quarta-feira, outubro 29, 2008
O lagarto embalsamado
O fiacre pára subitamente na velha rua molhada. Os arredores e as pessoas que aí vivem estão condenados a serem sujos e feios. Os cavalos relincham estorvados. O suor escorre pela fronte do cocheiro como se as águas lhe tivessem rebentado. Atrás estão duas mulheres. A do vestido de tafetá púrpura limpa os lábios com um lenço de renda enquanto lança um olhar vicioso à mais nova que puxa as meias e arranja a crinolina. A rua está deserta. De repente, o cocheiro cai fulminado para o lado. Ouve-se um choro sufocado de um bebé que parece vir das traseiras. Uma das mulheres abre lentamente a porta do fiacre e desce com um frasco debaixo do braço. O lagarto embalsamado do frasco parece sorrir.