segunda-feira, junho 29, 2015

O goulash

Hoje é dia de São Pedro e por isso decidi ir a São Pedro da Cova almoçar. Mandei vir o famoso "goulash" à moda de São Pedro da Cova de que toda a gente fala. O guisado tinha sido afogado numa espécie de molho de cor antracite. O único funcionário da Casa Macedo poderia ser irmão gémeo do R. Quaresma, não fossem os óculos e o bigode à J. Joyce. Apenas três mesas estavam ocupadas, o empregado aproveitava todas as pausas no serviço para escrevinhar numa imitação de Moleskine.

"Hoje, forasteiro de ar pretenciosamente misterioso, blusão Levi's
genuinamente gasto, goulash & verde tinto. Demasiado polido para o
padrão local. Julga que sabe tudo sobre nós, mas não sabe. Deixa ficar
metade da comida do prato. "Café curtinho", gorjeta de cinquenta cêntimos. Que
odioso, que miserável. Não pede factura com NIF, oh que magnânimo!
Despede-se como se voltasse cá amanhã. Mas quem é que
ele pensa que é, este suburbano? Aí vai ele no seu comercial branco para o
seu T1+1 em Valbom ou no cu de judas onde ele mora. Mas que miserável
tão miserável, o paladino dos miseráveis, aí vai ele."

quarta-feira, junho 24, 2015

segunda-feira, junho 22, 2015

LDS Church



Quando li a primeira vez, pensei que a sigla estava mal escrita. Tal como a maioria (pensei logo em LSD que pode significar Least Significant Differences ou Lucky Strike Devils).
Às vezes adoro o meu trabalho.

É assim que acaba

O pasteleiro aparece atrás do balcão com um belíssimo bolo branco e pergunta à dona "o que é para pôr". Ela agarra-o pela braço, encaminha-o para a parte de trás do café como que se tivesse vergonha do pasteleiro. Dou o meu primeiro gole de café para conseguir ouvir a conversa.
"O bolo tem de ser azul e com muitas estrelinhas, a miúda adora estrelinhas."
"Sim, mas quantas?"
"Doze...assim em círculo, 'tás a ver?"
Naquele momento, Tsipras enche a televisão pendurada num canto e começa a falar, parece muito sério. Não dá para ouvir nada, o som está cortado. Ainda tenho um restinho de café no fundo da chávena, agito-o e dou o meu último gole. A mulher atende o telefone e aperta a cana do nariz com o indicador e o polegar. Corre atrás do balcão, abre a porta de vai-e-vém e berra lá para dentro.
"Afinal, são onze estrelinhas."

sexta-feira, junho 19, 2015

quarta-feira, junho 17, 2015

A bicicleta

Comecei a ler "O Homem Lento" do Coetzee no dia em que comprei a bicicleta. No "Homem Lento", o protagonista perdeu uma perna num acidente de bicicleta, gosto sempre de me preparar para o pior. Coetzee quer dizer "de Kocz", Kocz é uma cidade que fica no norte da Hungria. A bicicleta é amarela, tem um autocolante a dizer Rally no quadro, tem mudanças Shimano (!), trava mal, mas custou-me apenas trinta euricos (usada). E agora, preparem-se: o Porto não é Amesterdão, nem Gaia é Haarlem. Espumo-me e suo como um cavalo, mas que coça que eu levo quando pego na minha Rally, é bem feito para mim, confiei em excesso nas minhas pernas, assoberbei a nossa topografia.

A insídia católica

A enfermeira pergunta à recém-acamada qual é a sua religião. A mulher deu entrada há coisa de quinze minutos, os olhos são de um verde indeciso, seria muito difícil acertar no pantone daquele verde, é jovem e a cair para o forte, usa um buço que lembra a pele de um pêssego maduro. Já forneceu quase todos os dados, às vezes parece que fala suomi ou uma língua eslava qualquer, como é que ela conseguiu trepar a Muralha? Já tem o tubo do soro enfiado no pulso da mão direita, a mão esquerda não larga um grande molho de chaves que devem abrir todas as portas da sua aldeia. A enfermeira, de baixa estatura mas muito solícita, repete a pergunta.
"Portuguesa."
"Não, a sua religião."
"...acho que é portuguesa."
"Posso pôr católica?"
"Sim, acho que sim."

segunda-feira, junho 15, 2015

O escritor


O escritor molha os lábios enquanto lê o rótulo da composição química colado na garrafa de plástico. A carta está pousada sobre a sua fiel Corona que comprou há muitos anos na feira da ladra. Rasga o envelope com um abre-envelopes com o brasão de armas do Egipto e começa a ler em voz alta:

"Queremos antes de mais agradecer a confiança que depositou na nossa editora ao apresentar-nos o seu original.
Após análise do mesmo, cumpre-nos informar que entendemos não proceder à sua publicação,(...), o que em nada afecta a qualidade e o mérito do seu texto
."

Era o seu terceiro romance, o mais bem conseguido até à data. O escritor torna a encher o copo e pega na garrafa para acabar de ler a composição química da água que está a beber. O escritor acende o cachimbo electrónico e diz:
Agora posso escrever. Agora posso simplesmente escrever.”

sexta-feira, junho 12, 2015

co-thinking

Ah trabalhar outra vez com seres humanos.
Pensar duas vezes
antes de enfiar lascivamente
o dedo no nariz;
pensar duas vezes
antes de tirar fios de laranja
presos entre os dentes;
pensar duas vezes
antes de remover cotão do umbigo
(ou de outra parte anatómica qualquer).

Tal como diria o infame Gary Glitter:
"Hello, hello, it's good to be back".

terça-feira, junho 09, 2015

























Mais palavras intraduzíveis (os japoneses e os alemães abusam um pouco), aqui.

sexta-feira, junho 05, 2015




















You wanna be like Errol Flynn
Captain Blood was a whore
You wanna be like Gary Cooper
High on a horse
You wanna be like Lorne Chaney
Howlin´ at the moon
You wanna be like Baby Glass
Give me a kiss too soon, yeah


Timothy Taylor

quinta-feira, junho 04, 2015

Já faltou mais para ter tuiter (II)

@pedroeoroubo
Ancelotti no melhor clube do mundo, Boavista.
Mais do que confirmado.

quarta-feira, junho 03, 2015

Ah o Primavera

Ariel Pink e Electric Wizard (e talvez os Spiritualized se tiverem num dia bom).
O resto é para encher chouriços.

Joseph Blatter

Joseph Blatter é o oitavo filho de uma humilde família de Rajshahi, Bangladesh. O seu pai era um hábil tecelão que ao cabo de muitos anos de ofício conseguiu tecer fios da água no velho tear que herdara do seu pai. Vinham pessoas do locais longínquos como o Botão Butão ou Myanmar para comprar os seus belíssimos tecidos e urdiduras de água. A sua mãe chamava-se গৃহিনী que em bengali significa Doméstica. Quando Joseph fez um ano, Doméstica resolveu consultar um adivinho para saber qual seria o destino do seu filho. O adivinho era um homem de muitas posses e tinha a seu cargo um jardineiro que, no dia anterior, lançou linhas de cal sobre o jardim que era gabado e cobiçado por todos na cidade. O jardineiro já tinha alertado o seu patrão que se este não pagasse aquilo que lhe devia, iria fazer algo ruim ao seu jardim. Na verdade, o jardineiro era um homem estóico e estava a ficar cego, mas não teve coragem de confessar isto ao seu patrão com receio de perder o emprego. Quando Doméstica se sentou com o bebé Joseph Blatter à frente do adivinho, a cabeça do vidente estava pantanosa e o seu coração estava muito pesaroso, e profetizou que aquela criança iria ter uma vida longa mas cheia de dor e canseiras, com muita gente a desejar-lhe mal, como um longo rio barrento cheio de entulho e troncos rachados. O adivinho aconselhou ainda que Joseph deveria dormir sempre em beliches de pinho e, de preferência, na cama de cima.