sábado, dezembro 30, 2017

Os meus três sobrinhos




Tenho três sobrinhos que vêm visitar-me todos os dias. São apenas miúdos, mas houve uma altura que não os suportava. Custa-me falar assim de crianças, mas é uma libertação incrível poder afirmar isto. Sim, confesso, odiava-os, não os suportava. Quando se juntavam, eram capazes de coisas terríveis, coisas que não lembram ao diabo. No início, tinha medo, entrava em pânico, sentia-me quase obrigado a abrir a porta. Se não o fizesse,  passavam todo o santo dia a tocar à campainha ou a dar pontapés na porta. Quando finalmente cedia, quando lá os deixava entrar, destruíam tudo. A casa ficava num caos. Tentava entretê-los, alinhava nas brincadeiras deles, mas chegava ao fim do dia exausto. Se os ignorasse, berravam como porcos no matadouro. Um inferno. Os putos estavam possuídos. Cheguei a ir à bruxa, confesso. De nada valeu. Quase que tinha um esgotamento, cheguei a temer pela minha vida. A sério.
"Porra, que gajo tão fraco, deveria ser comigo. Como é que três chabalos podem ser tão pestes, não tens pulso neles? E um par de estalos, não?"
Vocês definitivamente não conhecem os meus sobrinhos. Às vezes, dava comigo a pensar que eram pequenos psicopatas de tão retorcidos que eram, mas a verdade é que não passam de crianças. E as crianças devem ser amadas. Incondicionalmente. Resolvi aceitá-los tais como eram, abraçá-los, dar-lhes todo o meu amor. Foi um processo lento, mas está a dar os seus frutos. Deveriam vê-los agora. Parecem três anjinhos.