Italo Calvino compôs a trilogia O Visconde Cortado ao Meio, O Barão Trepador e Cavaleiro Inexistente. É legítimo afirmar aqui, neste espaço público, que estas personagens habitaram sempre em mim. Às vezes uma de cada vez, às vezes as três ao mesmo tempo. Quando digo "habitaram" não estou a usar uma figura de estilo, é mesmo assim, insidiaram-se e fui sendo obrigado a viver com elas ao ponto de não ser saber onde elas começam ou onde é que eu termino. Talvez o meu favorito seja O Barão Trepador.
Cosimo, um jovem nobre italiano do século XVIII, revolta-se contra a autoridade paterna, trepando para cima das árvores. Aí vai permanecer durante o resto da sua vida, adaptando-se eficazmente a uma existência arbórea – caça, semeia e colhe, joga vários jogos com amigos que têm os pés assentes na terra, combate incêndios florestais, resolve problemas de engenharia e até consegue manter casos amorosos. Do seu poleiro nas árvores, Cosimo vê passar os tempos de Voltaire e assiste à chegada do novo século.
Naturalmente, há esta necessidade de enraizar, de aterrar que eu tenho muita dificuldade em fazer (tal como o próprio Barão).