Hora de esticar as pernas no terraço. Dou trinta voltas e conto cinquenta e duas lajes. Faço uma série de burpees e outra de agachamentos. Ao som da Dua Lipa, a diva pop do momento. Na verdade, não me posso queixar.
"Sou um sortudo, apesar de tudo", penso.
Nem todos têm o privilégio de ter um espaço exterior como este. Do outro lado das divisórias de vidro, estende-se um espaço verde que pode ser frequentado pelos outros condóminos, mas raramente vejo lá alguém.
Estico-me todo até doer cada órgão, cada membro do meu corpo. Tento romper todos os bloqueios, alinhar-me, o meu cérebro é uma folha de papel riscada por uma criança. Centenas de riscos pretos em todas as direcções, novelos de linhas, ziguezagues sobrepostos. Tento fechar as gavetas mentais que não interessam, mas no momento seguinte os fantasmas voltam a abri-las.
A morrinha da manhã alivia um pouco a coisa. Tento focar-me no presente como agora é moda fazê-lo. E o que é o Presente? Uma pandemia, o presente do universo para recalibrar a nossa espécie. Milhares de mortes "and still counting".
Penso na velhice. Esta semana notei que tinha vários pontos vermelhos nos braços e no tronco. Não existiam no mês passado. Sabem do que estou a falar? Há quem diga que são marcas de karma, uma manifestação do sobrenatural no corpo. Fazer projecções do espírito é muito fácil para mim. Quero acreditar em algo.
O meu toddler chama-me de dentro da casa, chama-me para a realidade. Está em modo permanente de "Appetite for destruction". Ou "A petit for destruction" A eloquência dos seus gritos comove-me até aos nervos. Nervos, leram bem. Não deve ser nada fácil para ele também. Piso em legos e puzles espalhados por todo o lado e multiplico "caralhos" pela casa fora.
"Sou um sortudo, apesar de tudo", penso.
Nem todos têm o privilégio de ter um espaço exterior como este. Do outro lado das divisórias de vidro, estende-se um espaço verde que pode ser frequentado pelos outros condóminos, mas raramente vejo lá alguém.
Estico-me todo até doer cada órgão, cada membro do meu corpo. Tento romper todos os bloqueios, alinhar-me, o meu cérebro é uma folha de papel riscada por uma criança. Centenas de riscos pretos em todas as direcções, novelos de linhas, ziguezagues sobrepostos. Tento fechar as gavetas mentais que não interessam, mas no momento seguinte os fantasmas voltam a abri-las.
A morrinha da manhã alivia um pouco a coisa. Tento focar-me no presente como agora é moda fazê-lo. E o que é o Presente? Uma pandemia, o presente do universo para recalibrar a nossa espécie. Milhares de mortes "and still counting".
Penso na velhice. Esta semana notei que tinha vários pontos vermelhos nos braços e no tronco. Não existiam no mês passado. Sabem do que estou a falar? Há quem diga que são marcas de karma, uma manifestação do sobrenatural no corpo. Fazer projecções do espírito é muito fácil para mim. Quero acreditar em algo.
O meu toddler chama-me de dentro da casa, chama-me para a realidade. Está em modo permanente de "Appetite for destruction". Ou "A petit for destruction" A eloquência dos seus gritos comove-me até aos nervos. Nervos, leram bem. Não deve ser nada fácil para ele também. Piso em legos e puzles espalhados por todo o lado e multiplico "caralhos" pela casa fora.
Vou à janela da frente para ver se a jovem do 2º do prédio oposto já está na varanda. É um relógio. Às 11:00, senta-se num cadeirão de vime tipo "Emmanuelle" e lê um tablet. Tem um corpo de quem pratica "Total condicionamento" ou "Spartans". Às vezes, tem a companhia de uma amiga que está quase sempre de máscara. Hoje não está lá ninguém. A morrinha, claro.
Penso e repenso.
"Sou um sortudo, apesar de tudo."