sexta-feira, outubro 19, 2007

A Vaca



uma vaca
distinta
e sagrada
passeia
hindulente
pela Rua das Flores
bebe águas furtadas
e rumina ferro forjado
das varandas
do nascer
ao pôr-do-sol

não se sente à vontade
com a líbido
dos alfarrabistas
que a desejam
mais do que a
história da tauromaquia
do ribatejo,
lombada em pele,
Gráfica Portuguesa, 1948

não me atrevo
a tocá-la
digere
ainda tísicos
e tóxicos
que regurgita
com alguma
sofreguidão

a vaca morre
com a cidade
a altas horas
e ressuscita
no dia seguinte:
o super-herói local
já na casa dos 40
sente-se impotente
e não sabe o que fazer
o super-herói local
parece uma velha duquesa
falida

mas sorridente