sexta-feira, julho 10, 2009

O anacoreta

"Sente-se, sente-se!", disse.
Sentei-me na poltrona de pele-vermelha e encarei o afamado anacoreta sem nunca desviar o meu olhar do seu. O meu à-vontade desconcertou-o e levantou-se de imediato. O anacoreta era dono e senhor de uma ptose abdominal invejável. Com as costas gordas voltadas para mim, ajeitou o jaquetão e começou a falar para um troféu de caça que irrompia da parede.
"A perversão das mulheres, meu caro", disse. "Você sabe o que o espera se eu o aceitar para o lugar?...O cavalheiro antes de si suicidou-se. Aposto que não sabia disto quando se candidatou ao lugar." Começou a fazer festas à barbicha castanha do alce. Era um troféu de excepção. "Chamava-se Pavel e foi o meu melhor paleontologista." Mal deixou cair a palavra quando se voltou para mim com uma rapidez surpreendente.
Então era mesmo verdade. O velho anacoreta tinha enlouquecido de vez. Chamo-me Pavel Leonov e parto amanhã para a minha segunda expedição no Gobi.