1. Frigyes Karinth estava sentado numa esplanada de Budapeste a tomar o seu café habitual. De um momento para o outro, começou a escutar o som de locomotivas a passar. O ruído característico escalou de um nível moderado para quase insuportável. Já não era uma, mas várias locomotivas que atormentavam Frigyes. Ora Budapeste já não tinha eléctricos há já alguns anos e a estação ferroviária ainda ficava bastante longe. Frigyes começava a sofrer de halucinações auditivas. Sacks, o famoso neurologista melómano, fez o prefácio desta obra incrível.
O livro chama-se "Uma viagem à volta do meu crânio" (minha tradução, dado que ainda não existe edição em PT) e é um relato na primeira pessoa da degenerescência neurológica do próprio Frigyes.
2. Há uma outra viagem que que poderá ter um efeito terapêutico (ou até profilático) durante as próximas semanas.
Aqui vai um cheirinho de "Viagem à volta do meu quarto":
«Quando viajo no meu quarto, raramente percorro uma linha recta: vou da mesa até um quadro que está colocado a um canto; daí parto em diagonal até à porta; mas ainda que, ao partir, a minha intenção seja a de me dirigir para lá, se encontro a poltrona no caminho não estou com cerimónias e instalo-me de imediato nela.»
Este excerto evidencia o "cinturão negro literário" que era Xavier De Maistre. A descrição de um percurso banal, mais do que mecânico, torna-se no relato de uma jornada que descasca cada centímetro de um espaço limitado. O tom é temperado pela influência óbvia de Laurence Sterne, claro está.
O autor, Xavier de Maistre, foi detido por duelo (viveu no século XVIII) e condenado a 42 dias de prisão domiciliária. O que resulta dessa prisão é este pequeno grande livro.
Talvez faça algum sentido (re)ler estas duas obras durante os tempos que correm para engraçar e atenuar potenciais neuroses e ansiedades.
O livro chama-se "Uma viagem à volta do meu crânio" (minha tradução, dado que ainda não existe edição em PT) e é um relato na primeira pessoa da degenerescência neurológica do próprio Frigyes.
2. Há uma outra viagem que que poderá ter um efeito terapêutico (ou até profilático) durante as próximas semanas.
Aqui vai um cheirinho de "Viagem à volta do meu quarto":
«Quando viajo no meu quarto, raramente percorro uma linha recta: vou da mesa até um quadro que está colocado a um canto; daí parto em diagonal até à porta; mas ainda que, ao partir, a minha intenção seja a de me dirigir para lá, se encontro a poltrona no caminho não estou com cerimónias e instalo-me de imediato nela.»
Este excerto evidencia o "cinturão negro literário" que era Xavier De Maistre. A descrição de um percurso banal, mais do que mecânico, torna-se no relato de uma jornada que descasca cada centímetro de um espaço limitado. O tom é temperado pela influência óbvia de Laurence Sterne, claro está.
O autor, Xavier de Maistre, foi detido por duelo (viveu no século XVIII) e condenado a 42 dias de prisão domiciliária. O que resulta dessa prisão é este pequeno grande livro.
Talvez faça algum sentido (re)ler estas duas obras durante os tempos que correm para engraçar e atenuar potenciais neuroses e ansiedades.