segunda-feira, outubro 03, 2016

Sono

Segundo as minhas últimas análises médicas, a minha cabeça é feita essencialmente de passiflora, valeriana e neurosesitas. O meu médico de família recomendou-me contemplar as estrelas antes de ir para a cama. Gostaria de o fazer num alpendre para dar um ar mais western, mas não tenho, tenho de me contentar com a varanda. Concentrei-me em Vega, a minha estrela favorita, que fica a pouco mais de 25,05 anos-luz (marcha rápida, vigorosa, com sticks de caminhada). Vega é uma palavra de origem árabe e que significa "águia a mergulhar" ou algo parecido. Arrasto-me até ao quarto. Sei onde fica o meu quarto porque tenho vieiras e setinhas de Santiago espalhadas no chão e na parede entre o quarto e sala. Não há que enganar. Um muro alto e grosso de pladur ergue-se entre mim e o Sono e saltamos os dois ao mesmo tempo para tentar ver a cabecita do outro, no meio da penumbra do quarto. Penso na risada recauchetada da Teresa Guilherme e tremo de pavor. Meu Deus, porquê? Vega já lá vai. Deveria ter previsto isto. Tento afundar-me no colchão, afundo-me, afundo-me com tanta força ao ponto de ficar exausto e bater no fundo; quando dou por mim estou finalmente a dormir. E é isto todos os dias. Diacho, diacho.