quinta-feira, setembro 03, 2015

No café

"O tempo não espera por ninguém", disse a senhora do café para a cliente no balcão enquanto pincelava a minha torrada.
"Desculpe, disse muita ou pouca manteiga", perguntou-me, olhando-me de viés de esguelha.
"Pouca, pouca".
O jornal do café estava ocupado por um velho tuberculoso. Comecei a escrever um verso sobre a dona do café no meu bloco do continente. Era assim:

Matteo, Rita de Cássia e Mia não abriram a boca

Quando pousou a torrada e a meia de leite ("escurinha") na mesa, a senhora leu o meu verso. Revirou-me os olhos e abanou a cabeça enquanto regressava ao balcão, não gostava que escrevessem sobre ela.
Risquei o verso várias vezes, envergonhado. Um nado-morto, mais um.