quinta-feira, setembro 01, 2005

O Diabo Voyeur


Rob Elliot

O DIABO VOYEUR

Com as unhas presas na porta
se debate a alma de um sujeito.
Seus dedos inchados e o olho lúbrico e impotente
Guincham à sombra de um maldito divã.
Era um voyeur do inconsciente o pobre diabo.
Escutava com o olhar os prazeres secretos da carne.
Olhava descortês o tremor da voz nos amantes.
Apaixonava-se com a crosta do rancor
e a ameaça de matar a quem alguma vez quis.
Estava ali concupiscente o demônio entre as pernas,
metendo o nariz e o rabo onde não era chamado.
Na inconsciência, digo, porque o gênio se perde em desfigurações.
Há um diabo cativo na palavra.
Veste-se de anjo da guarda e responde pelo nome de Esperança
ou Caridade, não sei, parece Jocasta com a voz de Édipo,
ou então Tirésias espiando com seus olhos cegos.

José Ángel Leyva, trad. Floriano Martins