sexta-feira, novembro 14, 2025

Eu e Gulliver

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poderá ser fácil para o caro leitor, mas não consigo saber onde começa a minha consciência e onde termina o meu pensamento, ou, pior ainda, o que é matéria de consciência e o que é matéria de pensamento? Partimos sempre do pressuposto que é a consciência que observa o pensamento, mas como é que isto funciona? De onde vem esta coisa chamada Consciência? 

Sei também que poderia passar o meu tempo a pensar - lá está - em coisas menos abstractas ou aborrecidas. Deveria aprender algo prático, como pintar azulejos "majólica" ou aprender grego antigo; ou até algo com uma aplicação mais prática como extrair biomassa a partir das fezes da minha gata Leya.

Mas não; o meu cérebro pródigo dá-me para isto quando tenho picos de ansiedade causados por esta ou aquela coisa.

Em boa verdade, sinto-me como Gulliver quando chegou a Lilliput ou a Brobdingnag.

Tenho em muito boa conta o nível literário dos meus caros leitores, mas seja como for, aqui fica a explicação em traços muito gerais: Gulliver era uma viajante cujo barco naufragou e que nada até Lilliput, onde é considerado um gigante; já em Brobdingnag, é considerado uma pessoa minúscula.  

Eu tendo a pensar que tal como nessa história de J. Swift, a minha Consciência é um náufrago chamado Gulliver que nada até à costa para sobreviver. Depois, ela encontra pensamentos que poderão ser os habitantes de Lilliput ou de Brobdingnag, dependendo do estado mental ou emocional que esse naufrágio me causou.

(Eu sei, caro leitor, que isto poderá ser confuso e desprovido de sentido, mas se aguentou até agora, pode muito ir até ao fim que já está ao dobrar da esquina).   

Normalmente, vejo os chamados pensamentos positivos como os habitantes de Lilliput: muito minúsculos, com menos de 15 centímetros de altura, tenho muito cuidado para não os pisar. Mais cedo ou mais tarde, tal como no romance de Swift, vou ser acusado de traição por parte dos minúsculos habitantes por um ou outro motivo e vejo-me a fugir desta ilha onde tinha tudo para ser feliz.

Já quando estou em Brobdingnag, os habitantes gigantes revelam-se ser os meus pensamentos negativos ou repetitivos. São enormes, com 20 metros de altura, e ficam agressivos quando os confronto ou relato algo que não gostam.

A questão aqui é que tal como Lemuel Gulliver, procuro sempre novas aventuras, novos desafios, lanço-me sempre ao mar, porque cansa-me a vida em terra. Embora não pareça, tenho aquilo que se chama um espírito indomável.