostava de fazer parte
das expedições do luar
iluminar bombas de
gasolina abandonadas,
cataventos enferrujados,
o oceano,
as algas que secam no areal ,
a Praça de S. Marcos,
o adro mais miserável
se algum dia morrer
gostava de fazer parte
das expedições do luar
descer sobre homens que
parecem pouco mais do que homens
querem subir ao palco das estrelas,
querem mais espaço.
sexta-feira, julho 24, 2009
Kitchen Debate
I want to show you this kitchen. It is like those of our houses in California.
R. Nixon
N. Khrushchev
Faz hoje 50 anos que, na Exposição de Moscovo, Nixon e Khrushchev trocaram impressões inflamadas sobre electrodomésticos e a qualidade de vida dos respectivos países. A transcrição (em Inglês) pode ser lida aqui. Foi uma boa tentativa para aliviar o clima de guerra fria que se vivia então. Ficou conhecida como o Kitchen Debate. A realidade supera sempre a ficção.
quarta-feira, julho 22, 2009
O caso do falso médico
Até que um dia alguém lhe descobriu a careca. Mal soube do sucedido, Christus não aguentou: apontou um yo-yo à cabeça e matou-se. Mais tarde, veio a saber-se que a careca descoberta não pertencia ao médico, mas à sua bela mulher. Madame Christus nunca fora sua mulher de verdade, mas, uma vez mais, ninguém suspeitara de nada.
sexta-feira, julho 17, 2009
quarta-feira, julho 15, 2009
A Dança de Jasna Góra
sexta-feira, julho 10, 2009
O anacoreta
Sentei-me na poltrona de pele-vermelha e encarei o afamado anacoreta sem nunca desviar o meu olhar do seu. O meu à-vontade desconcertou-o e levantou-se de imediato. O anacoreta era dono e senhor de uma ptose abdominal invejável. Com as costas gordas voltadas para mim, ajeitou o jaquetão e começou a falar para um troféu de caça que irrompia da parede.
"A perversão das mulheres, meu caro", disse. "Você sabe o que o espera se eu o aceitar para o lugar?...O cavalheiro antes de si suicidou-se. Aposto que não sabia disto quando se candidatou ao lugar." Começou a fazer festas à barbicha castanha do alce. Era um troféu de excepção. "Chamava-se Pavel e foi o meu melhor paleontologista." Mal deixou cair a palavra quando se voltou para mim com uma rapidez surpreendente.
Então era mesmo verdade. O velho anacoreta tinha enlouquecido de vez. Chamo-me Pavel Leonov e parto amanhã para a minha segunda expedição no Gobi.
quinta-feira, julho 09, 2009
sexta-feira, julho 03, 2009
Ebook
Recolha de observações e desenhos realizados por Dr. Fausto em papéis de parede antes de ter invocado o senhor da contagem da água disfarçado de Mefistófeles.
Obrigado ao Arq. Miguel e ao Eng. Luís.
quinta-feira, julho 02, 2009
O Único Sobrevivente
chegaram a 1 consenso
foram 139 ou 140 vítimas
mortais? o porteiro aponta
imperiosamente para
o céu e de repente
pára de chover
"vamos aproveitar agora"
enterram os mortos logo ali e
largam 2 risadas verdes que
se misturam com o schlap
dos sapatos pretos nas poças
o jovem porteiro vê-las
partir e torna a ler a
manchete do desportivo:
"Único Sobrevivente do Acidente
no Real por 94 milhões"
sexta-feira, junho 26, 2009
quinta-feira, junho 25, 2009
Forcéps
- Pois não. Sou titular de uma palavra-passe.
- ?
O utente inclinou-se ligeiramente e segredou ao validador:
- Forcéps.
O validador emitiu uma luz verde e um beep de aprovação. O utente sentou-se no lugar das grávidas e inicou a contagem decrescente dos 60 minutos.
sexta-feira, junho 19, 2009
Um cara-de-pau e um cara-de-cu
"Quanto a ti não sei, meu farsante", disse o cara-de-cu, "mas eu, mais do que ninguém, fiz por merecer o meu lugar aqui!"
O cara-de-pau saiu do transe em que estava mergulhado, olhou para o cara-de-cu e pregou-lhe um beijo na cara-nádega, e continuou a contar as belas cornucópias. O cara-de-cu transformou-se então num belo sapo encantado.
Aparece finalmente a terrível virago que brada aos infernos pelo número do cara-de-cu. O cara-de-pau olha para o seu tickete, encolhe os ombros e retoma a contagem. Não se atreve a dar um beijo à terrível virago que ainda hoje chama pelo número do cara-de-cu.
quinta-feira, junho 18, 2009
terça-feira, junho 16, 2009
O gandulo
- Que nome irei dar à minha seita?
Stendhal. Só lhe vinha à cabeça o nome Stendhal. Lembra-se de ter lido Stendhal quando era mais novo, mas porquê agora Stendhal?
- Pois bem, assim seja, vou baptizar o meu culto de "Estendhalismo"!
(O nosso herói é brasileiro).
A Igreja Estendhalista, depois de um período evangelizante muito próspero, viria a fechar as portas, porque todos os fiéis passivos de Cat. B apanharam a terrível febre muar que grassava impiedosamente naquela região.
O gandulo perdeu a sua fé e voltou à antiga actividade.
quinta-feira, junho 11, 2009
Takeway
...
número 143257
...(...)
143258
... (aqui os frangos tem as patas engraxadas)
143259
...
143260
a senhora cheia de salamaleques
que estava ao meu lado
arregalou os olhos,
pegou em mim,
pagou
e saíu disparada
a senhora cheia de salamaleques
gosta de pôr picante
entre as coxas
segunda-feira, junho 01, 2009
quinta-feira, maio 28, 2009
quarta-feira, maio 27, 2009
Problema
R: ______________!!!
terça-feira, maio 26, 2009
Perez Mete-lo
- O que é que aquele mirolha do Perez Mete-lo tem que eu não tenho? E depois toda aquela sapiência financeira! Ó Deus rogai por mim! - exclamo com a voz enrouquecida pelo sono.
E fico assim sentado na cama a olhar para a parede creme horas a fio.
Sccsccchhh
A vizinha a tomar banho para ir trabalhar. Os primeiros raios do sol a furarem o estore. Desperto do transe, deito-me e adormeço.
Gostava de ter uns bons cornos para me defender destes atrasos de vida.
terça-feira, maio 19, 2009
Casado de fresco
Casei-me com uma das minhas personagens pelo civil. Já adivinharam o seu nome. Chama-se Alce Ione ou apenas Alce. Rigaut e o senhor da pastelaria foram as testemunhas. Não foi entediante, de todo. Foi uma cerimónia asseada e com intervalo para vermos um pequeno filme didáctico. No fim, a senhora da conservatória comoveu-se e pediu-me que lhe enviasse as fotos por carta registada.
segunda-feira, maio 18, 2009
O incontinente Capt. Kirk
US Starship Enterprise Blog - year XXII day 009
My head is killing me today. I think Spok said something, not sure. Don't care. Vulcano. What a stupid name for a planet. Forgot to put my lens with cherry flavour again. I don't see a damn thing. Where do we go now? Hmm. That reminds me of an old song that my grandpa used to sing. Beep. What do you know? The yellow LED. My pee bag is full again.
quinta-feira, maio 14, 2009
O nefelibata
Pela cor saudável das suas bochechas deve ser um nefelibata! Mas um nefelibata com os pés assentes na terra?! Onde já se viu? Contratou os serviços de uma aia (uma aiazinha!) para lhe segurar na chávena enquanto toma o seu expresso no balcão. Toda a gente com bicos de pato a olhar. Excepto eu que me in-vejo neste espelho parisiense e solto uma piada de mau gosto que rola pela mesa de mármore rosa e parte-se em mil bocados. Ah, a mim agora!
segunda-feira, maio 11, 2009
Family Frost
os sprinklers novos
não o deixavam dormir
lembravam-lhe o borrifador
do ferro de engomar da ex-mulher
desmontou-os no dia seguinte
e propôs uma troca ao senhor Family Frost
recebeu em troca três gelados de couvete
e dez, onze poemas ultra-congelados
não gostou do que leu e
queimou-os no jardim nessa noite
lembravam-lhe as ancas da ex-mulher, do tempo
em que era feliz, da música FF como banda sonora
quarta-feira, maio 06, 2009
STCP - Sociedade de Transportes Colectivos de Poetas
sábado, maio 02, 2009
Harry Potter foi encontrado morto
A poesia de hoje não passa de
ronhónhó ronhónhó ronhónó:
sou um violino que nunca foi
tocado como deve ser-
até ao dia de hoje
Amanhã, se for esse o Seu
desejo, irei conhecer
o Grande Ilusionista
e a grande Varinha mágica
Hocus Pocus (este é o meu corpo)
Cheers,
H.
terça-feira, abril 28, 2009
Os Genuflexórios
- Sirvo-me da minha senhora como um porquinho-da-Índia, meu querido padre. Faço de tudo para a distrair e ela continua sempre naquele estado de penitente. Nem sempre foi assim, claro está, mas fui aperfeiçoando a minha arte ao longo destes anos. Acaso sabeis que uma mulher pode ficar meio dia de joelhos?
O padre olhou para o tecto de madeira e ficou calado por uns momentos, até que confessou:
- Tenho pena de não o ter conhecido quando era mais novo. Fique nas graças de Deus!
E lá foi à vida dele, a cogitar nas palavras do artífice e a invocar o nome e o ofício da mãe do Marquês.
quarta-feira, abril 22, 2009
Os 9 Passos para a Felicidade
Para ser feliz é imperioso ter uma pequenina infiltração na casa-de-banho. Um homem que me quer bem assim me aconselhou. Talvez tivesse sido o meu agente de seguros, não me lembro muito bem:
1. Acordar, bater palminhas e dirigir-se à casa de banho.
2. Certificar-se de que os seus dois pés se encontram dentro da tijoleira creme com a carpa sorridente e respeitar a distância de segurança de 30 cm do lavatório. Se apenas tiver um pé, a tarefa afigura-se mais fácil.
3. Inclinar ligeiramente a cabeça para cima e aguardar pela queda da gota revigorante.
4. "Piing!": deverá ser este o som emitido pela gota (não mais do que dois "i"s).
5. Fingir uma tosse viril, rouca. Aproximar-se do espelho para analisar o tamanho do buraco na testa. Se o diâmetro da concavidade for superior a 5 cm está no bom caminho e tem tudo para ser um cidadão bem-disposto e até feliz.
6. Repetir o passo anterior se estiver muito mal disposto ou com ressaca.
7. Frühstück!
8. Levar o escaravelho à rua para fazer as necessidades. Ignorar o cadáver hostil estendido no jardim.
9. Pegar nos skis e sair para mais uma incrível jornada de trabalho.
terça-feira, abril 21, 2009
na noite de 25 de Abril de 1974
em Boise (ID), a facção
revoltosa da comunidade basca
preparava-se para um golpe
de estado no estado de Idaho,
até que o responsável
pela Informação
teve conhecimento
que em Portugal
alguém se lembrou de
fazer o mesmo durante o dia:
uma revolução à beira-rio,
com cravos e unhas amareladas
"Duas en el mismo dia!
No me jodas tio!" -
berrou o cabecilha etarra.
A revolução basca em Idaho
ficou adiada por tempo indefinido.
quarta-feira, abril 15, 2009
Minis para usar e deitar fora
- Já não vemos o cuco da irmã da minha avó há dias. Está a ficar ranzinza, diz que não aceita a mudança de hora.
- O velho soldado alemão que fugiu de Berlim para o Rio Grande do Sul e do Rio Grande do Sul para a minha vila amontoa e leva a roupa suja no side-car. Redimiu-se com o passado.
-Em São Petersburgo, os pobres roubam e queimam pernas postiças de madeira para se aquecerem. Não há térmitas nem caruncho que pegue em São Petersburgo.
- Sei de fonte segura que o homem do matadouro gosta de trabalhar dias a fio, sem parar. Chop chop. Não sei o que estou a comer, mas sabe-me bem.
- Gosto de ir ao El Corte Inglés. Sou assediado inúmeras vezes pelas meninas que pintam a cara de várias cores. Uma vez cercaram-me e não consegui fugir. Só Deus sabe o que eu passei.
- Os autocarros deveriam ter lugares reservados para poetas. Quantos belos versos não se perderam por irem de pé.
- Não sou compatível com os romances de capa & espada. Mas gosto dos bigodes do Errol Flynn e do Stewart Granger. O segredo para ter sucesso está no bigode.
terça-feira, abril 14, 2009
Deixem passar os Playboys
O mundo está agora pronto para a era dos Playboys! Todos liderados pelo notabilíssimo e sonâmbulo bisneto do Dr. Faustroll, não há meio tempo a perder! Com corcundas que pescam à linha e passam o tempo a olhar para a cesta do vizinho queimada pelo sol! Com fulanos que ainda vivem na I República e viajam de caleche e entopem as nossas ruas lamacentas! Vamos todos contemplar as bolhas da sopa e as forças ocultas que as impelem! Façam regressar os vice-reis da Índia e os doze velhos capitães donatários para porem cobro ao actual estado das coisas. Greve dos maquinistas do alto-mar, já! Layoff! Fora os gascões, são todos uns morcões! Deixem passar os Playboys! Tantos voluntários, podem baixar os braços, meus senhores.
domingo, abril 12, 2009
Marcar o compasso
Dois compassos rivais cruzaram-se a meio da principal rua da aldeia que delimitava as respectivas jurisdições.
- A vossa sineta foi roubada da pensão mais rasca, parece um besouro! - berrou o testa de ferro de um dos gangs pascoais.
- E o vosso crucifixo, Deus meu?! Tem um Cristo sorridente, onde já se viu? - replicou o segundo da hierarquia do outro compasso.
E logo ali teve início a troca de galhardetes. As velhas sentadas nos bancos do adro levantaram-se e começaram a benzer-se em gestos sucessivos, invocando o nome de Deus. Os rapazolas pararam de jogar à bola e correram em direcção à pequena Aljubarrota. O louco da aldeia, que este ano se vestira de coelho, trocava carícias com a filha do dono do café que tinha ar de inglesa, enquanto os homens se riam cá fora com um copo de tinto na mão.
sexta-feira, abril 10, 2009
Chuenca, Madrid
“How I do love to hear the wolves howl!”
Joseph Smith
Tratavam-se por
Irmão, Irmão Chéri
Irmão Snow (Esnô) e
eram a parelha
Mormon mais bem
sucedida fora do Utah.
Convertiam todos
aqueles que há muito
desejavam ser convertidos e
até aqueles que professavam
outra religão.
Andavam com aquele
ar de quem acabou de
acordar sobre um colchão
de água e teve
um sonho bom.
quinta-feira, abril 09, 2009
quinta-feira, abril 02, 2009
Morangos
Tenho morangos com bolor a estragarem-se no frigorífico. Sr. Perez Mete Lo, a minha questão é a seguinte: os pombos e as pombinhas lá fora gostarão de morangos estragados? Não consigo deitá-los fora com esta crise a martelar-me a cabeça. Que aflição que isto tudo me mete! Ajude-me por quem lá tem sr Perez Mete Lo.
(A senhorita hermofrodita ri-se mas isto não tem piada nenhuma).
terça-feira, março 31, 2009
segunda-feira, março 30, 2009
O êxito do Senhor Rohnes
sábado, março 21, 2009
Escudo de Buenos Aires
Em Buenos Aires, existem homens de baixa estatura que esperam ser redescobertos. Saiem dos trabalhos antes do pôr-do-sol, atravessam e percorrem as intermináveis avenidas para chegarem ao Rio De La Plata. No cais, cumprimentam-se cordialmente sem dizer uma palavra, ocupam as pedras gastas que lhes foram passadas pelos seus pais e tentam encontrar caravelas no horizonte.
terça-feira, março 17, 2009
O Soldador de Almas
segunda-feira, março 16, 2009
Hopper
sábado, março 14, 2009
O Velho Gaiteiro - Cap. II
O Velho Gaiteiro - Cap. I
sexta-feira, março 13, 2009
terça-feira, março 10, 2009
Síndrome de Estocolmo
Jean-Michel Folon
O meu dedo cheira mal.
As cascatas de versos fétidos que segui
com a ponta vermelha do indicador.
A verdadeira questão aqui e ali
não é a honestidade do poeta-oráculo
que acabei de cheirar, vejamos:
os gregos deram-me a
escolher entre
ser refém de alguém, ter medo
para depois criar laços e entre
ler e roubar cânones, água tépida
que não aquece nem arrefece.
Tenho algum tempo
para emendar erros,
afinal a vaidade constrói-se
com baldes de trabalho, contrabando,
paixões capitosas, observar o
outra poeta a observar, a fazer
reféns.
segunda-feira, março 09, 2009
domingo, março 01, 2009
O Tentador Mais Velho do Mundo
Regressei de umas férias tonificantes em Sealand, o país mais pequeno do mundo. Uma semana sem roupa lavada, barba de náufrago, que mais um homem pode querer? Conheci um tipo curioso chamado Papillonete que já tentou todos os meios possíveis para sair daquela ilha artificial. Papillonete gosta muito de tentar. Apelida-se de o Tentador Mais Velho do Mundo.
domingo, fevereiro 22, 2009
Temos um problema de meio-fundo
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
S. Rimbaud assim me aconselhou
em aparição num canal codificado
em jeito de homenagem póstuma à Poesia
deixarei de escrever poemas em breve
vou gerar emprego
abrir uma firma de próteses dentárias
no Principado de Liechtenstein,
talvez uma clínica de fertilidade,
no fundo vai tudo
dar ao mesmo
à minha língua,
ao teu castor.
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
terça-feira, fevereiro 10, 2009
Personagens
O mais galhofeiro dos meus personagens estava a lambuzar-se com um favo de mel, quando, de um jeito arrebatado, atirou-o pela janela fora, ordenando de imediato aos restantes que se levantassem das cadeiras de vime. Era claramente o líder deste escol prometedor. Fizeram-no contrafeitos, naturalmente; o mais velho, antigo campeão de tiro às pombinhas, soltou um gás e pôs a língua de fora. A seu lado estava a senhorita Gigi que me estendeu a mão azulada, enquanto puxava com a esquerda o decote de crinolina que insinuava o seio. A criancinha que puxava o vestido de Gigi fez-me notar que eu tinha lapas cravadas nas costas e avisou-me que as lapas só desgrudavam com espumante reles. Que criança tão esperta! Vamos lá, continuemos. Sarabando, meu camarada de armas, branco e maciço como um tampo de mármore. Entregou-me solenemente o seu livre-trânsito para depois desatar às gargalhadas que emprastaram o ar. Que tipo tão maravilhosamente inconsequente! E que duas palavras tão grandes! Comecei também a rir, a rir, a rir, até ter convulsões, como se tivesse perdido o emprego. E não é que perdi mesmo?! Já estou a rir há quarenta e oito horas e só vou parar quando me derem um trabalho a sério. Um Domador de Feras que regressa triunfante à arena após um longo e amargurado interregno! Um Escanção de reis e presidentes de transição (mas cheios de bom gosto!), um Assessor togado de um ex-magistrado justiceiro!
quarta-feira, fevereiro 04, 2009
Aviso
Interdita a entrada a coelhos e a anões réprobos.
Obrigado.
domingo, fevereiro 01, 2009
Job, o barman
- Oh! Então?! Está mais do que decidido. Tantas despesas com esta crise! Vá, vamos dormir, amanhã será outro dia.
E com esta verdade scarlettiana ainda no ar, lá se foram deitar. Luzes apagadas. Ele ainda libertou um longo suspiro enquanto olhava para a penumbra do quarto. De súbito, virou-se para o lado da janela com alguma brusquidão, tapou a cabeça com o edredão e adormeceu.
Dois dias depois, Henrique chega a casa, atira o sobretudo para cima do sofá e ajeita-se na sua poltrona. O comando da televisão?
- Já chegaste querido? - pergunta Margarida enquanto rala umas cenouras na cozinha.
- Meu Deus, esta sala é um gelo! - responde-lhe inconsolado.
Levanta-se, puxa o cesto de lenha debaixo do armário e começa a acender a lareira. Pouco depois, sacode as mãos e regressa feliz ao seu trono.
- Ó Job, prepara-me aí um martinizi...
De repente, dá-se conta e cai em si. Num tenebroso e fulminante si maior. Desencosta-se e olha para o barzinho de canto. Job não estava lá. Tinham dispensado os seus serviços na noite anterior. Nove anos de casa.
Lá fora, o camião do lixo recolhia ruidosamente o lixo dos contentores daquela rua sem saída.
terça-feira, janeiro 27, 2009
os Anões e eu
sexta-feira, janeiro 23, 2009
quinta-feira, janeiro 22, 2009
quarta-feira, janeiro 21, 2009
Tudo ou Nada no Dente-de-Fada
Fui um sustenido duro
de roer que achava olhos
de carneiro de mar morto,
filamentos de musgo-real
debaixo de travesseiros
era esta a minha arte
só trabalhava à meia-luz
do gardel, admirava
em sigilo gargantas
fundas, peles de bócio
que não conseguiam
fazer esgotar
o filão da palavra.
Tinham de ser lidos, sim.
Por acerado acaso
a carteira de um
veio parar aos meus pés
em vez de a devolver
ou ingressar nas Forças Armadas
Até Aos Guizos
deixei prescrever
o prazo de entrega
apostei tudo
no Dente-de-Fada:
fiquei dondo e com
um hálito de cabra,
sou um gentilhomme
em Oliveira do Arda
domingo, janeiro 18, 2009
sábado, janeiro 17, 2009
Deus
sábado, janeiro 10, 2009
A Queda do Conselheiro Morno - II
Numa dessas tardes idílicas, o Grande Bastonário da Confraria das Bagatelas, ser insidioso e possuidor de uma língua mais viperina do que a das cortesãs, passeava sozinho pelas veredas da ala norte do labirinto, fumando o seu rapé quando, de repente, deteve a sua marcha. Pareceu-lhe ouvir, do outro lado do ornato verde, alguém a arfar, e depois ais e suspiros cavos, roucos, de profunda agonia.
O fim do meu intricado romance histórico está iminente. Tenho de vos deixar por agora para dar prioridade a esta obra. Não deixem de aquecer os vossos bancos ou cadeiras da melhor forma que entenderem e, sobretudo, não ponham a carroça à frente dos bois, nem enfeitem os bois à frente das vacas. Num piscar de olhos, saberão o desenlace trágico desta história baseada em factos reais e clericais. É de fazer chorar as pedras da calçada.
sexta-feira, janeiro 09, 2009
Longa Quilometragem
E o óscar este ano vai para aquele senhor ao lado daquele senhor que está atrás daquele cavalheiro bocejador de cartola creme. Oh, finalmente foi-lhe reconhecido talento. Ele merece.
sábado, janeiro 03, 2009
Factos ocorridos entre 31 de Dezembro de 2008 e 01 de Janeiro de 2009.
O Exmo. Juíz de Fora bebeu soda caústica
em vez de champanhe. Viveu três minutos de 2009.
Na antiga Rodésia, um caçador furtivo matou
o último leão do Parque Nacional. A sua efígie
será perpetuada nas notas de Z$ 100 000 000.
Os sem-abrigo de Rimini ofereceram as
suas mantas aos banhistas de Ano Novo.
João de Lima Triste reparou que não tinha
as vacinas em dia. Como era hipocondríaco,
morreu de aflição pouco antes da meia-noite.
De repente, calaram-se todos e encostei o ouvido
à parede:
- Filomena, São Benedito está entre nós esta noite.
- Como é que ele entrou no nosso quarto, poderás dizer-me?
O dono de um café de Tróia quis aparecer
no notíciário. Contratou três sem abrigo
de Rimini para assaltar o estabelecimento.
Os worst-sellers de 2008 estão carregados
de histórias inúteis como esta. É bem feito.
O Ministro do Equipamento está feliz porque
estreou cuequinhas novas e recebeu um postal de Ano
Novo do Primeiro.
Rolou a última cabeça condenada em 2008. Se
tivesse a cabeça no sítio chegaria a 2009.
quinta-feira, janeiro 01, 2009
A Queda do Conselheiro Morno - I
Como é frequente nestas histórias, alguns cortesãos, servum pecus de Sua Leviandade, cobiçaram até ao caixão o cargo e o favoritismo real, e até a sua amante, menstruadíssima de sangue azul, conseguia transformar a maledicência numa arte. Os seus ossos ficaram roídos pelo ciúme e quase que desmaiava quando via os dois a passearem pelos intermináveis labirintos verdes. Mas o Conselheiro Morno era um homem de tal forma insigne e magnânimo que desdenhava as "pequenas fraquezas" dos outros (e quando envergava a sua jaqueta preta desdenhava duas vezes mais).
Por hoje é tudo. Dêem-me o prazer da vossa companhia nas próximas madrugadas e contar-vos-ei como teve início da queda do Conselheiro Morno.