quarta-feira, novembro 18, 2009


Jan de Vliegher

Todas as vezes que dou de caras com uma mulher feia ou mal amanhada, a minha vida prolonga-se mais meia hora. Não há uma maneira fácil de explicar isto, mas também não vou fazer qualquer espécie de esforço, porque só tenho um pulmão o que faz de mim um gastrópode. Olhei para o céu e Deus pediu-me então para vos contar esta história.
De tudo aquilo que já se escreveu sobre portas, chaves, fechaduras, trincos e ferrolhos, nada se compara à história que irei contar de seguida. No sul de França, depois da segunda grande guerra, havia um vendedor ambulante que viajava muito e que vendia de tudo um pouco. O seu negócio corria de vento em popa. O vendedor alimentava duas grandes paixões: manteiga do Jura e peixes. Esqueçamos a manteiga.
Sempre que ficava hospedado num hotel ou numa pensão, o vendedor enchia a banheira (ou o lavatório) e punha um ou dois peixes apenas para os contemplar. Os peixes eram a sua grande alegria e levava-os para todo o lado. Uma noite, porém, estava quase a pregar o olho quando ouviu uns gemidos abafados que pareciam vir da casa de banho.
- Será o meu pobre peixe? - perguntou a si mesmo.
Abriu então a porta para trás e...os gemidos pararam. Não só deixou a porta escancarada toda a noite, como tirou o trinco da casa de banho para que o hóspede seguinte não trancasse o seu próprio peixe. Mas não ficou por aqui - o nosso protagonista é vendedor ambulante, não se esqueçam. Não descansou enquanto não retirou todas as chaves, arrombou todas as fechaduras, trincos e ferrolhos de todas as casas de banho de hotéis e pensões de França (excepto Córsega, Bélgica e territórios ultramarinos franceses). Foi preso em Periguex
e condenado cinco anos. Entre as várias manchetes que encheram as primeiras páginas sobre este caso, seleccionei esta para mim, mas que posso partilhar convosco:
"Polícias mergulhadores apanham o larápio das fechaduras
."