terça-feira, setembro 20, 2005

Ai que estou perdido


Aldemir Martins

IX

Ai que estou perdido
num fundo de mato espantado mal-acabado

Me atolei num útero de lama
O ar perdeu o fôlego

Um cheiro choco se esparrama
Mexilhões estão de festa no atoleiro

Atrás de troncos encalhados
ouço guinchos de um guaxinim

Parece que vem alguém nesse escurão sem saída

- Olelé. Quem vem lá?
- Eu sou o Tatu-de-bunda-seca

-Ah compadre Tatu
que bom você vir aqui
Quero que você me ensine a sair desta goela podre

- Então se segura no meu rabo
que eu lhe puxo

(...)

"Cobra Norato", Raul Bopp