terça-feira, julho 12, 2005

Um Velho


Goya

No café no lugar de dentro na zoeira turva
senta-se um velho na mesa se curva;
com um jornal diante dele, sem companhia.

E no desdém da velhice miserável
pensa como usou tão pouco o tempo deleitável
em que força, e eloquência, e beleza possuía.

Sabe que envelheceu muito; sente-o, é visível.
E contudo o tempo em que era novo ao mesmo nível
do de ontem. Que espaço apressado, que espaço apressado.

E considera como burlava dele a Prudência;
e como nela tinha confiança sempre - que demência! -
a perjura que dizia: «Amanhã. O tempo é demorado».

Lembra-se de impulsos a que punha freio; e sem medida
a alegria que sacrificava. Cada história perdida
agora troça da sua desmiolada sageza.

. . . . Mas do muito que foi pensando e não esquece
o velho atordoou-se. E adormece
no café apoiado sobre a mesa.


Konstandinos Kavafis
POEMAS E PROSAS
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis
Relógio d´Água