Numa destas noites pré lua cheia, sonhei que tinha entrado numa das histórias de Corto Maltese.
Tudo parecia irreal dentro do próprio real onírico.
Ela estava à minha espera com um daqueles vestidos torneados, tacões altos, cabelo apanhado à concubina chinesa.
Fumamos narguilé mas não havia ópio na sala. Vinho tinto, sim. Alguns gatos a acariciar as pernas debaixo da mesa. Também havia absinto - a fada verde - que foi ingerido pelos dois de uma forma muito pouco usual e que vou deixar à vossa imaginação. Usem-na.
Não havia nenhum mistério a resolver como nas histórias de Hugo Pratt. Esperem, vou corrigir esta última frase: o mistério foi lenta e intensamente consumado na divisão onde havia ainda luzinhas de natal a decorarem a janela.
Quando acordei do sonho, a lua que testemunhou a cena já estava cheia e sorria trocista para mim. A doce melancolia trazida pelo luar envolveu-me e voltei a adormecer para sonhar que estava a sonhar.