terça-feira, outubro 17, 2017

Versalhes de dor


Quando um pensamento parasita invade a nossa mente e acolhémo-lo como se fosse uma membro da Realeza, isto é, estendemos um tapete vermelho, fazemos vénias até ficarmos curvados ao nível do chão (sem darmos conta), etc, esse bastardo real tende a ficar, porque gosta de ser mimado e deslumbrado pelos motivos mais ilusórios e mais errados. O pensamento não tem de fazer nada, basta adorá-lo como se fosse o Menino. E depois traz consigo uma corte de pensamentos parasitas como ele. Uma Versalhes de dor e sofrimento. Um séquito de dúvida e de medo. Ficamos siderados pelo seu "poder", porque, muito simplesmente, estamos frágeis, estamos cá em baixo.

Um pensamento deste tipo só pode governar se houver povo para governar. Sozinho não tem muito poder. 

O problema é quando esse povo não sabe viver doutro modo. Fica aconchegadinho à dor. 
"Hmm que bom, dor. Já te conheço, és-me familiar, és a minha rainha, para o bem e para o mal."

Eventualmente, o povo irá fartar-se de tanto se empanturrar com tamanha dor. Chafurda no fosso do Inconsciente para tentar conquistar o castelo. Fica obstipado e aquilo tem de sair por algum lado. Pode durar algum tempito. Algumas escaramuças angustiantes pelo meio, algumas tentativas de depor o poder opressor que reage sem clemência, alguns ataques de pânico e dissociações.

No fim, dá-se a Grande Revolução. Por incrível que pareça, poderá haver ajuda espiritual. Camadas de raiva e de pura fúria irão escorrer por dentro e fora do corpo. Algumas cabeças irão rolar (no bom sentido). Aquilo que foi recalcado durante tanto tempo tem de vir cá para fora, regurgitado. O povo está a subir de frequência, a reclamar consciência. Melhor do que o Medo e a Apatia. O pensamento parasita, que não passa de um mercenário enviado por Id, o Primitivo, ainda irá estrebuchar para tentar manter-se no trono, mas os dados já foram lançados, alea jacta est*.

* um apontamentozinho de Latim para tornar o texto mais trabalhado, mais verosímil.