segunda-feira, setembro 08, 2025

A cama-sonâmbula

Lembro-me de estar deitado na minha cama - creio que a minha irmã ainda não era nascida - e sentir os móveis a falarem. Sussurravam algo entre eles que não conseguia compreender. 

Depois da minha pequena oração desajeitada, sentia que os móveis e demais objectos do quarto conferenciavam entre si. Não saíam do sítio, não se moviam, excepto a cama. 

Esta recordação - ou sonho não sei bem - é o da minha cama estender-se, aumentar duas ou três vezes de tamanho (como se fosse um daqueles gavetões de arquivo intermináveis) ao ponto do fundo do quarto me parecer longe, muito longe. Uma espécie de cama sonâmbula que se mexia e se esticava durante a noite. Ficava com a sensação estranha de estar entre duas dimensões, entre dois planos de realidade (ainda que não fizesse ideia do que era uma "dimensão").

É um "para-sonho" muito estranho, eu sei. A minha mãe dizia-me que tive alguns episódios de sonambulismo e que, durante um período, agitava freneticamente a cabeça de um lado para o outro no travesseiro e só depois adormecia. Auto-regulação, dirão os especialistas. 

Mais parecia que estava a escutar o mais intenso ritmo africano de sempre, mas sem ter de usar aqueles auscultadores enormes e magníficos dos anos 70. 

E resultava bem, porque depois adormecia profundamente.