quarta-feira, novembro 23, 2011

O camionista


Encostou o camião e saiu da cabina como se estivesse com o rabo a arder. Levou as duas mãos à barriga e desceu a vala que separava a via dos campos. Encheu o peito de estrume e tirou o maço de tabaco que estava no bolso da camisa. Pôs-se a olhar para as vacas e para os vitelos que de vez em quando rodavam a cabeça e agitavam a cauda. O fumo do cigarro subia a direito, não havia ponta de vento. Voltou a encher o peito de estrume. Estava no meio da Estremadura espanhola. Agachou-se como um aborígene e pegou com os dedos num tractor que rasgava a terra ao longe. Sentiu o sol do Outono a acaraciar-lhe o rosto e fechou os olhos. Pensou como seria ser enterrado ali num dia bonito como o de hoje. Atirou a beata e cuspiu em cima de um rebento.
- Não me dou com gente.
Saltou a vala e entrou no camião. Uma carrinha branca passa por ele a grande velocidade e buzina duas vezes. Agarra o volante e olha para debaixo do tablier. O cão moribundo olha para ele. Roda a chave e o arranque do motor faz tremer a cabina. O tapete está coberto de sangue.