quarta-feira, junho 11, 2008

Pequei terrivelmente e rebolei para a varanda minúscula onde a juba da lua me encorajou a grunhir como um mabeco com cio, mais ou menos como uma mãe carnuda com o seio desnudo que estala e põe a sua prole imediatamente em silêncio. O marido não vai a casa há dois dias. Por cada traição...desengane-se. Já está? Não vou narrar uma historieta diáfana de adultério: este homem recto, digno, com rugas de quase meia idade, expele fragmentos minúsculos de grão de bico acobreado pelo canto do olho quando se sente ameaçado ou quando o fazem sorrir contrafeito. Poderia conhecer também a minha vizinha de cima de pele macilenta e expressão predial muito característica das vizinhas de 4º andar. A Okinaua (não sei o seu nome, por isso baptizei-a de Okinaua, é um nome tão bom como outro qualquer) deu-me uma violenta chicotada quando nos cruzamos nas escadas, na manhã seguinte. Empinou-se três degraus acima e com o dedo indicador em riste disse:
- O senhor é essencialmente um tolo em estado semi-gasoso. Não torne a repetir a gracinha. Ai não volta não. Compre uma palmeira e roce-se no tronco se quiser, mas nada de urros a altas horas. Vá pegue lá.
E ofereceu-me duas cerejas envernizadas que mais pareciam dois grandes melões cor de cereja envernizada. Vou guardar os caroços no bolso do casaco para me lembrar deste dia.