quinta-feira, maio 28, 2020

O Método

P: E segue algum método especial?
R: Quando as temperaturas sobem, repito sempre o mesmo comportamento de risco: vou à prateleira, pego no Bukowski, no Carver, no Saroyan, no Fante e releio as passagens sublinhadas ao longo destes anos. Durante três dias, é este o meu "binge", a minha obsessão. É engraçado que só faço isto, só aplico este método no Verão. Talvez por serem autores tão "viscerais", têm uma força animal que os impele, a todos eles, talvez seja por isso que só o faço quando o calor aperta.
P: E então escreve?
R: Depois, esgazeado por uma embriaguez de alto teor literário, tento escrever algo e, claro, espremo, espremo e nada se aproveita. Ainda assim, sou muito persistente, não..., qual é a palavra? Resiliente. É isso, sou muito resiliente. Risco a maior parte e ponho algumas passagens, algumas frases de molho para voltá-las a ler com olhos de ver dentro de onze dias.
P: Onze? Porquê onze?
R: O onze é um número mestre na numerologia, na geometria sagrada, etc. É o meu número da sorte também.
P: Que interessante. Mas e então? Passados esses onze dias aproveita alguma dessas frases?
R: Não. É claro que não.