terça-feira, janeiro 24, 2012

Braille e os novelos de lã



Braille, nessa altura, dedicava-se a fazer novelos de lã para fora e era realmente bom nesse ofício. Tinha uma longa fila de clientes à porta logo de manhã, e alguns vinham de muito longe. Sempre fora muito metódico e gostava de dar um toque dramático a tudo aquilo que fazia. Antes de começar a enrolar, punha bastante pó-de-arroz na cara e pintava-se ao jeito dos oonagata, os actores de kabuki. Dizia-se que a cabeleira postiça que usava tinha sido feita com cabelos de Napoleão. De Napoleão! Quem podia confirmar se isto era verdade ou não?
Ao longo da "novelada" que se desenrolava na sua sala de visitas, Braille fazia movimentos que intercalavam entre o abrupto e o gracioso para grande rejubilo do cliente e de Sklerós, seu assistente. Os clientes saiam quase sempre muito satisfeitos. Quando não gostava de determinado cliente, não o recusava: entrava em cena normalmente, mas depois permanecia imóvel durante longos minutos com uma expressão inusitada e com meio novelo na mão. O cliente mais cedo ou mais tarde acabaria por ceder. Sklerós pousava então a malha por enrolar e indicava gentilmente a saída ao infeliz.