sexta-feira, dezembro 12, 2014

O porco

O meu vizinho que mora no R/C do prédio da frente tem um porco-preto num pátio que é relativamente grande. O porco é um agente de destruição: roupa a secar, vasos, sacos de ração, bolas de futebol, mangueira, nada lhe escapa, ele fuça tudo, conspurca, espalha tudo o que pode pelo pátio. Este porquinho é um animal solitário, os donos só chegam à noite e, para além do porco, têm um cãozito, um arraçado de maltês, que está sempre metido dentro em casa e que o porco ignora imperialmente quando o outro resolve vir para o pátio ladrar-lhe. Às vezes, parece que tenho uma siderurgia ao lado de casa, é o porco a passear um velho grelhador pelo pátio, vira-o, arrasta-o, cheira-o, faz trinta por uma linha com o grelhador. Hoje, o porco acordou tarde, tem estado um frio de rachar. Quando voltei a olhar pela janela, apanhei-o a tentar acasalar com o velho grelhador. O grelhador está meio enferrujado mas acho que por agora enche as medidas ao porco. Estiveram mais de meia hora naquilo e, quando acabaram, o grelhador ficou de pernas ao alto, exausto, e o porco espraiou-se num pufe coçado em forma de uns lábios carnudos gigantes.
Não sei o que os donos tencionam fazer com o porco, não faço ideia se o animal terá um fim comestível, mas não deixa de ser irónico ver o animal a tentar f*der aquilo que é, ao fim e ao cabo, um instrumento post-mortem para os da sua espécie.
Amanhã darei mais updates sobre o porco.