Sinto que a Imaginação é uma porta, um canal, um meio para atingir a felicidade, para a manifestação desejada profundamente pelo coração. Quando temos níveis elevados de Imaginação (Criatividade, se quiserem) que não são devidamente canalizados, tal pode dar origem a uma certa aridez de existência, ou até mesmo a dissociações. Infelizmente, sei do que falo.
Por outras palavras: alguns de nós nasceram com um dom, com uma apetência inata para fazer algo, para criar algo. Nada de novo aqui.
Mas se não "coisificarmos" esse dom, as consequências podem ser, digamos, nefastas para o sujeito. Estou a ser meigo com as palavras. Eu acredito piamente nisto. Uma boa parte de nós humanos foi concebida para gerar algo.
Há sempre duas artistas - mulheres, neste caso - que me vêm sempre à cabeça (coração?) quando falo de Imaginação ou Criatividade.
Gloria O'Keeffe e Leonora Carrington.
Bastante diferentes no estilo, ambas são Criadoras puras, mágicas, divinas, que converteram o Nada em Arte. Identifico-me bastante com estas mulheres-feiticeiras e com tudo aquilo que geraram com as suas mãos, com o seu coração, com a vida que lhes foi proporcionada.
Segue um excerto traduzido de que como Leonora acredita ter sido concebida:
"Num dia melancólico, a minha mãe, inchada por trufas de chocolate, puré de ostras e faisão frio, sentindo-se gorda, apática e indesejável, deitou-se em cima de uma máquina. A máquina era uma engenhoca maravilhosa, projectada para extrair centenas de litros de sémen de animais — porcos, galos, garanhões, ouriços, morcegos, patos — e, pode-se imaginar, levou a sua utilizadora ao orgasmo mais espectacular, virando de cabeça para baixo todo o seu ser triste e doente. Dessa comunhão entre humanos, animais e máquinas, eu fui concebida. Quando nasci, em 6 de abril de 1917, a Inglaterra tremeu."
É isto.
Quando forem de manhã para o trabalho, para aquela reunião de trabalho chata, ou aturar um chefe ou um cliente execrável (que é um desafio constante à nossa compaixão e humanidade), pensem nisto.
É triste nem sequer tentar*.
*Este meu recado vai directamente para o meu Self também, como é óbvio.
