quarta-feira, novembro 01, 2006

54-30-IN

A garagem estava vazia, meio iluminada. Sentia-me exausto, não tinha forças para subir as escadas e o elevador estava avariado (para não variar). Compreendo as corujas e os morcegos, a penumbra é aconchegante. Dei-me conta que estava a tentar decifrar a matrícula do meu carro. Outra vez. É um jogo que faço desde os tempos do ciclo e que agora raia a obsessão. Mas também pode ser um exercício de purga mental, de eliminação dos ficheiros da reciclagem. É claro que nunca ficam eliminados definitivamente, ficam ocultos para mais tarde recordar. Apaguei a ponta do cigarro, por pouco queimava os dedos. Normalmente, não fumo em dias úteis, mas apeteceu-me acender um, ali. Encostei-me no carro e comecei a bater timidamente com o pé no chão. Levantou-se uma pequena nuvem de pó que ganhou forma sob a luz escura. Nada. Absolutamente nada. De repente, o silêncio é interrompido pelo ruído do mecanismo do portão da garagem. A quietude do local é profanada pelas luzes dos faróis e pelo motor do carro de algum vizinho. Pego nas minhas coisas, fecho o carro, ganho coragem e dirijo-me para as escadas.
54-30-IN intermitente na cabeça.