quinta-feira, setembro 25, 2025

Processo inverso

Os pensamentos que correm selvagens, os pensamentos que invadem a mente. 

Proponho-vos isto: o que é que eles - os pensamentos selvagens - pensam de mim (ou de nós se quiserem fazer esse exercício comigo)? Como é que eles, os pensamentos, me vêem? 

Então é isso: vamos proceder ao contrário. Não vamos olhar para os pensamentos; vamos pôr antes os pensamentos a olharem para o Eu, fazendo perguntas. Com alguma lassidão. Com um prazer, digamos, tíbio, morno. 

Poderá soar um pouco estranho isto, caros leitores, mas fiquem aí, vai valer a pena: 

- Quem é este sujeito ao qual gostamos de lançar o nosso charme, as nossas loucas amarras?  

- Quem é este homem tão atraente, tão másculo, às vezes tão cheio de si como um pavão, mas às vezes tão doce e frágil como uma pombinha da Catrina? Sim, leram bem, como uma pombinha da Catrina.

- Onde é que ele começa e nós acabamos? 

- Como é que às vezes é tão fácil enlaçá-lo com as nossas teorias e impulsos rocambolescos e às vezes ele não quer saber de nós? 

- Porque é que conseguimos enredá-lo no nosso novelo aleatório e denso, cheio de pontas soltas, mas há alturas em que nos parece muito autónomo, muito ancorado? 

- Conseguimos pô-lo pálido e titubeante, é certo, mas, às páginas tantas (adoramos usar esta expressão), esta sua cabeça mais parece uma armadura medieval?

- Ele deseja mais do que tudo controlar-nos e sabe que não tem grandes hipóteses (pobre tonto!), cai quase sempre na nossa ratoeira e continua a fazê-lo como se quisesse parar o vento com as mãos. É caso para perguntar: o que vai naquela sua cabeça? 

Bom. Vamos fazer o que os gurus de mindfulness recomendam: quando ele aparece, vamos pô-lo numa nuvem e vê-lo  voar, a afastar-se pelo céu azul. Será que ele vai voltar para nós como nós voltamos para ele vezes sem conta?