Nos tempos quase pré-colombianos do Marquês de Pombal, havia um mestre artífice que ficou conhecido pelos seus confortáveis genuflexórios. Os confessionários estavam sempre à pinha e os penitentes faziam fila para pedirem perdão a Deus pelos seus barrocos pecados. Num final de tarde solarengo, um padre jesuíta que acabara de ter sido torturado de fresco pelos homens do marquês, descia a rua do Rato-ao-Sol com a fé algo claudicante e lembrou-se de entrar no loja e perguntar ao mestre artífice qual era o segredo para fazer genuflexórios tão eficazes.
- Sirvo-me da minha senhora como um porquinho-da-Índia, meu querido padre. Faço de tudo para a distrair e ela continua sempre naquele estado de penitente. Nem sempre foi assim, claro está, mas fui aperfeiçoando a minha arte ao longo destes anos. Acaso sabeis que uma mulher pode ficar meio dia de joelhos?
O padre olhou para o tecto de madeira e ficou calado por uns momentos, até que confessou:
- Tenho pena de não o ter conhecido quando era mais novo. Fique nas graças de Deus!
E lá foi à vida dele, a cogitar nas palavras do artífice e a invocar o nome e o ofício da mãe do Marquês.