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domingo, fevereiro 04, 2018
O Monte Atos
O Monte Atos. A montanha é a ponte que
pode unir a Terra e o Céu. Ao contemplarmos o seu cume do sopé, desejamos subir
até ele, desejamos fazer essa travessia vertical, porque achamos que iremos
estar mais perto da Eternidade. E quando o homem atinge por fim o cume, a
divindade revela-se ao homem. Abraão levou o seu filho Isaque ao Monte Moriá
para ser sacrificado. No último momento, um anjo aparece e impede que o pai
mate o filho: Abraão passou no teste de Fé. Foi também no pico do Monte Sinai
que Moisés recebeu as Tábuas da Lei com os Dez Mandamentos escritos pelo dedo
do próprio Deus; Jesus subiu várias vezes ao Monte das Oliveiras para orar e
pregar levando consigo os apóstolos; e finalmente "carregando Ele mesmo a
sua cruz, saiu para o assim chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz
Gólgota."; a Santíssima Trindade é representada, muitas vezes, sob a forma
de triângulo equilátero que lembra a forma de uma montanha. O Monte Olimpo, ali
"ao lado", trono dos titãs e dos deuses do panteão grego. O Monte
Kailash nos Himalaias onde mora Shiva e onde as pedras rezam. Machu Picchu, a
cidade perdida dos Incas. O Monte Atos e os seus imponentes mosteiros, os seus
anacoretas que vivem isolados do mundo para estarem mais próximos de Deus.
O misterioso Monte Atos, a
"Montanha Santa", ou ainda o "Jardim dos Virgens", onde
está vedada a entrada a qualquer representante do sexo feminino, seja mulher,
cadela, gata, égua, capivara, etc.* Esta lei é o avanton e diz que a Montanha Sagrada de terra não pode ser
profanada com a presença do género feminino: "que o seu acasalamento não
forneça um espectáculo bizarro para as almas que detestam todas as formas de
indecência".
* Não, leitora, não estou a espicaçá-la, o meu bolbo raquidiano é frágil, não dá
para mais, apenas controla o momento em que devo mastigar e o momento em que
devo chorar e agora sei que não me apetece chorar, porque não quero que me
chame de misógino. Amo todas as mulheres deste mundo.
Porcos
No
"meu tempo de mortal", propus uma solução para acabar com a fome em
França, chamaram-me de louco. Não quero que me chamem de louco outra vez. Nunca
ninguém me chamou de louco na cara, mas eu sabia o que diziam nas minhas
costas. Foi poucos anos antes de "morrer".
A partir dos 35 anos, tive
de fazer de conta que estava a envelhecer. As pessoas desconfiam se não mostrarmos sinais de velhice. As pessoas
são muito desconfiadas. Para acabar com a fome em França naquela altura, sugeri
a criação maciça de porcos. A solução estava no porco. O porco é um animal que
tem uma enorme fecundidade, tal como os coelhos. Inspirei-me em parte no
"Liber Abaci" do grande Fibonacci. Mas o coelho é um animal de
pequeno porte, não resolveria os problemas de quase vinte milhões de franceses
no século XVII. Quando me retirei quase à força da minha vida profissional,
resolvi escrever as minhas "memórias" e estudar a res publica. Um desses estudos foi
consagrado ao porco.
O porco é um animal grande e extremamente fecundo. Uma
única porca pode gerar ao longo de dez gerações — graças às porcas descendentes
— mais de seis milhões de porcos. Suponhamos que uma porca no segundo ano de
vida tem um parto de 6 leitões, 3 machos e 3 fêmeas. Para chegar a este número
impressionante, não preciso dos machos — ficam então as 3 fêmeas. No terceiro
ano que corresponde à segunda geração, a porca-mãe tem 2 partos e cada uma das
3 filhas da primeira geração têm 3 leitões. Total: 5 partos compostos cada um
por três fêmeas, perfazendo um total de 15 fêmeas. No quarto ano, a porca mãe —
já avó — tem 2 partos. As 3 filhas da primeira geração têm dois partos cada
uma, o que vem a ser 6 por cada filha; as filhas da segunda geração têm cada
uma ninhada, 15. Total: 23 partos, o que dá uma média de 3 fêmeas por cada
ninhada, somando um total de 69 fêmeas. Continuando com este cálculo, vamos
admitir que, no sétimo ano, a porca mãe deixa de ser fértil. No oitavo ano,
vamos excluir a produção das 3 primeiras filhas da porca mãe. No nono ano,
suprime-se do número das fecundas as 69 bisnetas, descendentes de 3ª geração.
No décimo primeiro ano, que corresponde à 10ª geração, saem 321 tetranetas. O
resultado das 10 gerações é de 1 072 473 partos que, à média de 3
fêmeas cada um, totalizam na décima geração 3 217 419 fêmeas. Não
vamos considerar os machos, embora suponho que sejam tantos como as fêmeas.
Todos os partos foram calculados igualmente em 6 leitões cada um (machos e
fêmeas), quando, em condições normais, são mais numerosos. A produção de uma só
porca ao fim de dez gerações, dar-nos-ia 6 434 838 bacorinhos, não
incluindo 434 838 por doenças, acidentes e obteremos um total de 6 milhões
de porcos.
sexta-feira, fevereiro 02, 2018
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