sexta-feira, janeiro 12, 2007

Catamarã
















Rothko


Fiz uma cruz com giz
no sítio onde te deves sentar.
Podes compensar a tua ausência
com o teu peito quente e cobiçado
o teu enfado é a minha medida:
Trouxeste a escova de dentes?

Guio-me pela estrela
Que paira sob a tua cabeça.
Mal viro as costas
fazes caretas
rodas o colar de pérolas
que o velho te deu.

O teu pai era um homem bom
sofria de prisão de ventre
mas foi o mar que o levou.
Tinha grandes buracos negros
em vez de olhos,
era hábil com as mãos
e fiel devoto da Virgem.

Dás nomes às gaivotas
e segredas-lhes uma melodia.
Vejo Neptuno ao longe
a acenar com o tridente.
Caímos os dois no velho engodo,
qual Ciência da Navegação?

Antecipo-me a ti
e pego na garrafa.
Cobres-te com o poncho negro,
fechas os olhos salgados.

Digo-te agora aquilo
que nunca te disse antes.