sexta-feira, setembro 02, 2005
Dom da palavra
Mark Rothko
Quando se trabalha todos os dias com a palavra, dá-se um fenómeno curioso que passa algo despercebido à maioria daqueles que pensam que domesticaram este bicharoco. Invertem-se aqui os papéis: o agressor torna-se vítima e a vítima veste a pele do agressor. Se, por um lado, não será cientificamente correcto afirmar que se trata de uma doença, podem se manifestar, porém, certos sintomas cujo diagnóstico é reservado. Somos completamente formatados pela palavra e nem sequer nos damos conta. Senão vejamos: hoje, por exemplo, sinto-me algo itálico, inclinado a citar algo brillant, mas há dias em que um certo negrito se abate sobre mim, fico inchado e ninguém pode se aproximar do meu perímetro. Mas, é claro que as coisas nem sempre são assim tão textuais (!...) : por vezes, o meu estado de espírito é capaz de percorrer todas as cores de uma paleta e saltitar de parágrafo em parágrafo, misturando tudo e todos.
E é isto: .