quarta-feira, fevereiro 09, 2011
A partida de ténis
Harpo convidou-me treze vezes para assistir a uma partida de ténis. Acedi à décima quarta, porque nunca se sabe. Eram os quartos de final da mediática taça Davy Byrnes e ele não queria perder por nada deste mundo. Lá fomos. Estava a nevar ursos polares. As bancadas estavam ocupadas pela metade. A maioria era composta pelos chamados Incondicionais que se preparavam para a partida, rodando as cabeças ora para a esquerda ora para direita. Reparei que o sub-comissionário que me seguia há três meses estava na bancada oposta. O maníaco achava que eu estava por detrás de uma rede de tráfego de mulheres mongóis. Pelos vistos, o sr. sub-comissionário tem uma costeleta mongol por parte de um avô que o fez jurar defender sempre o seu "povo". Quando entraram os jogadores, aplaudi-os de pé, esgazeando o meu olhar no dele. Ele sorriu a crédito mal parado. O jogo começa. Harpo deixava escapar risadinhas sempre que os jogadores faziam Ases, batendo-me insistentemente no joelho. Deu-me vontade de ir ao WC. Ando a beber muito chá de rooibos, alguém me disse que fazia bem ao hipotálamo. Bati um recorde qualquer, sete minutos sem gotejar, já não vertia assim desde que o nosso amado rei ganhou as últimas eleições . Quando regressei, quase todos se tinham ido embora. A partida prosseguia, mas o árbitro estava com a cara coberta de sangue. O que será que tinha acontecido? Os apanha-bolas e o sub-comissionário (não arredou pé o maníaco) estavam congelados nos respectivos lugares. Quando me virei para trás, Harpo ainda se encontrava no seu lugar e estava a tocar o seu instrumento debaixo de flocos de neve que caíam graciosamente ao som da melodia. Creio não andar muito longe da verdade quando afirmo que foi a coisa mais bonita que vi até hoje.