quarta-feira, junho 17, 2015

A insídia católica

A enfermeira pergunta à recém-acamada qual é a sua religião. A mulher deu entrada há coisa de quinze minutos, os olhos são de um verde indeciso, seria muito difícil acertar no pantone daquele verde, é jovem e a cair para o forte, usa um buço que lembra a pele de um pêssego maduro. Já forneceu quase todos os dados, às vezes parece que fala suomi ou uma língua eslava qualquer, como é que ela conseguiu trepar a Muralha? Já tem o tubo do soro enfiado no pulso da mão direita, a mão esquerda não larga um grande molho de chaves que devem abrir todas as portas da sua aldeia. A enfermeira, de baixa estatura mas muito solícita, repete a pergunta.
"Portuguesa."
"Não, a sua religião."
"...acho que é portuguesa."
"Posso pôr católica?"
"Sim, acho que sim."