sexta-feira, dezembro 30, 2016

segunda-feira, dezembro 26, 2016

Grávidos de dor

Às vezes - aliás, na maior parte das vezes - é bom andarmos "grávidos de dor" durante alguns meses. Podem ser nove. Podem ser mais. Muitos mais. Não tem nada a ver com masoquismo. Ou talvez tenha para alguns, não sei.

Meses de procrastinação, de ansiedade, de sofrimento, de desconforto, de desespero, de medo.
No fim (no princípio?), nasce um novo ser.
Belo, forte, com vida, energia electromagnética, energia quântica, chi, prana, a pulsar em todo o seu ser e a irradiar para os que mais precisam.*

*Eat your heart out, Lao-Tse. That's right baby.

terça-feira, dezembro 20, 2016

Fósforo

A cabeça de um fósforo tem de ser raspada para dar luz.
E a faixa da caixinha para acender é quase sempre negra.
E, às vezes, o gajo não acende à primeira.
Luz. Ok, a caminho de algo aqui: alto e pára o baile!

segunda-feira, dezembro 12, 2016

O Bernardino



Entrei na padaria do Bernardino que ocupava uma das lojas exteriores do mercado. O Bernardino usa uns velhos óculos bastante graduados que lhe aumentam os olhos. Quando limpa os óculos, os seus olhos parecem dois pontos finais debaixo da testa cheia de travessões. Os olhos do Bernardino têm vida própria, isto é, cada olho olha numa direcção diferente do outro, quando o esquerdo olha para cima, o da direita olha para baixo ou para o lado. É muito confuso quando queremos pedir-lhe alguma coisa. O Bernardino engana-se sempre no troco a seu favor e a minha avó manda vir sempre com ele. Tem o péssimo hábito de caçar moscas com a sua língua de camaleão, mesmo à frente dos clientes, e fica pior que estragado quando alguma mosca lhe escapa ou quando vê uma a dançar e a esfregar as patitas em cima de um molete como que a dizer "és todo meu". Apetecia-me um bolo mas como não tinha dinheiro suficiente, pedi um cantinho de broa. Adoro trincar a côdea da broa de milho e depois amassar o miolo com a língua. Perguntei-lhe pela minha avó, mas ele é meio surdo (ou faz-se), já estava concentrado a caçar uma varejeira com a sua rapidíssima e compridíssima língua roxa. Certa vez, uma mosca velha entrou-lhe para o olho esquerdo e nunca mais de lá saiu e ele diz que vê as coisas e as pessoas como um…calei… um ca-lei-dos-có-pio (desse olho), vive aterrorizado que outra mosca faça o mesmo no outro olho. Tornei a meter-me pela rua de trás quando senti uma espécie de um "cachaço" muito leve, muito meigo, como se me estivessem a fazer festas na nuca. Virei-me e a vinte metros de mim reparei numa menina muito bonita dentro de um furgão velho. Deveria ser filha de um dos vendedores e estava a olhar fixamente para mim. A menina fez-me sinal com o dedo para eu me aproximar e depois apontou com o mesmo dedito para a minha avó que estava no talho do senhor Aguiar. Como é que ela conhecia a minha avó? Não me lembro de ter visto esta miúda antes e vou à Praça com a minha avó quase todos os sábados. Deslizei pelas folhas de couve e de alface esmagadas no chão até chegar ao talho.

sexta-feira, dezembro 02, 2016

Mente

A mente dentro da mente dentro da mente dentro da mente, etc.

Sim, eu sei, 2016 está a ser um ano de profundas revoluções a esse nível.
Ao nível em que cada um está, neste momento.
É como passar da 2ª velocidade para a 5ª velocidade. E sempre que fazemos marcha-atrás sem olhar para o retrovisor ou quando queremos arrancar logo em 5ª com ela, com a mente, o carro vai abaixo ou batemos em algo - é tramado*.

Neste momento. Que é tudo o que importa, tudo o que vale.

A mente dentro da mente dentro da mente dentro da mente, etc. Um belo mantra.


Yep.

*mas que belo eufemismo, tão casto, tão pueril.

quinta-feira, dezembro 01, 2016

quarta-feira, novembro 30, 2016

ªSede



Godspeed, Rui:

"Dia 3 de Dezembro, às 17h00, abre ªSede. Um espaço na Rua de Santa Catarina, 787, no Porto, onde se pretende propor um conjunto de actividades artísticas e culturais, programadas por mim, com a cumplicidade inteligente da Carolina Lapa e do Luís Nobre (os dois Lina&Nando), também responsáveis pela imagem e comunicação.

Para assinalar a abertura de ªSede, propusemos ao José Cardoso a montagem de uma exposição com vários dos seus notáveis trabalhos fotográficos, a que demos o título de “Artes Plásticas”. A inauguração, que inclui vários inéditos, é às 17h00 e a entrada é livre.

Ainda em Dezembro, haverá uma jornada de Douda Correria, no dia 10, com a apresentação de “Lançamento”, o mais recente livro de Margarida Vale de Gato, que viaja até ao Porto na companhia de Nuno Moura, autor de "Clube dos Haxixins", e João Paulo Esteves da Silva, autor de "Tâmaras".

Por fim, no dia 17, recebemos D. Duarte, o senhor da Livraria Snob, para um venda de Natal, que inclui centenas de livros raros e seleccionados.

Contamos com todos.

ªSede é um espaço reabilitado e gentilmente cedido pela Reurban, do nosso Jorge Garcia Pereira."

sexta-feira, novembro 18, 2016

O Padre e o Brandão



O Padre da paróquia de Santa Marinha já era muito velho quando me baptizou com vinho-bento e continuou a ser muito velho quando fiz a primeira comunhão. Lembro-me bem dele e o hálito a vinho benzido que ele bufava através da rede de vime do confessionário quando me absolvia dos meus pecados de criança. Com o passar dos anos tornou-se cada vez mais impaciente e rabugento e cheguei a ouvi-lo a mastigar palavrões durante a missa quando deixava cair uma hóstia ou quando se esquecia da ladainha do Credo. O Brandão, amigo de copos do meu pai, não gostava nada do padre, nunca atinou com ele e sempre que ia confessar-se (a mãe de 87 anos obrigava-o), demorava duas, às vezes três horas, se estivesse inspirado, inventava pecados, narrava-os ao pormenor.

Uma vez disse ao meu pai que tinha confessado ao padre que recebia mulheres casadas em casa e que estas se ajoelhavam em círculo à sua volta e faziam-lhe coisas. Coisas. Segundo o Brandão, estas confissões faziam nascer grutinhas de suor na cara chupada do padre que saia disparado do confessionário, desesperado, e começava a partir jarras de flores e a mandar velas ao chão, partia tudo o que encontrava à frente, insultava-o com palavrões que faziam corar a Maria Madalena e tremer as flechas que trespassavam o São Sebastião, por onde passava o chão tremia. O padre estava a um passo de ficar louco e era isso que o Brandão mais desejava neste mundo e no outro. As beatas quase mortas que estavam a rezar o terço ou a limpar os nichos e os santinhos acendiam-se sozinhas, davam estalos com a boca e saíam da igreja a benzerem-se, muito chocadas com o comportamento alucinado do seu padre.

No dia seguinte, tudo voltaria ao normal.

quarta-feira, novembro 09, 2016


Trump eleito o 45º presidente dos EUA. Logo vou nadar.

segunda-feira, novembro 07, 2016

A Guerra nos Territórios Desconhecidos da Cabeça



Depois de um sábado em cheio passado no Porto, tinha sempre bastante dificuldade em adormecer. Todos os meus pensamentos que andavam espalhados e distraídos pelo meu corpo durante a semana, subiam-me agora à cabeça e lutavam entre si para ter o controlo sobre a minha mente. Uma vez, ao passar pela Loja de Cima, ouvi o Brandão a dizer que não deixava que os seus pensamentos durassem mais que um cigarro. Quem me dera ser capaz disso. Parece que estou a montar guarda a mim próprio. A noite cobria o Monte, olho por entre os furinhos dos estores. O Porto é uma ilha que brilha do outro lado do rio. A minha cabeça é uma fortaleza e os pensamentos são soldados inimigos que querem conquistá-la apenas porque sim. Os meus olhos são as seteiras, o meu nariz é um baluarte, o meu cérebro é um general desorientado e nervoso que não consegue dar ordens às suas tropas. O fosso é a minha garganta que sinto cada vez mais apertada, não serve de nada contra os meus pensamentos que avançam com escadotes e arietes. Muitos morrem ao tentar trepar a muralha, mas por cada pensamento morto, há mais dois ou três prontos para ocuparem o seu lugar. Entre os pensamentos, há recordações e medos infiltrados. São oficiais que se impõem pela sua presença entre os pensamentos rasos. Na maior parte do tempo, sei que estão lá, mas andam despercebidos, quase despreocupados, baixam os olhos quando, por um motivo qualquer, os encaro. Quando jogo a bola, eles não aparecem. Quando vou para o Quintal do Mota, eles não existem. Quando vou à Loja de Cima ou passo pela Viela dos Gatos, não dão sinais de vida. Mas quando vou para a cama, parece que já consigo ouvir o grande tumulto atrás da linha do horizonte, são eles a formarem-se.

O meu primeiro pensamento consciente durou-me mais que o cigarro do Brandão. O meu primeiro pensamento era um espião, um agente infiltrado que pelos vistos morava na minha cabeça desde que nasci, não sabia que a minha cabeça podia ter elementos tão estranhos. Senti-me muito confuso, foi como se a minha cabeça tivesse despertado de um coma induzido por mim mesmo; o general estava a dormir em tempo de paz e alguém o acordou a meio da noite: a guerra nos Territórios Desconhecidos da Cabeça tinha sido declarada. A noite vai ser longa. Quando por fim derrubam o grande portão de aço que é a minha boca, pilham e destruem tudo por onde passam. São os Vândalos, os Hunos e os Vikings reunidos num único grande e temível exército de que a irmã Alzira falou quando falou da presença dos Mouros (os Infiéis!) no nosso país. Não consigo dominá-los, metem-se pelas ruas e ruelas da minha cabeça, esquadrinham cada canto, cada esquina, viram tudo do avesso. Nem todos os pensamentos são desagradáveis e cruéis. Os bons e os maus assolam-me a cabeça com a mesma força. Ou melhor, neste caso, nem todas as recordações são incómodas.

sexta-feira, novembro 04, 2016

Bono diurético

Tenho um amigo que sente uma terrível compulsão para ir urinar sempre que ouve a voz do Bono/U2. Não tem a ver com um ódio de estimação, com traumas, nada disso, acho que é mesmo a cena dele. A minha também é esquisita. Mais lá para frente, eu conto-vos. Prometo que não vão ficar desiludidos.


domingo, outubro 30, 2016

quinta-feira, outubro 27, 2016

Max Ernst, "Long Live Love", 1923

segunda-feira, outubro 24, 2016

O homem sem passado


O que semear a perversidade segará males; e a vara da sua indignação falhará."

O homem decide levantar-se e sai para a rua às quatro e meia da madrugada. Não consegue dormir. O quarto está cheio de carneiros sem cabeça que ele contou e decapitou vezes de conta. Está de tronco nu, a chuva forte bate-lhe no peito. Arrasta os pés pelo passeio e acha-se no direito de se comportar como um doente mental. Sabe que não é superior aos outros, mas também não é nenhum zé-ninguém. Gosta apenas de testar os seus limites e é por isso que pegou num guarda-chuva antes de sair de casa, mas não o abre. Na sua mente frágil e cansada, o guarda-chuva não é um guarda-chuva, é um machado. Observa as duas árvores da sua rua; antes achava que as árvores eram um símbolo de quietude e paz, agora nem tanto. Passa um carro, o condutor olha para ele através das gotas grossas do pára-brisas e traça-lhe um diagnóstico amador naquele momento. O carro afasta-se, a luz dos faróis dilui-se na chuva que cai agora com mais intensidade. O homem sem passado atravessa a rua e começa a bater com o guarda-chuva numa das árvores. Bate, bate, bate com tanta força até partir o guarda-chuva, as varetas desfazem-se todas. O homem atira o que resta do guarda-chuva para o meio da rua. Cai sobre os joelhos como um pecador arrependido e começa a chorar como uma criança. Exausto, encosta-se no tronco molhado da ameixoeira.
O homem sem passado acorda às nove e dez da manhã, sente a cama quente. A mulher já está a vestir-se para ir trabalhar. Ela dá-lhe um beijo na testa antes de sair.
"Quem é esta mulher?"
E é sempre assim, todos os dias. Está uma linda manhã de Outono. Um cão preto ladra e os outros cães da vizinhança começam a ladrar também. Como é que o homem sem passado sabe que o cão que está a ladrar naquele momento é preto? É a única coisa que sabe naquele momento, que aquele cão é preto. "The black dog". Sente um leve aperto na garganta e diz a si mesmo que tudo vai correr bem.

quinta-feira, outubro 20, 2016

Nem é bom

"Nem é bom".
O meu porteiro diz-me sempre isto quando o Sporting perde ou quando alguém é assassinado, lamenta sempre com o mesmo tom de pesar. Ontem, mostrou-me uma notícia do C.M. de um indiano de Lisboa que tem uma loja e que para atrair ou manter clientes, gostava de engolir facas - um pretenso faquir, portanto. Mas, por engano, engoliu um garfo de plástico (daqueles usados em piqueniques) e teve de ser chamado o INEM. Estado clínico reservado.
"Nem é bom", lamentou o meu porteiro, abanando a cabeça. Pedi-lhe a folha da notícia e ela deu-ma sem hesitar. É um bom homem.

segunda-feira, outubro 17, 2016

Fogo

Escrevi a palavra "fogo" para a monódia na qual estou a trabalhar há cerca de oito meses. Ia no metro. O jovem que estava sentado à minha frente a ler (creio que era o "Siddhartha" do H. Hesse)
começou a arder numa espécie de combustão espontânea. Tentei riscar a palavra, em puro desespero, mas já era tarde de mais. Uma coisa horrorosa. Ninguém reparou no facto, apenas eu (ou então fizeram de conta). Mas, para meu grande espanto, o livro ficou inteiro, no chão. Não ardeu. Mais um sinal.

terça-feira, outubro 11, 2016

segunda-feira, outubro 10, 2016

O Caminho

Caminhámos de madrugada
por entre videiras e figueiras
Fizemos os caminhos das pedras
Peidámo-nos à sombra de tílias e castanheiros
Deixámo-nos seduzir por uma holandesa de
's-Hertogenbosch,
uma catequista ninfo da Azurara
e uma descompensada de Trancoso
Entrámos em capelas belíssimas
À noite, escutámos a consciência do
verdadeiro e violento ressonar
dos albergues
Ouvimos os ensinamentos
de um catedrático chato como a potassa
Cagámos generosamente junto a riachos de
águas cristalinas
Escutámos gaios, corvos e pegas rabudas
Vimos as mesmas nuvens descritas por Goethe
Passámos por aviários que fediam a milhas
Comemos tapas e bocadillos bons, maus e assim assim
Bebemos bidões de Estrella Galicia
Insultámos e louvámos Santiago,
a Virgem do Caminho e outros santos
Passámos ainda por um casarão
habitado por um casal de cavalos
que tinha um ar um pouco desolado
"Buenas, bo camiño"
Chegámos por fim à cidade sem pés nem joelhos
Não entrámos no nosso destino final:
Um casamento jet set patrocinado pela !Hola!
impediu a nossa entrada triunfal na Catedral
Apanhámos o autocarro para casa
a cheirar a bosta, com as mãos a abanar e
o coração cheio.

segunda-feira, outubro 03, 2016

Sono

Segundo as minhas últimas análises médicas, a minha cabeça é feita essencialmente de passiflora, valeriana e neurosesitas. O meu médico de família recomendou-me contemplar as estrelas antes de ir para a cama. Gostaria de o fazer num alpendre para dar um ar mais western, mas não tenho, tenho de me contentar com a varanda. Concentrei-me em Vega, a minha estrela favorita, que fica a pouco mais de 25,05 anos-luz (marcha rápida, vigorosa, com sticks de caminhada). Vega é uma palavra de origem árabe e que significa "águia a mergulhar" ou algo parecido. Arrasto-me até ao quarto. Sei onde fica o meu quarto porque tenho vieiras e setinhas de Santiago espalhadas no chão e na parede entre o quarto e sala. Não há que enganar. Um muro alto e grosso de pladur ergue-se entre mim e o Sono e saltamos os dois ao mesmo tempo para tentar ver a cabecita do outro, no meio da penumbra do quarto. Penso na risada recauchetada da Teresa Guilherme e tremo de pavor. Meu Deus, porquê? Vega já lá vai. Deveria ter previsto isto. Tento afundar-me no colchão, afundo-me, afundo-me com tanta força ao ponto de ficar exausto e bater no fundo; quando dou por mim estou finalmente a dormir. E é isto todos os dias. Diacho, diacho.

sexta-feira, setembro 30, 2016

12 aforismos

1. A minha mulher mandou colocar um extintor no nosso quarto. Medida de prevenção para apagar pesadelos.

2. O Zolpidem faz-me ver borboletas no nariz quando começo a ler livros de auto-ajuda: posso dizer que já sei mudar as velas do meu carro.

3. Tentei tomar Angelicalm antes, mas o meu quarto foi invadido por desconhecidos com bigodes farfalhudos. Confesso que não gostei. A sério.

4. Deus, meu parceiro da sueca, não gosta de me ver nervoso. Fica amuado porque não estou atento aos sinais e sai a meio do jogo. Tento tudo por tudo para que ele regresse à mesa. Às vezes, resulta, às vezes, nem por isso.

5. Adoro comer maracujás de manhã enquanto escuto o periquito do vizinho. Uma luzinha de felicidade.

6. Já entrei várias vezes em cabinas telefónicas para fazer chamadas de telemóvel. "Old habits..."

7. Convém lembrar que temos sempre direitos de autor sobre o nosso próprio sofrimento. Para obter mais informações, consulte as FAQs da SPA.

8. Tento fazer meditação zen (zazen) todas as manhãs ao acordar, esvaziar a mente, mas só consigo pensar na Consciência de Zeno do...do...ai como é que ele se chama?

9. Et voilá! A gravidade deixou de existir neste planeta. Toda a gente a levitar, a pairar. Toda a gente na Lua.

10. Reparei que o padre da minha paróquia rói sempre as unhas enquanto escuta passagens do Antigo Testamento.

11. Na minha igreja, ainda não aceitam cartões de crédito durante o ofertório.

12. Deixem-me uma moeda e eu irei contar-lhes mais coisas bonitas deste género.

segunda-feira, setembro 19, 2016

segunda-feira, setembro 12, 2016

Deprimido?



Segundo um artigo do Huffington Post
do passado mês de Agosto,
quando estamos deprimidos
ou com ansiedade, medo, sofrimento, etc.
(riscar o que não interessa),
a melhor coisa a fazer
é preparar bacon & ovos e 
prová-los como se fosse
a primeira vez e ignorar
o grasnar das gaivotas intrusivas
em cima dos telhados.

Milhares de consultórios psi
estão a fechar as portas por todo o mundo,
as 3 grandes farmacêuticas já abriram falência,
a economia do Liechtenstein colapsou
da noite para o dia.



terça-feira, julho 26, 2016

SAL


Para o meu pai*

Perdi uma aposta com o Jorge Tainha. Como não consegui morder os meus próprios cotovelos, fiquei frustrado e resolvi morder os cotovelos da Sílvia, ela mora mesmo à nossa frente com os pais e com o irmão. Bom, para dizer a verdade, não os mordi, trinquei um dos cotovelos ao de leve e depois lambi-o, reparei que os cotovelos dela estavam muito secos, e não é que consegui, ela estava de costas para mim. Pensava que lhe estava a fazer um favor, mas não, ela ficou danada, quase que me arrancava o nariz com as suas garras afiadas, quase fazia carne picada com a minha cara, tive de trepar o Muro num fôlego.

O Muro rodeia o Quintal do Mota que é uma espécie de condado portucalense, com o Monte de um lado e os armazéns do vinho do Porto do outro; não há mar aqui, apenas o Douro que fica lá em baixo. É a melhor vista do mundo. Uma vez, a Sílvia rachou a cabeça ao Jorge Tainha e foi bem feito, o Tainha às vezes tem a mania que é tubarão (mas não passa de uma tainha) e oferece porrada a toda a gente. Ela nem sequer o avisou, largou chispas dos olhos, olhou para o chão, pegou no primeiro calhau que viu e fshhhh e poc!, acertou-lhe mesmo no meio daquela testa cinzenta, o Tainha ficou a contorcer-se no chão e depois desmaiou. A Guidinha, mãe da Sílvia, teve de despejar um balde de tintura de iodo sobre a cabeça do Jorge Tainha que se pôs logo de pé, subiu as escadas velhas do Monte como um salmão, por entre o ranço, o cascalho e as iúcas, meteu-se em casa e ninguém lhe pôs a vista em cima durante quase um mês. E claro, aqui no Monte, quando os filhos se pegam, as mães também se pegam, e as duas mães, a Guidinha e a Maria Tainha, depois da tradicional troca de insultos, agarraram-se pelos cabelos, quase que se comiam uma à outra, trincadelas, chapadas, mas a briga não durou muito, foi coisa de dez minutos, saíram exaustas da pequena arena feita de propósito para estas desavenças, um terreiro poeirento em frente à casa da Martinha, rodeado por cardos e silvas para as mulheres não saírem à primeira chapada, a canalha e as outras mulheres a gritarem cá fora, os ânimos ficam sempre bastante exaltados. Acho que houve um empate técnico, ambas abandonam a arena com lanhos e pisaduras nas pernas, nos braços, na cara, de olhos vermelhos, quase a chorarem, ainda com tufos de cabelo da adversária nas mãos. Desinfectaram as suas feridas com uma esponja embebida em vinagre, comeram um prato de "galinha" que alguém lhes trouxe para recuperarem as forças ("galinha" não é carne de galinha, é um prato de quartos de cebola a nadarem num prato de vinho tinto, é o petisco mais apreciado por estas bandas) e mataram a sede com uma garrafa de vinho do bom, mereceram-no. As mulheres aqui também bebem e não é coisa pouca. Depois cada uma foi para sua casa, o espectáculo desse dia terminou. Não passa uma semana sem que haja um combate de mulheres na pequena arena do Monte.

Bom, ainda estou em cima do muro, e ainda por cima estou sozinho, não tenho nenhum ovo falante ao meu lado para me fazer companhia. Estou a olhar para baixo, a Sílvia ainda está lá em baixo com cara de poucos amigos. Apesar de me ter transformado num gato preto – sim, também consigo fazer isto quando tenho medo -, ela sabe que sou eu.

De um momento para o outro, levantou-se um nevoeiro cerrado, Porto e Gaia começam a desaparecer aos poucos. Uma espessa cortina cinzenta desce lentamente sobre as duas cidades, mas ainda consigo ver uma nesga do rio. Tento rasgar uma nuvem desmaiada com as patas para ver melhor para dentro do Muro, para o Quintal do Mota. Uma macieira que dá maçãs-de-adão e que os rapazes do Monte adoram comer para se tornarem homens mais depressa, uma nespereira que não dá frutos há já alguns anos, porque fartou-se de ser roubada pelos rapazes (qualquer dia o velho Mota, o dono do Quintal, prega-lhe umas machadadas), uma velha laranjeira rancorosa por os rapazes preferirem os frutos da macieira e da nespereira e que por isso só dá limões.

Encostado a um velho barracão, está o guarda-fiscal Oliveira, um dos caseiros do Quintal, em mangas de camisa. Está sentado numa albarda que, por sua vez, está sobre um banquinho de madeira. Está a ler, parece muito compenetrado, nem parece ele, o cotovelo apoiado no joelho e o punho a segurar o rosto magro, está a ler um calhamaço em voz baixa. Tal como um gato que acaba de ver outro gato rival, rastejo muito devagar pela crista do muro, olho de lado para o guarda-fiscal, depois rodo muito lentamente a cabeça para o encarar e aninho-me. Se quisesse, podia atacá-lo de surpresa. Àquela distancia e com o nevoeiro não conseguia ler o título do livro, tive de rasgar de vez a nuvem que desmaiou mesmo em cima de mim e arrancar uma lente de uma luneta que protegia o topo do muro para poder enxergar melhor. A capa dizia "A Vida Heroica do XIII Conde de Penafiel" ou algo assim. O guarda-fiscal Oliveira é de Penafiel. Ora sorria, ora punha-se muito sério, tirava o seu quepe de guarda-fiscal, coçava a linha vermelha do quepe na testa, tornava a atarraxar o quepe na cabeça pequena, pôs um rótulo a marcar a página e fecha o livro com muita convicção. Levanta-se, saca de um maço de tabaco do bolso de trás das calças, a ponta do cigarro acende-se sozinha e deixa ficar o cigarro a dançar na boca. Afasta um pequeno muro de hortênsias murchas com as mãos, caem pétalas aos seus pés. Fica a olhar muito pensativo para a Ponte D. Luís, ou melhor, para a mancha arqueada que penso ser a ponte, o nevoeiro está cada vez mais cerrado. Põe-se em bicos de pés e espreita para o socalco da parte de baixo do Quintal. Torna a olhar para a ponte e novamente para o socalco. A horta do seu vizinho e eterno arqui-inimigo, o guarda-fiscal Monteiro, ocupa todo aquele socalco e dá as melhores alfaces e os melhores feijões do Monte. Os estores da casa do Monteiro estão corridos, algumas das "réguas" estão partidas, mas isso não quer dizer que ele e a mulher não estejam em casa; os estores estão escangalhados há muito tempo, o Monteiro pode muito bem estar a espreitar cá para fora por entre os buraquinhos das "réguas". Os dois guardas-fiscais já foram grandes amigos, são os dois da mesma terra e tudo, mas agora não se podem ver um ao outro, não sei bem porquê.

Já tenho os olhos rasos em lágrimas e começo a bater os dentes, está cada vez mais frio. O Oliveira vai para dentro e regressa pouco depois com aquilo que parece ser um saco de arroz. Desce metade da escadaria de cimento junto à casa e começa a atirar grãos de arroz para a horta do outro como se estivesse num casamento, só que os noivos aqui eram as alfaces e quando acaba o arroz, atira o saco vazio lá para o meio, ajeita o quepe, sobe os degraus de cimento, o caramanchão da videira escurece-o, entra e bate a porta com força. Os dois dividem a mesma casa cor-de-rosa, só que um mora no piso de cima e o outro no de baixo. Tenho os braços gelados, já estou com pele de galinha, sabia-me pela vida agora um copito para aquecer. Estou quase a saltar do Muro para regressar também a casa. A Sílvia já se foi embora. Eis que surge na parte de baixo do Quintal uma misteriosa luz vermelha. A luz tenta furar o nevoeiro, bamboleia-se, aproxima-se da horta. Dou por mim a dar à cauda, furtivo, já consigo ver melhor. Era o guarda-fiscal Monteiro, com o seu andar desajeitado, também em mangas de camisa. Não sei como é que ele não tem frio. Vem a segurar uma lanterna como se fosse um ferroviário das Devesas a fazer sinais para um comboio que se aproxima lentamente da estação. Usa também um quepe, vem com cara de poucos amigos (ou nenhuns), pousa a lanterna no chão e agacha-se junto dos regos da horta. Leva à boca um grão de arroz e faz uma cara ainda mais feia, começa a gritar a plenos pulmões, por entre a bruma:

- Sal, cabrão, sal?! Puseste-me sal nas alfaces!? Ó meu desgraçado, eu fodisco-te, vais ver, não perdes pela demora. Sal! Sal! Sai se és homem, sai do buraco, cobarde! – gritava o Monteiro enquanto ameaçava a janela do Oliveira de punho cerrado e dava socos na própria cabeça, a cara do Monteiro ficou roxa de raiva como uma beringela, ou como, como...uma couve-roxa. 

Do outro nem uma nem duas. Era normal haver estas discussões-monólogos entre os dois. O pequeno caso do sal nas alfaces morreu ali, o Monteiro foi para dentro, com certeza foi planear a sua vingança. Estiquei as patas, já me doíam por estar tanto tempo aninhado. Desci pela parte mais baixa do muro forrado de musgo, fiquei com a cara molhada por causa da morrinha que começou a cair, pareciam confetes de água. Entrei em casa com o pingo no nariz. 

Ora bem, "sal" era também aquilo que o meu pai pedia aos berros à minha mãe na hora do jantar, eram autênticas chicotadas no ar, a comida estava outra vez insossa, mas era para o bem dele, só que o homem não entendia isso. O palato do meu pai estava avariado por uma vida de vinhaça e de comida salgada. A minha mãe chegou-lhe o saleiro, virou-lhe costas e disse "envenena-te para aí, quero lá saber" (não é bem assim, no fundo, ela preocupa-se com ele), mas o meu pai encolheu os ombros e fez uma pequena pirâmide de sal que cobriu o arroz com ervilhas e a costeleta. Continuou a comer agora já muito mais consolado. O meu pai não tem medo do que lhe possa vir acontecer, despreza os malefícios do sal. Às vezes, chego a pensar que o corpo do meu pai é como o rio Douro, manda toda a porcaria para as margens, liberta-se de tudo aquilo que não é seu, vomita todos os objectos estranhos para a praia da Cruz ou para o Cabedelo. O fundo do rio não consegue engolir todo o lixo que as pessoas atiram para a água; com o corpo do meu pai é igual; é uma espécie de rio que – até ao dia de hoje - arranja sempre maneira de se ver livre do sal. Passou o dia seguinte com a língua de fora, como se fosse um canito num dia tórrido, o sal chupa-nos a água toda do corpo. Ainda assim, mandou abaixo meio garrafão de tinto e nem uma pinga de água levou à boca para matar a sede.

E quanto aos dois guardas-fiscais? Ah querem mesmo saber? Não, não se mataram à dentada ou arrancaram o coração um ao outro. Na semana a seguir ao incidente do "sal nas alfaces", fui buscar um garrafão de vinho à Loja a mando do meu pai e lá estavam os dois agentes da autoridade agarrados um ao outro, perdidos de bêbados, todos babados, a discutirem quem é que iria pagar a vigésima primeira rodada. O vinho tem destas coisas. Ora, se isto não é um final feliz, vou ali e já venho.

*Obrigado pelos bons momentos e por todas as vezes que me fizeste rir, pai. Senti por fim o teu amor nos teus últimos anos.

quinta-feira, julho 14, 2016

Marcelo outra vez

Marcelo é um velho sedutor.
Ao beijar lentamente as atletas medalhadas (em particular, a Patrícia Mamona), vejo claramente que tenho muito a aprender. Se o presidente fosse um personagem de um jogo RPG (os gamers/nerds sabem do que estou a falar), teria estas características:

Força: 13
Destreza: 17
Persuasão: 17
Magia (ler "Fé"): 18
e, claro,
Carisma: 19

segunda-feira, julho 11, 2016

Acredito piamente que Cristiano é o D. Sebastião. A borboleta a pousar no seu esgar de dor, tudo. O adivinhar que seria Eder, o patinho feio, a dar-nos a vitória.
O tão esperado V Império começou ontem.
Não resisto à euforia colectiva, sou um patriota desde os meus 4 meses de tropa.
Viva Portugal.

sexta-feira, julho 08, 2016

'Cause the future is in the future
And the past is a big brick wall
You know I need to make you understand, now
I'm a man not a disco ball


Dick Valentine, E6


Às vezes, o humor e a aceitação são uma combinação poderosíssima.

domingo, junho 26, 2016

Kiss "Strutter"



Li algures que o Paul Stanley (o vox dos Kiss) estava a atravessar uma depressão quando escreveu a letra para este tema. "Strutter" não é sobre nenhuma mulher em particular (aliás, os Kiss, nesta matéria, faziam corar de vergonha os Led Zep, etc.); é sim a mais improvável metáfora sobre a sua própria depressão e foi uma forma que o homem encontrou para exorcizar a maleita psi da moina.*
E sim, é um (not-so) guilty pleasure, adoro os Kiss.

She wears her satins like a lady
She gets her way just like a child
You take her home and she says "Maybe, baby"
She takes you down and drives you wild


 *não, não senhor; este blogue não se irá transformar numa blogue de crítica musical.


sexta-feira, junho 24, 2016

Pequeno e inofensivo apontamento de pura crónica política

Não quero tirar o lugar ao Pacheco Pereira, mas acho que o Reino Unido já abandonou há muito tempo o barco chamado "U.E.". Por outro lado, uma nação que "anda" à base de fish & chips merece ser ostracizada.
Os gajos das ilhas são tramados, vêem-se rodeados de mar por todos os lados e querem logo ser independentes de tudo e de todos. Não se esqueçam do nosso saudoso Alberto João.

sábado, junho 18, 2016

Luther Allison, "The Little Red Rooster"




"Little Red Rooster", um blues-hino à perda da virilidade.
Ou então, talvez não seja mais do que a história de um galo muito preguiçoso.

domingo, junho 12, 2016

ATM

Ilustração de Rui Ricardo
























O MOÇO deixa-se cair pesadamente no único lugar livre e dá um longo suspiro para que os outros dois sentissem um pouquinho a sua dor. Aquele corredor era um desfile de voluntárias, auxiliares, administrativas, enfermeiros e enfermeiras, médicos e médicas. Um dos homens que estava sentado à espera de consulta de urgência acena-lhe com a cabeça como se o conhecesse e continua a conversa.

Tinha dito à minha catraia que queria ir ver os primeiros raios do sol do ano, sabe como são as mulheres, queria impressioná-la, ano novo, vida nova, não queria meter a pata na poça como fiz com as outras…ela ficou toda contente, vestiu-se à pressa, já estava com as cuequinhas novas do ano novo, as gajas são muito supersticiosas, que sonho, meu Deus, você não está bem a ver a minha catraia, um docinho. Vai daí, saímos pela garagem privada. Estes gajos dos motéis pensam em tudo. Metemo-nos no jipe e fomos até à serra de Santa Justa. Já lá foi? Tem umas vistas do Porto ao longe…É muito bonito, muito verde, aqueles ares, aquela natureza…bom, meti-me pelo corta-fogo, ala por ali acima, 145 cavalinhos a puxarem forte e feio, conheço o monte como a palma da minha mão. Mas não é que quando chego a meio, o caralh…o caraças do motor começa aos soluços e a deitar fumo por tudo quanto é lado? Saí, tava um frio de rachar, abri o capô. Que fumarada, meu Deus, e vou a ver, era a junta da colaça que tava toda queimada. Falta de água. Como é que é possível. E eu, ah put… pulha que pariu que não tenho sorte nenhuma. E a catraia dentro do carro a olhar para mim, como que a pensar, como é que fui-me meter com este tonhó. Você está a ver a minha vida? Pior ainda, qual era o reboque que me vinha buscar o jipe na madrugada do Ano Novo, ali no meio do monte?…

Texto na íntegra aqui.
 

quinta-feira, junho 09, 2016

Nosefulness

a fazer meditação
a contemplar a vela acesa
à minha frente,
conto a respiração,
fecho suavemente os olhos.
atenção plena no topo da cabeça
atenção plena na nuca
atenção plena nas têmporas
atenção plena nos olhos
atenção plena no nariz
demasiada atenção plena
no nariz
comichão no nariz
aceito e extraio catotas secas
e atiro-as
para a vela
que arde agora
com mais força.
Não importa.
Tudo o que importa
está no Agora.*


*Um poema bastante imbecil. O Budismo é a única religião-filosofia-prática que respeito. Que eu saiba, nunca ninguém matou ou foi morto em seu nome.

terça-feira, junho 07, 2016

Maus e estranhos pensamentos

Ultimamente, tenho tido maus e estranhos pensamentos que não sei de onde vêm. E o pior de tudo é que não consigo vertê-los para o papel. Macacos, chimpanzés e babuínos sob efeito de speed a lutarem entre si dentro da minha mente (não, já não fumo nada há alguns anitos). Sinto-me como um adolescente que não consegue escrever o seu diário.

Este foi o post mais honesto (e talvez o mais desinteressante) que alguma vez escrevi.

Daqui a uma semana vou rir-me disto tudo e escrever as besteiras e imposturices do costume.

quinta-feira, maio 26, 2016


sábado, maio 14, 2016

Adão & Eva

2º Frente do nº 24 do Condomínio Edén. É hora de jantar, o casal conversa.

- E então, amor, gostaste do jantar?
- Sim, o bife estava mal passado tal como eu gosto, amor.
- E o vinhinho que te comprei? Estava em promoção, mas é bom não é?
- Sim, tem uma cor muito viva. Aromas florais combinados com frutos vermelhos e silvestres. Um final de boca prolongado e complexo.
- Por falar em fruta, vais querer sobremesa? Só temos maçãs.
- Já acabou o bolo de bolacha?
- Já...
- Que desconsolo. Não quero nada, vou tirar o café.
- Mas temos de comer as maçãs senão apodrecem, amor.
- Tens razão, mas não gosto dessas maçãs, são muito farinhentas.
- Ai são? Para a próxima, compras tu as maçãs.
- Pronto. Chega-me aí uma maçã, então.
- Não tens perninhas? Levanta-te e vai tu buscá-la.
- Oh meu Deus. Está bem, eu vou buscar o raio da maçã. Obrigado.
- De nada.