quarta-feira, julho 13, 2005

O arauto

Sempre me fascinaram as pregas que se formam nas pontas dos dedos depois de um banho quente. As horas!14:45h. Enquanto me secava à pressa, ouvi aquilo que parecia ser um relinchar. Já estava acordado há mais de uma hora, por isso não podia estar a sonhar. O som parecia vir da minha banheira. Outra vez. Afastei o cortinado a medo e qual não foi o meu espanto ao ver um robusto garanhão a sorrir para mim, dentro da minha própria banheira.
Deixei cair o toalhão e fiquei petrificado a olhar para aquela criatura que não parava de mostrar a saudável dentadura. Possuía uma crina majestosa e tinha o pêlo castanho muito bem tratado.
Fechei o cortinado com alguma violência, apoiei-me sobre o lavatório e vi o meu olhar esgazeado no espelho baço, cheio de vapor.
Ainda não me tinha recomposto, quando ecoou uma trombeta por toda a casa. A porta da casa-de-banho abre-se atrás de mim e eis que irrompe a figura de um arauto vestido a preceito. Avançou, imperturbável, parou, subiu para cima da sanita e anuncia num tom solene e empolado que tem como missão arrancar a minha maçã de Adão e cortar os meus dedos para bem das gentes deste reino.
Vou chegar atrasado ao trabalho. Outra vez.